“Sabe aquela história de que mulher no volante, o perigo é constante. Pois bem, nunca ouvi essa frase dos meus passageiros, que pode até parecer engraçadinha, mas é um tanto preconceituosa”, diz Elane dos Santos Santana, 37 anos, motorista de ônibus coletivos do sistema urbano de Rio Branco, desmistificando situações que tentam rebaixar o sexo feminino.
Na madrugada de quinta-feira (9), ContilNet acompanhou o trabalho da jovem profissional, na primeira corrida do dia, às 5 horas da manhã, a partir do terminal de passageiros da Universidade Federal do Acre.
Elane é uma das 10 motoristas contratadas pela empresa Ricco, a concessionária das linhas do transporte coletivo de Rio Branco, cuja rotina de trabalho é diferente de muitas profissões por aí.
“Aqui, o ônibus é o meu escritório, a mesa é o volante e o parabrisa, a tela do computador”, brinca ela, entusiasmada com o primeiro ‘balão’, de um total de cinco até o final da jornada, ao meio-dia. A paixão pelas seis rodas veio de ver o pai, Luciano Santana, dirigindo caminhão como funcionário do Governo do Estado do Acre. Ele já é falecido.
Mas para quem acha que o trabalho dela é fácil, aí vai o choque: Elane cuida também de várias partes do veículo, para que estas estejam em ordem, incluindo por exemplo, umas pancadinhas nos pneus com uma marreta de borracha, antes de sair para a primeira viagem do dia. Faz ainda a cobrança das passagens, passa o troco e auxilia os passageiros com necessidades especiais a subir na rampa de cadeirantes.
Não é bem como cantar, chupar cana e assobiar ao mesmo tempo porque no trânsito isso é impossível. No entanto, ela diz que tira de letra tudo. “Não tenho a menor dificuldade de fazer uma coisa de cada vez, é claro. Ou esqueceram que sou mulher e que mulheres administram muito bem várias tarefas?”, alfineta a macharada.
O esposo, Sandro Ferreira, 47 anos, a apoia. Vive dizendo aos quatro cantos que a esposa é “motora profissional. Que dirige melhor que muitos homens”.
O carinho dos passageiros
Frutas, picolés e até um litro de açaí são alguns dos mimos dos passageiros presenteados à jovem motorista no ato do embarque. “Eu acho o máximo quando alguém, humildemente, quer me agradar. É esse carinho que retribuo com o máximo de atenção, no trajeto de cada corrida, para que todos se desloquem da maneira mais tranquila possível”.
“Por isso, eu os considero pessoas muito especiais. Todo passageiro é importante. Do velhinho à criança. Da grávida ao deficiente físico. Do trabalhador ao estudante, todos sem exceção, são muito importantes, para mim e para a empresa”, ressalta.
E o futuro a aguarda com entusiasmo. “Quero mudar de categoria. Minha carteira é ‘D’, mas quero ‘E’, para conduzir carretas. Andar pelo Brasil fazendo o que mais adoro, essa é a minha meta”.
Elane finaliza, enviando uma foto pelo WhatsApp com a sobrinha, Maria Eduarda, de um ano e oito meses, para homenagear as mães. “Ainda não sou mãe. Mas já disse pra Madu que se não lhe der uma prima ou um primo, ela vai cuidar de mim quando estiver velhinha”.