No dia das crianças desaparecidas, delegada fala dados reveladores sobre esses casos no Acre; confira

Em 2023, foram registrados 119 casos de desaparecimentos de crianças e adolescentes acreanas

O menino norte-americano Etan Patz, desaparecido em 25 de maio de 1979, gerou uma onda de manifestações e lutas pela impunidade e falha de resultados em casos de crianças desaparecidas. Esta data, 25 de maio, ficou marcada, desde então, como o Dia Internacional das Crianças Desaparecidas. Mais tarde, também adotada por outros países como o Brasil.

Juliana de Angelis alerta “observe com quem os filhos estão conversando nas redes sociais com quem os filhos estão conversando”/Foto: Reprodução

No Acre, casos de desaparecimento de crianças e adolescentes são notórios, como, por exemplo, o do adolescente Fabrício Costa, na época com 16 anos. Para marcar a data, o ContilNet entrevista, neste sábado (25), Juliana de Angelis.

Ela é delegada da Polícia Civil, corregedora adjunta da Polícia Civil e representante institucional de políticas públicas para grupos vulneráveis e fala sobre os dados de casos assim no nosso estado e medidas de prevenção.

Estrutura para estes casos

Juliana detalha como a Polícia interage com casos deste tipo. A atual gestão da polícia civil, em âmbito nacional, está integrada e realiza constantes reuniões com o Ministério da Justiça e a Polícia Civil para implementar melhorias na investigação de desaparecimentos, especialmente de crianças.

Adolescente Fabrício Costa, na época com 16 anos, desaparecido há 14 anos/Foto: Reprodução

Ela revela que o delegado geral está projetando a criação de uma delegacia exclusiva para pessoas desaparecidas, pois, atualmente, o estado do Acre não possui uma especializada para estes casos.

No mais, as delegacias regionais são as responsáveis pelos casos de desaparecimento. Por exemplo, se uma criança foi vista pela última vez em um bairro específico, a delegacia daquela região irá apurar o desaparecimento. Porém, em qualquer delegacia pode ser efetuado o registro da ocorrência.

“Então, houve o desaparecimento da criança, pode registrar. Não tem aquela situação de ter que esperar 24 horas para registrar o desaparecimento, ele pode ser feito imediatamente. No momento do registro, levar o maior número de informações possíveis dessa criança: fotos, detalhes da criança de como ela estava no momento em que desapareceu, e informações das pessoas que foram vistas com ela nos últimos momentos”, detalha a delegada.

Dados e estatísticas

O Brasil não possui um levantamento específico de dados sobre crianças desaparecidas. Embora, um sobre pessoas no geral seja possível acessar por meio do banco de dados do Ministério Público (MP). 

Desde 2017, o MP do Acre faz parte do Sistema Nacional de Localização e Identificação de Desaparecidos (Sinalid), que desenvolve o Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (PLID).

Em 2022, foram registrados 384 casos de pessoas desaparecidas pelo Anuário do Fórum Brasileiro da Segurança Pública. O levantamento, no entanto, não possui detalhamento sobre quantos são adultos ou crianças.

A atual gestão da polícia civil realiza constantes reuniões para implementar melhorias na investigação de desaparecimentos/Foto: G1 Acre

Porém, Juliana de Angelis mostra dados de crianças desaparecidas no Acre, via levantamento da Polícia Civil do estado.

Segundo a delegada, foi registrado o desaparecimento de 119 crianças e adolescentes, com idades entre 0 a 18 anos. Destes, 16 eram crianças de até 11 anos e 103 eram adolescentes de 12 a 18 anos

50 eram do sexo masculino, 66 do sexo feminino e três não tinham o sexo informado. De 2019 até 23 de maio de 2024, 34 foram localizados, restando 85 desaparecidos no sistema.

Contudo, ela alerta para a fragilidade destes números, já que, muitas vezes, por exemplo, crianças e adolescentes voltam para a casa e os comunicantes não retornam para a polícia:

“Às vezes também, a pessoa registra uma ocorrência de um desaparecimento e quando a polícia vai se dirigir, só pra contratar se houve ou não o regresso da pessoa, mudaram de endereço, muda telefone e a gente não consegue confirmar”, declara a delegada.

Quem são essas crianças?

Segundo os dados levantados, entre as crianças desaparecidas, duas eram amarelas, seis brancas, cinco indígenas e 40 não tiveram a raça informada. O levantamento não tem um recorte específico de vulnerabilidade social ou localidade.

Juliana fala também do contexto regional envolvido nessa questão, principalmente as que moram em regiões de fronteira, em municípios como, Brasileia.

“Muitas delas são levadas, principalmente para o Peru. Então, temos uma cooperação com a polícia peruana, que foi possível identificar uma adolescente que estava em curso sendo levada aqui do Brasil, mas como ela estava lá no território peruano, foi uma investigação conjunto”, disse.

O impacto da internet

Em uma realidade cada vez mais interconectada, é inegável o papel das redes sociais e da internet em vários âmbitos de nossa vida civil, inclusive, em casos como este. A delegada fala sobre a integração do sistema da polícia ao Alerta Amber, sistema de monitoramento da gigante da tecnologia, a Meta.

Juliana de Angelis é delegada da Polícia Civil, corregedora adjunta da Polícia Civil e representante institucional de políticas públicas para grupos vulneráveis e fala sobre os dados de casos assim no nosso estado e medidas de prevenção/Foto: assessoria/ PCAC

“Ele anuncia e descreve, além das características da criança desaparecida, também possíveis suspeitos e o desenvolvimento no caso de crimes de sequestro. Então, quando a criança desaparece ou é sequestrada, esse sistema, chamado Alerta Âmbar, é ativado e encaminhado para a plataforma da Meta, que publica o alerta num raio de até 160 km do local do ocorrido”, descreve a entrevistada.

Embora seja possível desenhar um padrão e facilitar buscas via o meio digital, ele também é um dos principais causadores desse tipo de ocorrência. Conforme Juliana, a atividade online de crianças leva a diversos perigos, incluindo sequestros, abusos sexuais, assassinatos e mais:

“Muitas situações de adolescentes que, em conversas de redes sociais e jogos online, conversar com pessoas, né, que não sabem quem são, marcam um encontro, enfim, e saem sem comunicar mais os responsáveis e passam dias, às vezes muitos dias, sem serem localizados”, relata a delegada sobre a responsabilização dos pais na questão de monitorar com quem os filhos conversam nos aplicativos.

Ela deixa claro a importância de prestar atenção na rotina, nos sinais que principalmente as crianças e adolescentes mostram quando se sentem diferentes. Muitos aliciadores usam esses meios de redes sociais e de joguinhos para atrair crianças e adolescentes. “Infelizmente, isso é muito mais comum do que se imagina”, conclui.

Alerta e Prevenção

“Nesse contexto que eu te falei, enfim, nesse local ser mantido em cárcere privado, ser abusado sexualmente. Já tive esse tipo de investigação […] é muito triste ver que a maldade humana usa da vulnerabilidade das crianças e dos adolescente”, declara Juliana de Angelis sobre casos de desaparecimento.

Ela finaliza a entrevista falando como é importante o monitoramento desses casos, “observe com quem os filhos estão conversando nas redes sociais com quem os filhos estão conversando”.

Além de ser importante reforçar que não é necessário esperar 24 horas para registrar um desaparecimento e sempre fornecer o maior número de informações possíveis é crucial para as investigações.

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