De Recife, Pernambuco, Ilva Niño, que morreu nesta quarta-feira (126), de falência múltipla dos órgãos, fugiu para trabalhar como atriz. A ex-TV Globo se formou em teatro na escola de Ariano Sussuana e logo se filiou ao o Partido Comunista, percorrendo os engenhos de cana-de-açúcar do interior com o Movimento de Cultura Popular (MCP), que levava a arte regional, além de desenvolver outros assuntos, como educação.
“Era um trabalho social, político, íamos para o campo, com o teatro na frente. Depois vinha a alfabetização, a vacinação. Era complicado, os donos de engenho não deixavam a gente entrar, tinha sempre um capataz olhando, precisávamos de autorização do sindicato dos trabalhadores rurais, das Ligas Camponesas”, disse para a Quem.
E prosseguiu: “A gente queria ensinar as pessoas a ler. Mas aí veio o golpe de 1964. Estávamos em uma cidade canavieira, chegamos ao Recife exatamente no dia do golpe. Ninguém esperava. Não podiam ficar três pessoas juntas que eles vinham com baioneta”.
Niño ainda contou para o veículo que perdeu pessoas durante a ditadura. “Tive amigo morto, diziam que era bala de festim, mas era de verdade. Quando vi as recentes manifestações no país, me emocionei muito. Não acreditava mais que esse tipo de movimentação fosse acontecer. Peguei o metrô e fui ao Centro do Rio protestar”, pontuou.
Logo depois ela fugiu para o Rio de Janeiro com o marido, o ator e diretor Luiz Mendonça. “O pai do Luiz, que era coronel no interior e totalmente contra nós dois, pediu um favor ao cara que ocupava a Secretaria de Segurança, para podermos sair de Pernambuco. Levamos 18 dias até o Rio. Nem dinheiro para a comida direito a gente tinha, bebia água de bica. Perdi muito peso. Fomos morar na casa da minha irmã”, lembrou.
A veterana teve apenas um filho, Luiz Carlos Niño, que faleceu em 2005,aos 40 anos, vítima de cirrose. Ilva ficou viúva em 1995, após 15 anos de casamento.
Ilva Niño ganho a simpatia do público ao interpretar Mina, empregada de viúva Porcina, vivida por Regina Duarte, em Roque Santeiro, exibida pela TV Globo em 1985. Seu último projeto foi a série Os Roni, transmitida pelo Multishow, entre 2019 e 2021.
A artista tinha 89 anos e estava internada desde o dia 13 de maio no Hospital Quali, em Ipanema, zona sul do Rio. Na ocasião, ela passou por uma cirurgia no coração e precisou seguir internada.