Delegada relata agressões do ex-marido: “Apanhava de cinto”

Violência ocorria enquanto a delegada Juliana Domingues estava a frente da Delegacia de Atendimento à Mulher em Volta Redonda (RJ).

Ex-chefe da Delegacia de Atendimento à Mulher de Volta Redonda, no interior do Rio, a delegada Juliana Domingues afirma que foi vítima de violência, praticada pelo marido dela à época, o tenente-coronel da Polícia Militar Carlos Eduardo da Costa.

Atualmente, ele é coordenador de segurança do Tribunal Regional Federal do Rio.

Reprodução/Fantástico/TV Globo

“Por muitas vezes, eu apanhava de cinto. Por várias vezes, ele também me fazia contar as cintadas. Uma vez ele me bateu na frente do meu filho, me deu um tapa no rosto. Na época dos fatos, eu era delegada da Delegacia de Atendimento à Mulher. Isso me fez pensar muito. Antes, eu tinha vergonha. Como isso foi acontecer comigo?”, relatou ela.

Em entrevista concedida ao Fantástico, da TV Globo, a investigadora falou sobre a violência sofrida entre os anos de 2021 e 2021. “Ele falava pra mim, por várias vezes que ele me agrediu: ‘Eu bato na delegada da Deam. E o que você vai fazer?’”, contou.

“Eu acho importante dividir a minha história, justamente porque eu sei que, infelizmente, muitas mulheres estão passando pelo que eu passei, com medo e vergonha. Eu quero dizer pra elas que elas não se sintam assim. Que existe ajuda, rede de apoio, e que elas têm que ter força de vontade para sair dessa situação”.

Violência e estupro

De acordo com Juliana, o histórico de violência do ex-marido contra ela era extenso e começou logo após o casamento. Segundo a delegada, as agressões físicas e psicológicas começaram já na lua de mel, juntamente com o ciúme excessivo do então companheiro.

“Principalmente quando eu tirava plantão, eu tinha que ficar com a localização em tempo real ligada. Porque ele dizia que eu não estava trabalhando, que eu estava na rua aprontando, e eu trabalhando. Eu tinha que falar pra ele todos os meus passos”.

Juliana contou que chegou ao limite um dia quando Eduardo disse que o casal iria ao teatro com duas amigas dele. Ela não se animou com a ideia.

“Ele me levou para o nosso quarto, e ali ele me estuprou. Ele fez sexo comigo contra a minha vontade. E eu chorei muito. E eu pedi para ele parar. E óbvio que ele não parou. E ele, quando terminou, virou para mim e falou: “E agora você vai tomar seu banho? Porque o teatro é às 4 horas da tarde.”

Denúncia feita pela própria delegada

Sem conseguir tomar uma atitude por anos, três dias após o episódio, Juliana decidiu entrar em uma delegacia, mas agora, na condição de vítima, e fez uma denúncia. Ela passou por dois exames de corpo de delito.

O relatório apontou um hematoma na região malar, ou seja, na maçã esquerda do rosto, um segundo hematoma no glúteo e uma escoriação compatível com unhadas.

A polícia interrogou cinco testemunhas, entre elas duas funcionárias do casal. Elas confirmaram que Juliana apresentava marcas de violência física com frequência. Eduardo também foi ouvido.

Ele confirmou que tinha o hábito de usar cintos e outros instrumentos durante o sexo, mas que as práticas eram “da vontade deles” e que “tudo era consentido.”

“Enfrentei toda minha vergonha, na qualidade de delegada que trabalha com isso, de expor como eu estou expondo que fui vítima disso. Quando eu comecei a ver que o que estava acontecendo comigo estava atingindo os meus filhos, isso me tocou muito”, conta.

Em agosto do ano passado, Eduardo foi denunciado pelo Ministério Público do Rio por dois estupros contra Juliana, por lesão corporal e violência psicológica. A Justiça aceitou a denúncia, e a primeira audiência está marcada para o mês de setembro.

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