Entre os elementos encontrados nos produtos adulterados estavam soda cáustica, utilizada para ajustar o pH do leite, e água oxigenada, aplicada para eliminar micro-organismos em produtos vencidos. Além disso, análises revelaram a presença de pelos de animais em embalagens, expondo sérias falhas nos processos de produção e armazenamento.
Fraude sofisticada e riscos à saúde pública
A adulteração do leite envolvia técnicas elaboradas para mascarar problemas de qualidade. A soda cáustica, produto corrosivo e potencialmente cancerígeno, era usada para equilibrar a acidez do leite, dificultando a identificação de irregularidades nos testes de controle. A água oxigenada, por sua vez, servia para higienizar e “recuperar” produtos lácteos já fora do prazo de validade, permitindo sua revenda como se fossem novos.
Os riscos para a saúde pública são graves. A ingestão de soda cáustica pode causar irritações severas no sistema digestivo, além de estar associada ao desenvolvimento de câncer. Já a água oxigenada pode provocar intoxicações e outros problemas de saúde quando consumida. A presença de pelos de animais e embalagens sujas apenas reforça o desleixo e a negligência nos padrões de higiene.
Quem é o “Alquimista” por trás das fraudes
Sérgio Alberto Seewald, o “Mago do Leite”, foi identificado como o principal mentor das fraudes. Ele já havia sido alvo da quinta fase da Operação Leite Compen$ado, em 2014, quando foi proibido de atuar no setor de laticínios. Apesar dessa proibição, Seewald foi flagrado nas dependências da Dielat, onde continuava a desenvolver métodos sofisticados para burlar os sistemas de controle de qualidade.
Conforme as investigações, Seewald tinha conhecimento detalhado sobre as quantidades de soda cáustica necessárias para adulterar o leite sem que as alterações fossem detectadas nos exames laboratoriais. Essa habilidade fez dele um personagem central em um dos maiores escândalos recentes do setor de alimentos no Brasil.
Condições precárias e produtos contaminados
Durante a operação, os agentes do MP-RS encontraram produtos vencidos armazenados de forma inadequada, com traças e sujeira visíveis. Amostras coletadas nas instalações da empresa revelaram pelos de animais nas embalagens, levantando questionamentos sobre as condições de higiene e segurança alimentar na produção.
Essas descobertas resultaram não apenas em sanções criminais, mas também administrativas contra a empresa Dielat. O impacto dessas irregularidades é amplificado pelo fato de que a Dielat fornecia produtos para escolas e órgãos públicos, expondo consumidores vulneráveis, como crianças, a riscos significativos.
Impacto da operação no mercado lácteo
A Operação Leite Compen$ado começou em 2013 e, desde então, já realizou 13 fases, desvendando diversos esquemas de adulteração no setor lácteo. Essas práticas fraudulentas têm gerado um impacto negativo na confiança do consumidor e expõem as fragilidades nos sistemas de controle e fiscalização.
No caso específico da Dielat, os produtos adulterados eram amplamente distribuídos no mercado brasileiro sob marcas como Mega Lac e Mega Milk. A empresa também exportava para a Venezuela, onde utilizava a marca Tigo, o que eleva a dimensão do escândalo a um nível internacional.
Reações das autoridades e do setor produtivo
O Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat) repudiou veementemente as ações da Dielat, reforçando que casos como esse vão contra os esforços contínuos para elevar os padrões de qualidade do leite no estado. O leite produzido no Rio Grande do Sul é considerado o mais fiscalizado do Brasil, com normas rigorosas impostas por diferentes órgãos reguladores.
No entanto, o caso da Dielat mostra que ainda há brechas no sistema, que precisam ser corrigidas para evitar novos episódios de fraude. Representantes do setor pedem penas severas para os envolvidos, tanto para responsabilizá-los quanto para prevenir futuras infrações.
Histórico de fraudes na Operação Leite Compen$ado
A Operação Leite Compen$ado já revelou uma série de esquemas criminosos ao longo de suas 13 fases:
- Adição de ureia e formol (2013): Na primeira fase, transportadores adicionavam ureia ao leite para mascarar a diluição com água.
- Soda cáustica e água oxigenada (2014): Descobertas grandes quantidades de soda cáustica em empresas da região.
- Leite azedo e contaminado (2015): Investigação revelou a venda de leite impróprio para consumo como se fosse saudável.
- Produtos com larvas (2015): Áudios de suspeitos indicaram tentativas de comercializar leite contaminado.
- Coliformes fecais e amido (2017): Investigações encontraram níveis alarmantes de contaminação em produtos lácteos.
Esses episódios mostram um padrão recorrente de práticas fraudulentas, evidenciando a necessidade de fiscalização mais rigorosa e penalidades mais severas.
O impacto nos consumidores
Casos de adulteração de leite não apenas prejudicam a saúde dos consumidores, mas também abalam a confiança no setor. O leite é um alimento essencial, consumido diariamente por milhões de pessoas, incluindo crianças e idosos, que são mais vulneráveis aos efeitos de produtos contaminados. Escândalos como o da Dielat comprometem a reputação de produtores honestos e podem levar a perdas econômicas significativas.
Medidas necessárias para evitar novas fraudes
Para combater práticas como as reveladas na Operação Leite Compen$ado, especialistas sugerem:
- Maior rigor na fiscalização: Aumento da frequência e abrangência dos testes de qualidade.
- Rastreabilidade dos produtos: Implementação de sistemas que permitam verificar a origem e o caminho percorrido pelos produtos lácteos.
- Educação do consumidor: Campanhas informativas para que os consumidores identifiquem sinais de adulteração nos produtos.
- Sanções exemplares: Aplicação de penas severas para empresas e indivíduos envolvidos em fraudes.
Desdobramentos da investigação
A investigação contra a Dielat continua, com análises laboratoriais em andamento para determinar a extensão da contaminação. As amostras coletadas serão cruciais para embasar as acusações contra os envolvidos e garantir que a empresa seja responsabilizada por suas ações. Além das prisões já realizadas, outras medidas judiciais podem ser tomadas para desarticular completamente o esquema.
A importância de operações como esta
A Operação Leite Compen$ado serve como um marco no combate a fraudes alimentares no Brasil. Além de expor práticas criminosas, a operação reforça a importância de mecanismos de controle e da colaboração entre autoridades, consumidores e o setor produtivo. Somente com ações integradas será possível garantir que alimentos seguros e de qualidade cheguem à mesa dos brasileiros.