Conselho pede à Anvisa que proíba venda de PMMA após morte de influenciadora

O material foi aplicado nos glúteos da influenciadora digital Aline Ferreira, que morreu na terça-feira (2/7) em decorrência do procedimento

O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) notificou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), nesta sexta-feira (5/7), para que proíba a distribuição e comercialização de produtos à base de polimetilmetacrilato, conhecido como PMMA.

O material foi aplicado nos glúteos da influenciadora digital Aline Ferreira, que morreu na terça-feira (2/7) em decorrência do procedimento.

Aline morreu aos 33 anos após procedimento para aumentar os glúteos/Foto: Redes Sociais

“Produtos a base de PMMA pertencem à Classe IV – máximo risco -, de modo que a ausência de restrições em relação a sua comercialização acaba representando uma ameaça à saúde e segurança da população”, informa a conselheira responsável pela Câmara Técnica de Dermatologia do Cremesp, Eliandre Palermo.

O Cremesp ainda aponta que o material não é recomendado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e a Sociedade Brasileira de Dermatologia, “em virtude do elevado risco de complicações graves, irreversíveis, e até óbito dos pacientes”.

Atualmente, a venda de produtos à base de PMMA é permitida e regulada pela Anvisa desde que seja para uso em duas aplicações específicas:

  • Correção de lipodistrofia — alteração no organismo que leva à concentração de gordura em algumas partes do corpo) — provocada pelo uso de antirretrovirais em pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS);
  • Correção volumétrica facial e corporal, que é uma forma de tratar alterações, como irregularidades e depressões no corpo, fazendo o preenchimento em áreas afetadas por meio de bioplastia.

À CNN, a Anvisa confirmou que recebeu o pedido do Conselho e que será avaliado. O órgão acrescentou que “não regula procedimentos estéticos ou de saúde”, pois “isso está no âmbito dos conselhos profissionais e sociedades médicas”.

“É muito importante ressaltar que, conforme informações aprovadas nesta Agência, o produto deve ser administrado por profissionais médicos treinados. Para cada paciente, o médico deve determinar as doses injetadas e o número de injeções necessárias, dependendo das características cutâneas, musculares e ósteocartilaginosas de cada paciente, das áreas a serem tratadas e do tipo de indicação”, completou.

Repúdio também no Cremego

O Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), estado onde ocorreu o procedimento de Aline Ferreira, publicou uma nota, nesta sexta-feira (5/7), onde alertou sobre a realização de procedimentos estéticos invasivos por profissionais que não são médicos.

“Procedimentos invasivos devem ser feitos por médicos, em locais com a estrutura necessária para o atendimento seguro do paciente e com técnicas e produtos que não ofereçam risco a essa segurança. O polimetilmetacrilato (PMMA), como já alertamos publicamente, não deve ser usado em procedimentos destinados ao preenchimento de extensas áreas corporais, como na denominada remodelação glútea e em outras partes do corpo e rosto”, diz nota.

O Cremego também pediu uma resposta das autoridades. “Apelamos às autoridades sanitárias e demais órgãos competentes que fiscalizem e fortaleçam o combate ao exercício ilegal da medicina. Apelamos também aos pacientes que não se arrisquem, valorizem a sua vida e segurança. Medicina é com médico.”

O procedimento realizado por Aline foi feito pela falsa biomédica Grazielly da Silva Barbosa. Nas redes sociais, a mulher se apresentava como biomédica, mas ela apenas frequentou três semestres de medicina no Paraguai, e divulgava inovações e métodos revolucionários estéticos. Ela citava, por exemplo, o chamado bioestimulador de glúteo — capaz de aumentar de maneira “natural” os glúteos, deixados rígidos e atraentes.

Inaugurada em novembro de 2023, a suposta clínica funcionava de maneira irregular, sem alvará nem as licenças devidas.

A falsa profissional foi questionada sobre a graduação em biomedicina. Segundo ela, fez cursos “livres”. No entanto, não apresentou diploma ou certificado dessas especializações. Mesmo se fosse biomédica, Grazielly não poderia injetar qualquer tipo de substâncias em pacientes, pois é uma função desempenhada por médico profissional.

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