No mundo das lutas, quando um combate é aberto, com os dois oponentes encaixando golpes, ferindo o adversário, mas também sofrendo avarias, diz-se que há uma “trocação”. É este o tipo de enfrentamento que o Corinthians tem se acostumado a fazer.
Embora tenha apresentado melhora desde a chegada do técnico Ramón Díaz e também dos reforços na última janela de transferências, o Corinthians raríssimas vezes consegue controlar as partidas com ou sem a posse de bola. Muito disso passa pela sua fragilidade defensiva.
O time agride, mas também cede chances. Às vezes, encaixa mais golpes do que o oponente ou consegue um “knockout” em meio a um combate equilibrado. Porém, ainda perde pontos pela falta de equilíbrio. Foi o que aconteceu no empate em 2 a 2 com Racing.
O Timão não se abateu com o gol sofrido logo aos cinco minutos, buscou a virada ainda no primeiro tempo, mas acabou cedendo o empate para os argentinos, que decidirão em casa a vaga na final, na próxima quinta-feira.
O bom duelo na Neo Química Arena teve o brilho individual de Yuri Alberto, a chuva como protagonista e outros elementos que merecem destaque, mas é impossível analisar a atuação alvinegra sem falar do papel decisivo de Ramón Díaz.
O treinador retomou o esquema 4-4-2 com um losango no meio de campo com o qual o Corinthians teve alguns de seus melhores momentos recentes. A formação potencializa Yuri Alberto e faz com que Garro seja acionado em uma região mais avançada do campo, na qual oferece maior perigo.
Porém, a estratégia durou somente até a metade do primeiro tempo. Ao perder José Martínez machucado, o argentino optou não por outro meio-campista, mas sim por um atacante: Ángel Romero. O paraguaio entrou na ponta direita, e Yuri foi deslocado para a esquerda. Charles e Carrillo ficaram mais retraídos, lado a lado à frente da zaga.
A alteração tática fez com que o Corinthians tivesse inferioridade de jogadores no meio de campo e ainda desfez a dupla entre Memphis e Yuri, que vêm se entendendo bem.
A virada veio com essa formação, mas num momento que em que o jogo já começava a mudar de figura. O temporal que caiu sobre São Paulo foi, pouco a pouco, tornando o jogo mais físico e impossibilitando trocas de passes mais elaboradas por conta das poças que se formaram no gramado.
Na etapa final, a bola rolou mais, permitindo não apenas chances aos Corinthians, mas também aos visitantes, que demonstraram qualidade e personalidade para jogar.
Novamente o Timão apresentou dificuldades defensivas, não apenas por questões individuais (como no primeiro gol, em que Cacá corta errado, e Hugo Souza está adiantado), mas também por comportamentos coletivos errados. A equipe muitas vezes não consegue encaixar a pressão e se vê obrigada a correr para trás de forma desorganizada. Também falha ao executar perseguições individuais, como foi na jogada do segundo gol do Racing, em que André Ramalho sai à “caça” e não acha nada. Charles e Garro também vão mal na marcação neste lance.
Esse cenário de constante “trocação” e falta de controle dos jogos é ainda mais preocupante pela situação em que o Corinthians se encontra no Brasileirão, pressionado para fugir da zona de rebaixamento. Um lutador já ferido tem mais dificuldade de se recompor ao ser golpeado, fica mais suscetível a ir à lona.
Na Sul-Americana, porém, o combate ainda está aberto. Os argentinos têm ligeira vantagem para o segundo round, até porque o Timão irá a Buenos Aires cansado pela sequência de jogos e viagens e a poucos dias de um Dérbi decisivo. Entretanto, não se pode jogar a toalha antes da hora. A equipe já mostrou neste ano que não é fácil de ser derrubada em mata-matas.
Para seguir vivo na busca do inédito título – e também fugir do rebaixamento – o Corinthians precisa fechar a guarda e ter mais controle dos seus combates o quanto antes. Falta pouco para soar o gongo.