‘Deus me livre de mulher CEO’, diz empresário, que volta atrás

Ele começou-se a questionar também empresas que contratam os serviços de sua organização, como o Magalu

“Deus me livre de mulher CEO”. Essa foi a resposta do empreendedor Tallis Gomes à pergunta “Se sua mulher fosse CEO de uma grande companhia, vocês estariam noivos?” feita por um usuário do Instagram e publicada no stories de Gomes.

Em sua resposta, o empreendedor discorre dizendo que “Vcs não fazem ideia da quantidade de stress e pressão envolvida em uma cadeira como a minha. Fisicamente vc fica muito abalado, psicologicamente vc precisa ser MUITO, mas MUITO cascudo para suportar. Na média, essa [sic] não é o melhor uso da energia feminina. A mulher tem o monopólio do poder de construir um lar e ser base de uma família – um homem jamais seria capaz de fazer isso. Pra quê fazer a vida dessa mulher pior dessa forma?”.

Publicação de Gomes viralizou – Imagem: Divulgação

A resposta continua: “O mundo começou a desabar exatamente quando o movimento feminista começou a obrigar a mulher a fazer papel de homem. Hoje, vejo um bando de marmanjo encostado trabalhando pouco e dividindo conta com mulher. Eu entendo que temporariamente pode acontecer, eu mesmo já passei por isso no passado – mas tem que ser algo transitório.”

 — Foto: Reprodução Instagram

— Foto: Reprodução Instagram

Ele finaliza da seguinte forma: “Homem que tem condições de bancar sua mulher e não o faz, está perdendo o maior benefício de uma mulher, que é o uso da energia feminina nos lugares certos, lar e família.”

A resposta de Gomes repercutiu entre executivas, nas redes sociais e em grupos de WhatsApp.

“Acordei esta manhã com meu whats app bombando em função desta declaração. A independência da mulher causa dor né? A perda do controle então, nem se fala. Essa declaração clama por urgência”, publicou no LinkedIn Renata Vieira, diretora comercial e de marketing sênior da multinacional Reckitt.

“Mulheres, juntas somos mais fortes, não vamos deixar a irritação nos dominar. Vamos seguir desempenhando todos os nossos papéis na sociedade, com orgulho e sem culpa, e ninguém irá nos calar ou tirar nosso espaço”, continuou.

Rafaela Rezende, general manager da VTex no Brasil, também escreveu sobre o assunto no LinkedIn. “Estamos em 2024 e a tentativa de colocar nós mulheres em uma única caixa, continua. Estamos em 2024 e há quem acredite que a mulher deveria canalizar suas energias na família e no lar. Uma caixa. Uma das muitas caixas que podemos querer.”

Ela terminou seu post com a seguinte mensagem:

“Carta aberta para todas as mulheres e para a minha amada filha Filipa: Sejam CEOs e mães e esposas e donas de casa. Ou não sejam nada disso. Mas, façam suas escolhas, lidem com elas, e sejam múltiplas. Se permitam ser E e não OU. Declarem para o mundo no que vocês são boas – e certamente são em muitas coisas. Declarem o que as faz feliz e declarem também o que não as faz, o que não funciona para vocês. Combinem o jogo. Sejam autênticas, se permitam, sejam livres.”

Questionada nas redes sociais sobre o assunto – já que o Magalu tem relação comercial com a G4 Educação, a empresa de Tallis Gomes -, Luiza Helena Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza e presidente do Grupo Mulheres do Brasil, teria se posicionado sobre a fala do empreendedor em um grupo de WhatsApp de executivas e empresárias (a reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa de Luiza Helena Trajano mas ela ainda não respondeu o pedido de entrevista).

“O Magalu fez uma parceria num curso que os sellers pediram. Sabia que ele era politicamente de uma extrema direita, mas como não acompanho suas redes (deveria) lendo o que vocês postaram, não concordo em nada do que ele posiciona sobre mulheres.”

 — Foto: Reprodução WhatsApp

— Foto: Reprodução WhatsApp

A resposta de Trajano segue: “Nós mulheres podemos ser aquilo que queremos e optamos ser […] Amanhã vou me posicionar com as pessoas da nossa empresa que fez [sic] essa parceria com eles. Só pelo simples fato de sermos uma empresa que desde o seu nascimento, 1957, teve mulheres no comando não pudemos estarmos [sic] vinculados em nada com alguém que se coloca dessa forma.”

Em nota oficial, enviada por sua assessoria de imprensa, o Magalu disse o seguinte: “o Magalu sempre defendeu – e sempre defenderá – que toda mulher tenha a oportunidade de ser e fazer o que ela escolher para a sua vida. A empresa repudia qualquer manifestação contrária a esse posicionamento ou que tente enquadrar mulheres em papéis pré-determinados na sociedade. Em relação à G4 Educação, a companhia esclarece que a empresa apoiou o Magalu em um evento, o Expo Magalu, em agosto deste ano, atendendo a uma demanda dos sellers do marketplace.”

Depois da repercussão, Gomes fez outro stories no Instagram dizendo que sua resposta se deu à pergunta se a noiva dele fosse CEO e que sua posição não tem a ver com seu juízo de valor sobre a capacidade ou não de uma mulher ser CEO de uma grande empresa. Disse ainda sentir muito que suas palavras tenham machucado algumas pessoas. Comentou também que sua empresa vai fazer R$ 100 milhões em EBITDA este ano e que a CFO é uma mulher.

 — Foto: Reprodução Instagram

— Foto: Reprodução Instagram

Esta não é a primeira vez que Tallis Gomes faz comentários do tipo. Este ano, ele falou em um podcast que não contrata “esquerdista” e que seus funcionários trabalham 80 horas por semana. A declaração também repercutiu nas redes sociais.

Também este ano, em um vídeo no stories do Instagram, Gomes comentou que falar de saúde mental no trabalho é coisa de “bullshiteiro”. “Quem anda falando isso na internet é um bando de vagabundo que não faz nada e está querendo arrumar desculpa para trabalhar pouco.” O assunto também repercutiu nas redes.

Em nota enviada por sua assessoria de imprensa, Gomes disse, entre outras coisas: “Ontem, eu errei feio num texto no Instagram. E quero reconhecer o erro e pedir desculpas. Muitas mulheres se sentiram machucadas pelas minhas palavras, e eu estou profundamente chateado por ter magoado essas pessoas.”

Terminou a nota comentando que “o lugar das mulheres é onde elas quiserem estar. Seja na vida pessoal, seja no mercado de trabalho.”

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