Policiais civis citados por delator do PCC executado seguem na ativa

Informação foi confirmada por Osvaldo Nico Gonçalves, coordenador da força-tarefa que investiga o assassinato de Vinícius Gritzbach

Os policiais civis citados na delação premiada feita pelo empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, de 38 anos, executado com tiros de fuzil no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na sexta-feira (8/11), continuam trabalhando normalmente. Eles são investigados pela Corregedoria da instituição e pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP).

O secretário-adjunto da Segurança Pública, Osvaldo Nico Gonçalves, coordenador da força-tarefa criada para investigar o caso, afirmou ao Metrópoles, no início da tarde desta terça-feira (12/11), que aguarda manifestação da Corregedoria da Polícia Civil para o eventual afastamento dos policiais — entre eles, um delegado que integrou os quadros do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).

Sob o argumento de ainda não ter recebido relatório do órgão fiscalizador, Osvaldo Nico acrescentou desconhecer o número total de policiais civis apontados na delação de Gritzbach. “Isso está em um relatório na Corregedoria, que faz o pedido de afastamento. Não chegou nenhum pedido da Corregedoria de afastamento, ainda, para nós. E isso é feito com base em alguma evidência [de crime].”

O secretário-adjunto explicou que as polícias Civil e Militar contam com ordenamentos internos diferentes para justificar afastamentos. No caso da PM, ele destacou ser “mais fácil”. Por esse motivo, oito policiais militares já foram afastados por estarem envolvidos na apuração sobre a execução do empresário.

“O regulamento da PM é diferente do da Polícia Civil. Por terem feito ‘bico’ por fora, descumpriram esse regulamento, aí foram afastados com base nesse argumento, é mais fácil para eles [da PM]. Mas agora, para nós [da Polícia Civil] afastarmos um policial civil, é necessário fazer um processo administrativo, e isso está sendo feito hoje”, afirmou.

Segundo a SSP, os PMs afastados já foram chamados pela corregedoria da corporação para prestar esclarecimentos no inquérito militar que apura o envolvimento do grupo na escolta do empresário assassinado. Eles eram investigados há mais de um mês, segundo a Secretaria da Segurança Pública. Os celulares de todos os policiais que estavam no dia do crime foram apreendidos e passam por perícia.

Sobre o prazo para afastar os policiais civis, Osvaldo Nico não soube precisar. “Vai depender do que tem de evidência contra eles”, justificou.

Acordo de delação

Morto com tiros de fuzil no Aeroporto Internacional de São Paulo, Vinícius Gritzbach havia feito acordo de delação premiada com o MPSP em que acusou policiais de quatro delegacias da Polícia Civil paulista de corrupção, além de entregar o esquema de lavagem de dinheiro que operou para integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Polícia Civil, o MPSP e a Polícia Federal (PF) ainda investigam quem são os mandantes e os executores do assassinato de Gritzbach. Os depoimentos prestados pelo empresário no âmbito do acordo de delação premiada ainda estão sob sigilo.

O acordo foi celebrado em março deste ano com os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), após meses de negociação, e homologado em abril pelo juiz Leonardo Valente Barreiros, da 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro da capital.

No termo de cooperação, Gritzbach se comprometeu a pagar multa de R$ 15 milhões em troca do perdão judicial na ação por organização criminosa, redução de pena nos crimes de lavagem e regime aberto em caso de condenação.

Veja vídeo que mostra ataque a delator do PCC no Aeroporto de Guarulhos

Segundo o acordo de delação, obtido pelo Metrópoles, o empresário se dispôs a passar informações sobre a lavagem de dinheiro dos integrantes do PCC Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, Cláudio Marcos de Almeida, Django, ambos mortos, e Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, além de informações referentes a atos de corrupção envolvendo delegados e policiais do DHPP, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), do 24º DP (Ponte Rasa) e do 30º DP (Tatuapé), na zona leste.

Em um dos anexos da proposta de colaboração apresentada pela defesa de Gritzbach ao MPSP, no fim de 2023, o empresário afirma ter áudios que “comprovam ilicitudes e arbitrariedades de Fabio Baena e toda sua equipe, como Rogerinho, Eduardo Monteiro e outros”, todos do DHPP à época. A equipe de Baena conduziu a investigação dos assassinatos de Anselmo Santa Fausta e Antônio Corona Neto, o Sem Sangue, em 2021. Gritzbach foi denunciado por envolvimento nas duas mortes e sempre negou os crimes.

Cara Preta era membro do alto escalão do PCC e recaía sobre ele a suspeita de manter movimentações de até R$ 200 milhões. Investigadores atribuem a morte dele a Gritzbach, em razão de um desentendimento entre os dois. Segundo o MPSP, o empresário teria mandado matar o traficante após ser cobrado por uma dívida em um investimento em bitcoins. Quando foi preso e antes de fazer delação premiada, em 2022, Gritzbach afirmou ter conhecido Django e Cara Preta como bicheiros e agentes de atletas de futebol.

Execução

Vinícius Gritzbach foi morto com tiros de fuzil após desembarcar no Aeroporto de Guarulhos, na sexta-feira, ao voltar de uma viagem a Maceió com a namorada. Homens encapuzados desceram de um carro, na área de embarque e desembarque, e começaram a atirar. Foram 29 disparos, segundo a polícia. Além do empresário, o motorista de aplicativo Celso Araújo Sampaio de Novais morreu.

Quatro policiais militares eram responsáveis pela segurança de Gritzbach no momento do ataque. Todos estão afastados e são investigados por suspeita de envolvimento no crime. Nos primeiros depoimentos prestados, eles disseram que, instantes antes do ataque ao empresário, pararam em um posto de combustíveis para lanchar, enquanto aguardavam a chegada do empresário.

Segundo eles, quando decidiram ir em direção ao aeroporto, uma das caminhonetes em que estavam não funcionou. Apenas um dos PMs teria ido até o local, acompanhado do filho de Gritzbach. Um outro PM acompanhou o empresário na viagem a Alagoas e disse à polícia, nessa segunda-feira, não ter percebido qualquer movimentação suspeita no aeroporto, segundo seu defensor. “Nós só queremos descobrir a verdade e achar os verdadeiros culpados dessa situação”, afirmou o advogado Guilherme Flauzino.

PUBLICIDADE