O canal de denúncias de violência contra a mulher passou por mudanças: o Ligue 180 ficou mais completo.
A mistura de abusos e violências começou disfarçada de romance.
“Ele estava sempre nos mesmos lugares onde eu estava. Eu chegava no evento, ele estava. Saía do evento, ele estava na saída do evento. Me adicionou e já foi curtindo todas as fotos. Na época, eu achava que não. Hoje, eu percebo que foi o primeiro grande sinal”, conta uma vítima.
Em seguida, vieram as agressões verbais, as críticas à aparência e os prejuízos financeiros.
“Não é o dinheiro que foi gasto, que foi perdido. Mas as ameaças por não dar o dinheiro no momento em que ele queria. Ele começou com a psicológica. Começou com as chantagens e partiu para a física. E hoje, eu penso e olho que se eu tivesse parado, tivesse entendido desde o início os sinais, eu acredito que eu não tinha passado por tudo aquilo que eu passei no fim”, diz a vítima.
Ela não quer aparecer porque teve até que se mudar de estado para escapar de todas essas formas de violência, que precisam ser identificadas e interrompidas.
“Se a gente identificar que essa mulher é vítima de violência logo no começo, nessas outras formas de violência, a gente vai evitar essa violência final, que é a morte dessa mulher. No começo da Lei Maria da Penha, a gente falava muito das violências físicas – do olho roxo, do lábio cortado – e isso é uma violência que é visível”, diz Nathalie Malveiro, procuradora do Conselho Superior do Ministério Público de SP.
Mas as invisíveis, aquelas que ainda são pouco reconhecidas, as novas, dessa era digital, também são violências. Hoje, elas têm nome, se tornaram crimes e estão aumentando. O stalking, que é a perseguição real ou virtual, cresceu 34% de 2022 para 2023 – foram mais de 77 mil registros no ano passado. A violência psicológica foi responsável por mais de 38 mil denúncias, crescimento de quase 34%, e os registros de importunação sexual aumentaram mais de 48%.
Para enfrentar esse crescimento, o Ligue 180 mudou. Foi reformulado só para atender, informar e encaminhar casos de suspeita e violência contra a mulher.
“Ela pode se informar sobre seus direitos, se aquela situação que ela vive é um caso de violência, qual é a rede especializada que ela pode procurar, e se ela também desejar, consegue registrar uma denúncia”, explica Ellen dos Santos Costa, coordenadora geral do Ligue 180.
Atendentes treinadas agora atendem também pelo 180 WhatsApp, mais uma ferramenta para ajudar não só as vítimas, mas qualquer um que perceba o risco.
“Você consegue mandar imagens, áudios, vídeos. Então, a gente já qualifica melhor essa denúncia, e tudo isso serve como prova para a segurança pública”, afirma Ellen dos Santos Costa.
A rede tem hoje 2,5 mil serviços especializados no atendimento à mulher no Brasil, que podem ser consultados também pela internet. Uma rede que precisa crescer para que a violência diminua.
“É muito importante que os governos estaduais e municipais se organizem para não só dar informação para essa mulher, para ela se identificar como vítima, mas quando ela se identificar como vítima, ela saiba onde buscar ajuda e quem vai ajudá-la a sair daquela situação de violência”, diz Nathalie Malveiro.