Novo jogo impressiona com gráficos realistas e com angustiante; veja o teste

Jogo de ação da Ninja Theory une elementos cinematográficos com efeitos sonoros únicos, e criam um jogo imersivo, porém difícil de engolir; confira o review completo

Senua’s Saga: Hellblade II é o mais novo jogo produzido pela produtora Ninja Theory para Xbox Series XXbox Series S e PCs com Windows, e lançado em 21 de maio deste ano. A tão esperada sequência de Hellblade: Senua’s Sacrifice se passa na Islândia Viking e continua a contar a jornada de Senua, que sofre de psicose e precisa lidar tanto com questões internas, quanto externas. A luta da protagonista, no entanto, não se resume apenas em tentar sobreviver: a jovem almeja vingança e vai em busca disso na mais profunda escuridão de cenários nórdicos, mesmo que as vozes em sua cabeça digam o contrário.

Review Senua’s Saga: Hellblade 2 — Foto: Arte: TechTudo

Apesar da curta duração — são apenas seis a oito horas de gameplay — o jogo é bastante imersivo, trazendo novos elementos sonoros para a produção, quase cinematográfica e tão elogiada na obra anterior. Não à toa, Hellblade 2 é a principal aposta da Microsoft para 2024. Vale lembrar que Senua’s Saga: Hellblade II foi lançado sem custo adicional para assinantes do Xbox Game Pass, mas também está à venda com preço de R$ 229, seja na versão para PC ou nos consoles. A seguir, confira o review completo do game no TechTudo.

Primeiras horas perturbadoras — como todas as outras

O jogo é angustiante e claustrofóbico desde o início — e isso é ótimo. As primeiras horas de jogo se passam em Reykjanestá, depois que Senua se infiltrou em um navio. A embarcação passa por uma forte tempestade, que altera a dinâmica das ondas do mar. Em uma dessas, o barco é atingido por um forte volume de água e naufraga. Mesmo naquela situação, as vozes da cabeça da protagonista só conseguiam relembrar as tantas vidas perdidas no desastre, já que se tratava de uma embarcação para transporte de pessoas escravizadas. Os pensamentos são sufocantes. A todo o tempo eles contestam as decisões da jovem e trazem à tona seu passado.

Senua sofre para escalar rochas, é encaixotada pelas ondas e luta contra os escravagistas sobreviventes do acidente. Desde os primeiros segundos, o jogo deixa o player angustiado e ofegante com aquela situação, que choca pela riqueza de detalhes. O contato com Midgard, terra onde o jogo se passa, também assusta, mas dessa vez pela beleza do lugar. Ainda no início, Senua encontra dois personagens que, apesar de secundários, são fundamentais para o processo de amadurecimento da protagonista, e assim, também no progresso do jogo.

Hellblade 2 é claustrofóbico desde o início — e isso é bom — Foto: Victor Bastos/TechTudo
Hellblade 2 é claustrofóbico desde o início — e isso é bom — Foto: Victor Bastos/TechTudo

Ambiente hostil e ameaçador assusta até os mais valentes

Senua’s Saga: Hellblade II não é um jogo de terror. No entanto, caso assim fosse classificado, não seria nenhum absurdo. Midgard tem cenários lindos e bem iluminados. Mas não se deixe enganar pela boa impressão do lugar. Os ambientes de escuridão total — que são muitos — são também assustadores, e usam muito bem os efeitos sonoros para aumentar a sensação de apreensão já existentes.

O jogo assusta a todo o momento, prende o player na cadeira, e obriga a avançar com calma. Isso ocorre devido aos corpos espalhados nos cenários, o barulho de corvos, ou até as constantes ameaças da escuridão que cegam e ensurdecem, mesmo em um ambiente barulhento. É um clima difícil de explicar em texto, e aguça todos os sentidos do player.

Hellblade 2 tem um trabalho fantástico na construção de cenários — Foto: Divulgação/Xbox
Hellblade 2 tem um trabalho fantástico na construção de cenários — Foto: Divulgação/Xbox

Para piorar, além de lidar com problemas internos, Senua precisa se proteger de demônios que surgem na escuridão e colocam em risco a vida de todos os habitantes da região. Para isso, ela está equipada de sua espada, único armamento que a acompanha e a mantém viva durante os constantes embates com monstros durante a gameplay.

Os momentos de ação também são visualmente interessantes, principalmente à noite. Os monstros se misturam com as faíscas de tochas e a areia que sobe do chão, criando um ambiente duríssimo de se engolir — e sobreviver. Apesar da ambientação muito bem feita, aí está um dos problemas do jogo: a mecânica de combate é um pouco entediante, muito devido à dinâmica repetitiva.

Combate deixa a desejar em diversos momentos

Senua é uma guerreira, e as vozes fazem questão de lembrar isso logo no início do game. É uma pena, no entanto, que isso não transpareça nos combates. Não me leve a mal: as lutas corporais são muito bem feitas. O jogo faz o usuário se sentir na pele de Senua, já que a espada que a protagonista carrega é pesada até para ela, que não consegue realizar movimentos rápidos. Por esse motivo, saber a hora certa de atacar e defender é crucial.

Existem também algumas combinações de golpes e esquivas que acumulam energia em uma espécie de espelho coberto de runas. Essa ação permite ataques em slow motion para finalizar inimigos. No entanto, não vai muito além dessa dinâmica simples de bloquear dano e alternar entre ataque leve ou pesado. Sinto que essa parte do game merecia um trato melhor para fazer jus à fama que Senua possui.

Hellblade 2: combate é o ponto negativo do jogo — Foto: Victor Bastos/TechTudo
Hellblade 2: combate é o ponto negativo do jogo — Foto: Victor Bastos/TechTudo

Outro ponto que pode ser chato são os puzzles que existem por Midgard. Inicialmente, a ideia parece legal, e até testa as habilidades dos jogadores. Mas, ao passar do tempo, eles deixam de ser intrigantes e se tornam apenas monótonos, com poucas novidades. Mesmo com essas questões, o game, de fato, surpreende e testa, a todo o momento, os limites entre o que é jogo e o que é cinema.

Experiência de filme, mas nem todos vão gostar

Senua’s Saga: Hellblade II impressionou a mim, que escreve este review, pela forma cinematográfica de contar a história. O jogo apostou em uma narrativa fechada e linear, sem espaços para o jogador desviar da forma que a Ninja Theory decidiu contar a história. Nem mesmo os cenários são abertos à exploração, e pode surpreender até jogadores de games que têm a mesma pegada, como os jogos mais recentes de God of War.

Porém, certamente algumas pessoas não vão gostar desse estilo. O jogo mais parece um filme jogável do que o contrário. Semelhante a games como Beyond: Two Souls, por exemplo, o enredo é recheado de cutscenes que não podem — e nem devem — ser puladas. A própria progressão do jogo é lenta, e isso ajuda a criar o ambiente claustrofóbico e hostil que deixa o player a todo o momento em alerta. No momento em que eu queria acelerar a jogatina para saber o que aconteceria em seguida, o jogo me puxava de volta, e me contava a narrativa no tempo em que ele queria, e não no que eu almejava.

Hellblade 2: escuridão esconde grandes perigos  — Foto: Victor Bastos/TechTudo
Hellblade 2: escuridão esconde grandes perigos — Foto: Victor Bastos/TechTudo

Mesmo com o enredo bem delimitado e com apenas uma possibilidade de final, o trunfo de Hellblade 2 está nas vozes, que funcionam como dicas de áudio que colocam em xeque até o que parece estar certo. É a loucura sensorial que o difere bastante dos jogos atuais. O game está no comando, e convida o player a se aventurar na história. Cabe ao usuário saber se vai aceitar entrar nessa jornada, sabendo que não poderá pular nenhuma etapa.

Jogue com fone de ouvido. Confia!

A experiência sonora de Hellblade 2 é o ponto alto do game. Não existe nada, na minha opinião, que possa ser comparado aos sons do game. A disposição das vozes dos demônios são impressionantes, já que criam um efeito espacial 360° e tiram o foco da personagem diversas vezes. Jogar com alto-falantes impacta negativamente a experiência.

Aí está também a parte principal da trama: a evolução de Senua. A batalha mental entre a confiança da personagem e as vozes é evidente. O game cria um ambiente onde a variedade de vozes provocam e instigam a personagem, influenciando muito em suas ações. O som é tamanho que em inúmeros momentos ela suplica por silêncio. A mágica de Hellblade 2 em conseguir traduzir muito bem a sensação de ser encurralado pelos próprios pensamentos está no áudio binaural. Em cada lado do fone, uma voz diz uma coisa diferente. Essa angústia se mistura com tensão e faz os players se sentirem na pele de Senua.

Hellblade II: experiência do jogo com fones de ouvidos é fantástica — Foto: Victor Bastos/TechTudo
Hellblade II: experiência do jogo com fones de ouvidos é fantástica — Foto: Victor Bastos/TechTudo

Gráficos e desempenho impecáveis

Os gráficos de Senua’s Saga: Hellblade II mostram, finalmente, o potencial da nova geração de consoles. Os detalhes das ondas, cada grão de areia, as gotas de chuva, além dos cenários de tirar o fôlego do jogador são um show a parte no game. É de longe um dos cenários mais bem construídos que já vi, mostrando o melhor da Unreal Engine 5.

Outro ponto super positivo do jogo são as expressões faciais de Senua, que com certeza foi um dos focos do time de desenvolvedores da Ninja Theory. A atuação da atriz Melina Juergens, que interpreta a personagem, foi muito bem capturada pela tecnologia da produtora. Isso ajuda em manter o usuário imerso no game. As dores, tristezas e momentos de luta da protagonista passam veracidade, e animam para futuros jogos totalmente next gen.

Hellblade 2: gráficos e desempenho no Xbox Series X é de arrepiar — Foto: Victor Bastos/TechTudo
Hellblade 2: gráficos e desempenho no Xbox Series X é de arrepiar — Foto: Victor Bastos/TechTudo

Ainda, o desempenho do game é surreal. Jogadores já tão acostumados com games problemáticos durante o lançamento, não vão se queixar dessa vez. Tudo o que se pode esperar de um game AAA está presente: performance gráfica e alto desempenho, além de diálogos e narração irresistíveis.

Hellblade 2 vale a pena?

“Hellblade 2: ame-o ou odeie-o”: é assim que eu definiria o jogo. Certamente, é um privilégio viver a experiência sensorial que o game proporciona, mas algumas pessoas podem não gostar da marcha lenta na progressão do game. Ainda, a sensação de não estar no comando da trama, as poucas horas de duração da campanha, e a necessidade de ter jogado o game anterior devem afastar alguns players do título.

No entanto, esses pontos são pequenos em comparação com a grandiosidade de Hellblade 2. Para quem gosta de histórias bem contadas, é um jogo único, uma obra-prima que parece ter saído das telonas para os consoles e PC. O título convida o jogador a uma viagem imersiva e amedrontadora, com um enredo envolvente e elementos gráficos de arrepiar. Além disso, a facilidade em jogar o game pelo Xbox Game Pass com certeza faz a obra valer ainda mais o teste. Estou ansioso por mais projetos da Ninja Theory nos próximos anos.

Hellblade 2 vale a pena? Jogo é grandioso, e certamente um marco da indústria dos games — Foto: Victor Bastos/TechTudo
Hellblade 2 vale a pena? Jogo é grandioso, e certamente um marco da indústria dos games — Foto: Victor Bastos/TechTudo
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