Embora não tenha concorrido diretamente nas eleições municipais de 2024, os grandes derrotados do pleito que se encerrou no último domingo, com a votação em segundo turno 51 cidades, foram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o seu Partido, o PT. Em São Paulo, onde o partido e o presidente apoiaram o deputado federal Guilherme Boulos (Psol) para a prefeitura da capita paulista, com as eleições vencidas e segundo turno pelo atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), a derrota foi a mais sentida.
Na Grande São Paulo, em 16 anos, o PT perdeu dez prefeituras entre as 39 cidades que formam a região metropolitana de São Paulo. Atualmente, o PT tem duas prefeituras na Grande São Paulo: Mauá e Diadema, mas passará a ter só uma a partir do ano que vem.
Em Mauá, o partido conseguiu reeleger o prefeito Marcelo Oliveira no segundo turno. Em Diadema, porém, o atual prefeito, José de Filippi Júnior, foi derrotado –também no segundo turno– por Taka Yamauchi (MDB).
Em 2008, o Partido dos Trabalhadores elegeu 11 prefeitos na Grande São Paulo –o melhor desempenho da legenda na região em 20 anos. O resultado de 2024 se iguala ao de 2016 como o pior para a sigla em 20 anos.
Nas demais regiões do país, as eleições de segundo turno mostraram que o antipetismo segue em alta e como uma importante força política no país, apesar de o presidente Lula chefia e do Executivo federal. Das 26 capitais, o PT conseguiu levar apenas Fortaleza (CE), com Evandro Leitão (PT), e viu o Centrão e a direita tomarem as demais 14 capitais neste domingo (27).
Mesmo levando a capital cearense, a disputa com o Partido Liberal, encabeçado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), dividiu a cidade. Leitão foi eleito prefeito com 50,38% dos votos válidos (716.133 votos), com contra 49,62% (705.295 votos) conquistados pelo deputado federal André Fernandes (PL).
No início de outubro, quando 11 capitais elegeram prefeitos no primeiro turno, o PT e alguns partidos satélites já haviam sido derrotados nas urnas. Além de Rio Branco, no Acre, como sex-petista Marcus Alexandre filiado ao MDB mas apoiado pelo PT e seus satélites de esquerda (PCdoB, PV, Rede), o partido de Lula perdeu em Vitória (ES) e Teresina (PI); o PSOL, em Macapá (AP) e Salvador (BA); e o PSB, em São Luís (MA).
O fracasso se aprofundou neste segundo turno, com a derrota de Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo; de Maria do Rosário (PT) em Porto Alegre (RS); de Natália Bonavides (PT) em Natal (RN); de Lúcio Cabral (PT) em Cuiabá; e de Luiz Roberto (PDT) em Aracaju (SE). Quando observada a região Nordeste, importante reduto eleitoral de Lula, a esquerda também sofreu outra importante derrota. Das nove capitais, sete foram para a direita e o Centrão. Confira:
- São Luís – PSD
- Teresina – UNIÃO
- Fortaleza – PT
- Natal – UNIÃO
- João Pessoa – PP
- Recife – PSB
- Maceió – PL
- Aracaju – PL
- Salvador – UNIÃO
O cientista político Adriano Cerqueira, ouvido pela Rede CNN, a eleição em Fortaleza simbolizou um “suspiro final” para o PT e evidenciou a força emergente do PL. Ele destacou que, apesar da vitória petista na capital cearense, a margem estreita revela a fragilidade do partido e aponta para um futuro desafiador.
“Foi uma vitória milimétrica para o PT, praticamente 50 a 50. O candidato do PL, o André, quase conseguiu vencer, o que mostra a força crescente do partido. Foi uma derrota com sabor de vitória para o PL, enquanto o PT mostrou dificuldades e fragilidade,” analisa Cerqueira. “Embora tenha sido uma conquista em uma capital, talvez se trate de uma vitória de Pirro para o PT, sugerindo um cenário estadual complexo nas próximas eleições”, avaliou o cientista.
Brasil afora, o PSD, que no Acre foi aliado do PT e do MDB nas duas principais do Estado, Rio Branco e Cruzeiro de Sul, foi o grande vitorioso do pleito em nível nacional lidera em número de prefeituras. Ao lado do PL de Bolsonaro, o partido liderado pelo ex-prefeito paulista Gilberto Kassab foi destaque nas grandes cidades.
O PSD termina as eleições municipais de 2024 como sigla mais capilarizada do País, com 887 representantes. A jovem sigla desbancou o tradicional MDB, que encerrou o pleito com 856 prefeitos. Considerando o grupo das 103 cidades com mais de 200 mil habitantes), o PL é a legenda com mais representantes: 16, um a mais do que o PSD. União Brasil e MDB aparecem logo atrás, com 13 e 12, respectivamente. Nas capitais, o cenário foi de empate entre PSD e MDB, com 5 representantes cada um.
Os partidos que compõem o chamado vai governar cidades correspondentes a 74% da população. Os prefeitos eleitos por 6 partidos de “centro” governarão para 156,7 milhões de brasileiros. A legenda que sai das eleições municipais de 2024 com a maior população governada é o PSD, de Gilberto Kassab, com a marca de 36.997.975 pessoas. Pouco mais do que o MDB (36.589.800), que conseguiu a recondução de Ricardo Nunes em São Paulo (SP), maior colégio eleitoral do País. A terceira colocação ficou com o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, com 26.584.089 brasileiros governados.
O candidato derrotado à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (Psol) reconheceu no domingo que a esquerda teve um “resultado eleitoral adverso não só em São Paulo, [mas] em todo o Brasil”.
Seguindo a tendência ao continuísmo observada no primeiro turno, todos os 6 candidatos à reeleição nas capitais venceram: Ricardo Nunes (MDB), em São Paulo (SP); Fuad Noman (PSD), em Belo Horizonte (MG); Sebastião Melo (MDB), Porto Alegre (RS); David Almeida (Avante), em Manaus (AM); Adriane Lopes (PP), em Campo Grande (MS); e Cícero Lucena (PP), em João Pessoa (PB);