A quadrilha especializada no tráfico de produtos feitos à base de óleo de maconha e liderada por um casal de jovens moradores de Pirenópolis (GO) possuía uma clientela fiel no Distrito Federal.
De acordo com o levantamento feito pela Coordenação de Repressão às Drogas (Cord), Águas Claras lidera o ranking de compradores da Xapa Xana, lubrificante feito com compostos da Cannabis, a planta da maconha, que era vendido pelos criminosos.
Os investigadores da Cord identificaram que 1.808 encomendas foram postadas pelos criminosos, sendo que cada uma dessas embalagens poderiam conter mais de um produto à base de maconha e com alto teor de THC. Parte dessas remessas foram direcionadas a diversas regiões administrativas.
De acordo com o levantamento, Águas Claras lidera o ranking de compradores do Xapa Xana. A região consumiu 14% das vendas. Em segundo lugar, com 12%, aparecem os usuários da Asa Norte. Logo em seguida, em terceiro lugar, estão as regiões do Noroeste e Guará, ambos com 7% das compras. Fechando a lista, com 6% das aquisições está a região do Jardim Botânico.
Veja o ranking das regiões que mais compram Xapa Xana:
O esquema
O óleo, conhecido como Xapa Xana e rico em tetrahidrocanabinol – o famoso THC – era o carro-chefe da associação criminosa especializada no tráfico de drogas desmantelada pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), nessa terça-feira (24/9).
O esquema era comandado por um casal residente em Pirenópolis (GO) desde 2018, segundo as apurações da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord). A maconha era utilizada como matéria-prima para a elaboração de produtos que iam de sabonete, passando por protetores labiais até chegar nos lubrificantes vaginais. O bando faturava alto, já que os produtos custavam caro: alguns passavam de R$ 900.
O casal operava um grupo no WhatsApp como canal de comunicação direto com os usuários dos usuários dos diversos tipos de drogas. O grupo existia desde 2021 e contava com diversos perfis cadastrados com linhas telefônicas do Distrito Federal. Por meio do grupo era possível receber catálogos de produtos e promoções dos itens à base de maconha. Com mais de 60 mil seguidores nas redes sociais, o bando distribuía para o Distrito Federal e para todo o território brasileiro.
Veja imagens do “Xapa Xana” vendido pelo grupo criminoso:
Xapa Xana
Quando comercializava o lubrificante, que tinha preços partindo de R$ 130 o fraco com cerca de 15 mil, os criminosos frisavam que a substância se tratava de um produto “especializado para a região íntima rico em canabinóides. Ao aplicar diretamente na vagina, outros neurotransmissores são ativados e liberados no nosso corpo, em especial, o óxido nítrico”, dizia a propaganda.
Além de supostamente garantir orgasmos múltiplos, o lubrificante, de acordo com o casal de traficantes, também promovia tratava a área íntima. “Nosso lub das deusas, perfeito e sem defeitos. É feito com flores da cannabis orgânica. Além de estimular a área íntima promovendo orgasmos incríveis, ele pode ser usado para tratar fissuras e ressecamento vaginal”, apontava outra propaganda.
Segundo as investigações, o grupo exercia ilegalmente a medicina e praticava curandeirismo, anunciando supostas curas e colocando pessoas e animais em perigo. A rede criminosa também fabricava e fornecia produtos comestíveis à base de cogumelos alucinógenos (psilocibina) e maconha. O grupo agia sem autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Chocolates
De acordo com a Cord, o grupo inclusive oferecia entorpecentes adicionados a alimentos, tais como chocolates e brownies. Batizada como Aruanda, a operação teve apoio da Polícia Civil de Goiás (PCGO) e dos Correios.
Foram cumpridos dois mandados de prisão preventiva, quatro de busca e apreensão no DF e nas cidades de Anápolis (GO) e Pirenópolis (GO). Dois dos investigados foram presos em flagrante.
Os investigados responderão pelos crimes de exercício ilegal da medicina, curandeirismo, charlatanismo, tráfico de drogas interestadual, associação para o tráfico e disseminação de espécies que possam causar dano à agricultura, à flora e aos ecossistemas. Em caso de condenação, podem ser sentenciados a até 39 anos de prisão.