Papa pede para ‘silenciar as armas’ na Ucrânia e em Gaza, onde ele denunciou uma ‘situação humanitária muito grave’

Diante de milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro, no Vaticano, Francisco, de 88 anos, leu sua tradicional mensagem de Natal, antes de dar a bênção 'urbi et orbi'

Silenciar as armas e superar as divisões; derrubar todos os muros de separação, ideológicos e materiais; perdoar as dívidas, especialmente aquelas que sobrecarregam os países mais pobres. Em sua tradicional mensagem de Natal e antes de dar a bênção “urbi et orbi” (à cidade e ao mundo), o Papa Francisco explicou nesta quarta-feira o significado do Jubileu de 2025 — que ele inaugurou ontem à noite ao abrir a Porta Santa da Basílica de São Pedro — e lançou um forte apelo para que não tenhamos medo de dar passos em direção à reconciliação e à paz, “mesmo com nossos inimigos” e para que sejamos “peregrinos da esperança”.

— Todos nós somos como ovelhas perdidas e precisamos de um Pastor e de uma Porta para voltar à casa do Pai. Jesus é o Pastor, Jesus é a Porta. Irmãos e irmãs, não tenham medo. A porta está aberta, bem aberta. Venham, reconciliemo-nos com Deus, e então nos reconciliaremos com nós mesmos e poderemos nos reconciliar uns com os outros, até mesmo com nossos inimigos — disse ele, aparecendo ao meio-dia no horário local (8h em Brasília) na varanda central da Basílica de São Pedro.

Diante de milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro, no Vaticano, Jorge Bergoglio, de 88 anos, denunciou novamente a situação humanitária “muito grave” na Faixa de Gaza e pediu um cessar-fogo e a libertação dos reféns israelenses ainda em poder do Hamas.

Na noite de terça-feira, durante a missa de Natal, ele já havia pedidos aos fiéis para pensar em “guerras, em crianças metralhadas, em bombas em escolas ou hospitais”, aludindo aos bombardeios de Israel em Gaza, cuja “crueldade” ele denunciou esta semana, provocando protestos da diplomacia israelense.

O Papa também pediu a facilitação da ajuda humanitária no Sudão, devastado pela guerra, onde a fome que afeta milhões de pessoas deslocadas pode se espalhar, de acordo com as Nações Unidas. Dezenas de milhares de pessoas foram mortas pelo conflito e 12 milhões de sudaneses foram deslocados à força, causando a maior crise de deslocamento do mundo, segundo a ONU.

Francisco, que citou nada menos que 18 países, lembrou o Haiti, a Venezuela, a Colômbia e a Nicarágua entre eles, pedindo que “soluções efetivas sejam encontradas o mais rápido possível na verdade e na justiça, para promover a harmonia social”.

O jesuíta também enviou uma mensagem à Ucrânia, que pela segunda vez em sua história moderna celebra o Natal em 25 de dezembro, e não em 7 de janeiro, como no calendário juliano da Igreja Ortodoxa Russa.

— Que as armas se calem na martirizada Ucrânia. Que haja a audácia de abrir a porta para negociações (…) para alcançar uma paz justa e duradoura — declarou ele, horas depois que a Rússia lançou mais de 70 mísseis contra a rede de energia ucraniana.

Sem mencionar os Estados Unidos, onde o presidente eleito Donald Trump está ameaçando expulsar milhões de migrantes, o Pontífice pediu para “derrubar todos os muros de separação: os ideológicos, que tantas vezes marcam a vida política, e os materiais”.

O Papa também renovou seu apelo para cancelar a dívida dos países mais pobres por ocasião do Jubileu 2025, o “Ano Santo” da Igreja Católica, que ele lançou na terça-feira, organizado a cada 25 anos e para o qual são esperados mais de 30 milhões de peregrinos em Roma.

— Entrar pela Porta requer o sacrifício de dar um passo à frente, de deixar para trás as contendas e as divisões, para nos abandonarmos nos braços abertos do Menino que é o Príncipe da paz — explicou. — Neste Natal, início do Ano Jubilar, convido todas as pessoas, todos os povos e nações a terem a coragem de atravessar a Porta, a se tornarem peregrinos da esperança, a silenciar as armas e superar as divisões.

(Com La Nación)

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