O Dia dos Namorados no Brasil, ao contrário do resto do mundo, é comemorado em 12 de junho. Criado por João Dória – o pai – para alavancar as vendas no centro de São Paulo. Apesar dessa origem mercadológica, é bom demais falar de amor, e nesta quarta (12), não seria diferente. Um casal de Rio Branco, no Acre, que o diga.
José Lucas, de 24 anos, conta que sua amiga, do ensino médio pra vida, Luiza sempre falava dele para um outro amigo dela, que estudava na mesma escola que ela, lá em 2017. Os dois até tinham se visto em uma festa de halloween no ano anterior.
José Vítor, de 24 anos, fala que em uma noite, mais especificamente 13 de maio de 2017, de uma forma nada planejada, ele conheceu um menino. Um garoto, que sua amiga Luiza sempre falava sobre.
“Eu ainda não tinha minha sexualidade assumida, como é hoje, e meus pais não sabiam. Era muito traumático para mim ter que fingir ser algo que eu não era. No dia 13 de maio de 2017, fui a uma festa no Studio. Nesse rolê, nos conhecemos e tivemos uma conexão muito boa e gostosa no primeiro momento. A gente ficou e a gente se beijou”, conta.
Os dois contam como depois dali foi uma conversa que durou horas. Os dois não se desgrudaram, a partir daí. Sem parar de conversar, de compartilhar. Zé Lucas chegou no outro dia, já falando que estava completamente apaixonado pelo Zé Vitor para Luiza. Uma conexão profunda, que mostrou para eles uma descoberta: eles tinham encontrado o amor da vida um do outro.
7 anos atrás
José Lucas conta que na mesma noite, José Vítor pediu pra dormir com ele. Não rolou naquela noite, mas foi o início de tudo. Com 17 anos, eles falam como passaram por diversas fases em seu namoro, agora noivado e em breve, casamento.
“A gente chega na fase adulta junto, a gente passa por todo esse processo junto, um apoiando o outro. A gente brinca juntos, também a gente ama, a gente sente raiva juntos, a gente morre e vive junto, né? Porque tanto ele como eu, a gente teve esse processo dessa fase de adolescência, que a gente começa a sentir de fato o preconceito que as nossas famílias têm pelo fato de você ser gay”, conta.
Ambos tiveram a influência fundamentalista da igreja dentro do relacionamento. Zé Lucas lembra de um episódio em que teve que se esconder dentro de um armário para não ser flagrado com Zé Vitor. Hoje eles riem, mas para a vivência de amores LGBTQIAP+, essa ainda é uma toada permanente.
Um amor (feito) de cinema
Os dois fãs de Beyoncé cresceram juntos e assim como a diva pop, que ama visuais, eles construíram um universo de audiovisual para chamarem de seu. Donos de uma produtora independente de audiovisual, o amor dos dois gerou produtos – além do filho deles, um gatinho chamado Catarino -, que permanecem lembrando da relação deles nos detalhes.
“O nosso relacionamento é muito sobre essas mudanças e a gente entende isso como sendo algo necessário e importante, tanto individualmente na vida de cada um, como também no nosso relacionamento, para que ele fique cada vez mais íntimo, cada vez mais gostoso de se estar. E é muito sobre isso: nosso relacionamento é evoluir e continuar evoluindo, e a gente aprende muito um com o outro”, fala Zé Vitor.
Na entrevista, eles citam vários momentos em que um foi a âncora do outro – de internações em hospitais a episódios de preconceito -, “ele estava lá, tornando tudo mais leve”, relembra Zé Lucas.
“A gente sempre ia ao cinema, chegou a ir duas, três vezes ver o mesmo filme, e não era para se beijar, não era para se pegar; era para realmente ver o filme e conversar sobre ele. A gente sempre gostou muito, e hoje trabalhamos com audiovisual também, contando histórias através de imagens. É muito legal você olhar para o lado e ver que tudo isso se interliga”, conta o entrevistado.
Com uma relação de mais de 7 anos, repleta de amizade e evolução, José Lucas fala como a história deles “daria um filme”. Como todo filme tem aquela parte de aventura com comédia, não poderia faltar aqui. Zé Lucas lembra da vez que eles viajaram para outro estado ver a banda favorita dele, Los Hermanos. Depois de brownies vendidos e um nome sujo no Serasa, eles conseguiram:
“Foi incrível, mas é muito engraçado, que a gente era muito imaturo. Hoje em dia, a gente não faria uma coisa dessas. Tem conta para pagar, tem o aluguel para pagar, enfim, coisas que a gente precisa ser responsável”, conclui.
Amar é revolucionário
“Entendo também que, quando eu acesso esse lugar e revisito essas memórias, percebo o quanto amar é revolucionário. Quanto dois homens, duas mulheres, casais trans, casais não binários são revolucionários, e a gente nem se dava conta disso na época, porque não tínhamos essa noção”, reflete Zé Lucas.
No dia 13 de maio de 2024, José Vitor organizou uma surpresa para os 7 anos juntos: um pedido de casamento. Morando juntos já há algum tempo, o pedido selou a união dos Zés.
José Lucas também discute sobre seus corpos amando e como é necessário, que mais histórias de amor LGBTQIAP+ ganhem espaços no jornalismo e nas políticas públicas:
“Quais são os desafios que se enfrentam pelo simples fato de eu só gostar de homens? É um ato político, é um ato revolucionário”, diz.
Nesse Dia dos Namorados, mesmo nem sempre tendo surpresa ou algo do tipo. Os Zés sempre estão juntos, eles celebram a companhia um do outro.
“Significa esse momento, onde a gente tá muito ligado um com o outro e se sentindo acompanhando o outro, fazendo coisas que os dois gostam. Fora todo o chamego e todo o amor”, diz Zé Vitor.
Já José Lucas lembra do amor deles por cinema nessa data: “Sempre parece que passa um filme na cabeça, de tantas histórias que a gente lembra, e é claro, significa ir ao cinema, é e sempre vai ser a nossa programação preferida em qualquer data”.
Por fim, sobre o que cada um gosta mais do outro, Zé Vítor lembra da gentileza de Zé Lucas:
“Às vezes, a gente está passando por uma situação estressante, e ele consegue manter a calma e a postura, de certa forma. Eu acho isso muito, muito lindo, porque não importa o que esteja acontecendo, ele sempre arruma uma maneira de demonstrar isso e de ter uma paciência que eu não conseguiria ter. Eu também amo muito a forma como ele se relaciona com as pessoas, especialmente as crianças”, revela.
Já Zé Lucas admira a coragem de Zé Vitor: “Ao mesmo tempo que ele enfrenta ele sonha, e ele sonha bonito demais de ver, o que me faz sonhar junto. Acho que é isso, a capacidade que ele tem de sonhar e realizar”.
Compartilhando o mesmo nome, a mesma casa, o mesmo trabalho e o mesmo amor há 7 anos, os dois seguem felizes e trabalhando juntos.