O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que criticou a decisão do atual mandatário, Joe Biden, de emitir um indulto presidencial para o próprio filho Hunter Biden, também perdoou um parente quando ocupou pela primeira vez a Casa Branca. Perto do fim do mandato, em 2020, o republicano concedeu clemência ao sogro de sua filha Ivanka Trump, Charles Kushner, pai de Jared Kushner.
Kushner havia sido condenado a dois anos de prisão em 2005, por sonegação fiscal, doações ilegais de campanha e coação de testemunhas. As investigações apontaram que o sogro de Ivanka contratou uma prostituta para seduzir o cunhado e teria enviado um registro do encontro para a irmã. Recentemente, Trump afirmou que pretende nomear o ex-condenado para ser embaixador na França.
Nem Trump nem Biden, no entanto, foram os primeiros presidentes dos Estados Unidos a usarem a prerrogativa do chefe da Casa Branca para beneficiar parentes. O ex-presidente democrata Bill Clinton perdoou seu meio-irmão Roger antes do fim do segundo mandato. Roger Clinton Jr. havia sido condenado por um crime relacionado à cocaína em 1985, acusação da qual se declarou culpado.
O pai de Jared Kushner e o irmão de Clinton receberam o perdão depois de ficarem um tempo na prisão. Hunter Biden, por sua vez, ainda não havia passado pela audiência de sentença.
O filho de Biden havia sido condenado em um processo federal por mentir sobre o uso de drogas para comprar uma arma e processado por evasão fiscal — acusação pela qual se declarou culpado. Trump classificou a medida do democrata como um “abuso” e comparou a situação com a de seus apoiadores presos após a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. Chamou-os de “reféns”, em meio à expectativa de que recebam do futuro chefe da Casa Branca um perdão semelhante.
“O perdão dado por Joe a Hunter inclui os reféns J-6, que estão presos há anos? Que abuso e erro judiciário!”, postou o presidente eleito, na plataforma Truth Social.
Anunciado no domingo, o indulto de Biden funciona como um perdão total e incondicional aos atos praticados pelo filho entre 1º de janeiro de 2014 e 1º de dezembro de 2024.
Prestes a deixar a Casa Branca após desistir de concorrer à reeleição e ver Kamala Harris ser derrotada por Trump nas urnas no mês passado, Biden utilizou o poder do cargo em benefício do próprio filho. Em um comunicado divulgado por sua equipe, o presidente argumenta que Hunter teria sido condenado em um julgamento politicamente motivado, o que justificaria a clemência concedida.
“Nenhuma pessoa razoável que analise os fatos dos casos de Hunter pode chegar a qualquer outra conclusão além de que ele foi alvo apenas porque é meu filho — e isso está errado”, disse o comunicado, chamando a condenação do filho de Biden de “desvio judicial”.
Hunter Biden foi condenado no início deste ano por mentir sobre uso de drogas ao comprar uma arma, o que é crime nos Estados Unidos, tornando-se o primeiro filho de um presidente em exercício a ser julgado e condenado criminalmente. Os fatos se passaram em 2018, quando ele passou por uma fase de abuso de uso de drogas, incluindo crack — informação que omitiu ao preencher um formulário federal para a compra de uma arma de fogo. À época da condenação, Hunter se disse “decepcionado” com a decisão.
Outro processo criminal contra o filho mais novo de Biden — Beau, o filho mais velho, morreu em 2015 vítima de um câncer no cérebro — o acusava do não pagamento de US$ 1,4 milhão (R$ 8,3 milhões no câmbio atual) em impostos nos anos fiscais de 2016 a 2019, enquanto mantinha um estilo de vida luxuoso. As acusações incluíam três crimes graves e seis delitos fiscais, com pena de até 17 anos de prisão. Em setembro, ele se declarou culpado das acusações.
Enquanto o filho enfrentava as acusações na Justiça, Biden afirmou repetidamente que não interferiria em seus problemas legais. A secretária de imprensa da Casa Branca chegou a declarar que Biden não concederia um perdão a Hunter, em um discurso em setembro.
Ao mesmo tempo, os casos criminais contra o presidente eleito Trump foram suspensos após uma decisão abrangente da Suprema Corte sobre imunidade presidencial — praticamente garantindo que o republicano provavelmente nunca verá a prisão, mesmo após sua histórica condenação por falsificação de registros comerciais em maio.
“Eu acredito no sistema de justiça, mas, enquanto luto com essa questão, também acredito que a política crua infectou esse processo e levou a um desvio judicial”, acrescentou Biden.
Após o anúncio de Biden, Hunter emitiu uma declaração:
“Admiti e assumi a responsabilidade pelos meus erros durante os dias mais sombrios do meu vício — erros que foram explorados para humilhar e envergonhar publicamente a mim e minha família por esporte político”, disse ele. “Nunca tomarei a clemência que me foi dada hoje como garantida e dedicarei a vida que reconstruí para ajudar aqueles que ainda estão doentes e sofrendo”.
Hunter expressou alívio, mas também alguma amargura sobre o que percebeu como um processo desnecessário, depois que seu pai lhe disse que ele estava sendo perdoado quando a família se reuniu em Nantucket, Massachusetts, para o feriado de Ação de Graças, de acordo com duas pessoas familiarizadas com a situação. (Com AFP e NYT)