A Universidade Federal do Acre (Ufac) passa por um período conturbado. Nos últimos meses, uma sequência de eventos colocaram o nome da universidade em destaque na mídia acreana. Primeiro, uma greve dos técnicos, além de uma greve de professores por reajuste salarial, que rendeu também uma greve estudantil – a primeira desde a década de 80.
Se não fosse o bastante, houve uma ocupação de manifestantes na sede do DCE, um caso de assédio que resultou na exoneração de um professor e expulsão de um aluno, e ainda, a professora que foi acusada de falsidade ideológica, que gerou grande repercussão.
O ContilNet explorou, na última sexta-feira (31), as opiniões e as complicações que a instituição de ensino está metida nos últimos meses.
Greves
A primeira classe da Ufac a entrar em greve foi a dos técnicos. A paralisação dos servidores da Universidade Federal do Acre (UFAC), que já dura 80 dias, continua por tempo indeterminado, mesmo com os técnicos aceitando a proposta do governo federal para reajustes nos auxílios alimentação, creche e saúde.
Desde o início da greve, foram apresentadas duas propostas de reajuste salarial para os Técnicos Administrativos em Educação (TAE).
Após isso, foi a vez dos docentes. Eles permanecem firmes, seguindo os sindicatos de professores das universidades federais. Assim como em outras instituições federais de ensino superior, a recusa à proposta do governo federal foi unânime.
O reajuste proposto para 2025 e 2026 não atende às demandas dos servidores, que buscam não apenas a recomposição salarial, mas também a valorização da carreira docente.
Por fim, os estudantes aderiram também ao movimento grevista no dia 20 de maio. Essa é a segunda greve geral estudantil desde 1984 na universidade. A publicação da decisão foi feita pela Associação de Docentes da Ufac (Adufac), que celebrou a adesão.
A decisão gerou polêmica entre a própria comunidade acadêmica, gerando insatisfação em alguns estudantes que não se sentiram representados.
Ocupação, assédio e falsidade ideológica
Os docentes e estudantes da Universidade Federal do Acre (Ufac) realizaram um protesto na reitoria da instituição na sexta-feira (17), em Rio Branco, cobrando celeridade nos casos de denúncia de abuso sexual.
Entre os casos que vieram a público nos últimos tempos está o de um professor do Colégio Aplicação, que não teve o nome revelado, e do discente Alício Lopes de Souza, que é acusado de suposta prática de assédio no campus da universidade.
Sem contar que, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Acre (Ufac) foi ocupado por estudantes pertencentes a movimentos populares no início do mês de maio.
Com opiniões massivamente contrárias nas redes sociais, os militantes alegam a legitimidade do movimento, enquanto os eleitos para comandar o diretório afirmam os possíveis prejuízos da ação.
O movimento seguiu a linha da greve dos professores e servidores públicos, reivindicando a abertura do Restaurante Universitário (RU) e outros serviços para os estudantes da Ufac.
Por fim, a professora Larissa Vanessa Machado Viana é investigada por supostamente ter falsificado documentos para ingressar no curso de medicina na Universidade Federal do Acre (Ufac).
O caso trata-se de falsidade ideológica, segundo os documentos levantados pelo G1, a professora estaria cursando medicina na Universidade Estácio de Sá, e assim tentou ingressar no mesmo curso, através das vagas residuais da Ufac.
Além disso, nas documentações internas da instituição, ela havia informado que não possui vínculo com a Ufac, mesmo que fosse professora da universidade federal.
Movimentação
“Greve aprovada, com início no dia 2 de maio, por tempo indeterminado”, disse a presidente da ADufac, Letícia Mamed, quando a greve iniciou.
“Vivemos um momento delicado. Como estudante, percebo que nós sempre fomos considerados um dos pilares da universidade, talvez até o principal. Apesar dessa visão, nunca tivemos um espaço de decisão ou negociação direto dentro da instituição”, afirma o estudante Diogo José, de jornalismo.
Entre os motivos para a paralisação estão as perdas salariais, a não revogação de medidas adotadas ainda no Governo Bolsonaro (como a Reforma Administrativa, por exemplo), orçamento considerado insuficiente para as instituições, falta de avanços na reestruturação de carreira e outras questões.
“Na manhã de hoje, 18, os estudantes da Ufac reuniram-se no Anfiteatro Garibaldi Brasil para deliberar sobre a greve dos estudantes da Ufac por melhores condições de estudo. A mobilização reforça a luta em defesa da educação pública de qualidade e se junta aos docentes e técnicos que já estão em greve”, diz a publicação sobre a greve estudantil.
Para Diogo, o máximo que havia era o Consu – Conselho Universitário – ou o DCE. Que, ao longo dos anos, acabou se alinhando mais com os interesses da reitoria do que com os dos próprios estudantes, segundo o entrevistado.
“Atualmente, enfrentamos diversos problemas estruturais e sociais, tanto de acesso à universidade quanto de permanência, e a greve estudantil surge como uma solução para garantir nossos direitos”, acrescentou o estudante.
Em meio a reivindicações, atos em busca de melhoria e tensões internas, Diogo José reflete sobre a importância destas reviravoltas que a Ufac está proporcionando para técnicos, professores e estudantes:
“Além disso, considero de extrema importância a união com os técnicos e professores, pois a junção de pautas em comum fortalece o movimento”, finaliza.