CV mantinha cemitério clandestino; polícia encontra 12 corpos

Polícia acredita que cemitério clandestino, em Lucas do Rio Verde (MT), era utilizado por facção desde 2022. Corpos estavam amarrados

A Polícia Civil de Mato Grosso descobriu a existência de um cemitério clandestino vinculado à facção criminosa Comando Vermelho (CV), em Lucas do Rio Verde (MT), cidade que fica a 332 quilômetros da capital Cuiabá. No local, foram encontradas, até então, seis ossadas humanas e seis cadáveres, contabilizando 12 vítimas.

O que aconteceu:

  • Um cemitério clandestino, em Lucas do Rio Verde (MT), com restos mortais de 12 pessoas foi encontrado pela Polícia Civil na sexta-feira (10/1).
  • A investigação atribui o cemitério clandestino à facção criminosa Comando Vermelho (CV).
  • A polícia acredita que o local tenha sido utilizado por integrantes da facção desde 2022, pelo menos.
  • Quatro das vítimas já foram identificadas, entre elas um venezuelano.

As suspeitas em torno da existência de um cemitério clandestino na cidade começaram em 2024, depois da recorrência de denúncias de casos de sequestros, desaparecimentos e até mortes, sem a devida localização da vítima. Na sexta-feira (10/1), após novas buscas, a polícia chegou ao local exato: uma área de mata que fica nos fundos do bairro Tessele Júnior.

No mesmo dia, 11 corpos foram encontrados. Eles estavam enterrados em covas próximo uma das outras e com as pernas e mãos amarradas, o que indica, segundo a investigação, a prática de tortura antes dos assassinatos. A última ossada foi localizada nessa segunda-feira (13/1) por uma equipe do Corpo de Bombeiros, que seguiu trabalhando no local, com ajuda de um cão farejador.

Veja:

 

Até o momento, quatro vítimas foram identificadas. São elas: Rafael Pereira de Souza, de 34 anos, natural de Rondonópolis (MT); Wilmer Alex de Oliveira Silva, 29 anos, de Poxoréu (MT); Mateus Bonfim de Souza, 18, de Lucas do Rio Verde (MT); e o venezuelano Andris David Mattey Nadales, 19, que teria se mudado para a região para trabalhar em um frigorífico.

Nesses casos, segundo o delegado da cidade, Allan Vitor Sousa da Mata, a identificação foi rápida, pois os corpos estavam em melhor estado de conservação e foi possível fazer a análise das impressões digitais. Os quatro eram considerados desaparecidos. A Perícia Oficial e Identificação Técnica de Mato Grosso (Politec) prossegue com o trabalho para identificar as demais vítimas.

Divulgação/Polícia Civil de Mato Grosso

Cemitério funcionava desde 2022, diz polícia

A polícia acredita que o cemitério clandestino tenha sido utilizado pelos integrantes da facção desde 2022, pelo menos. Além do nível de decomposição dos corpos e das ossadas, que revela o efeito do tempo, a localização facilitava a logística dos assassinatos. “É um local próximo da cidade. O que separa a mata do bairro é somente uma via de mão dupla”, diz o delegado.

Allan Vitor relatou ao Metrópoles que os agentes chegaram a fazer buscas na mesma mata, no ano passado, mas não conseguiram encontrar nada. “É uma área muito extensa, e de mata fechada”, descreve. Desta vez, no entanto, a investigação chegou ao ponto exato. A presença de colchões abandonados, vestimentas, cordas e alimentos facilitaram a descoberta.

Nas primeiras escavações, os policiais encontraram três corpos. Diante da suspeita de que poderia haver mais cadáveres, eles solicitaram o apoio dos bombeiros e da Politec para isolar a área e expandir as buscas. “As covas estavam bem próximas, no mesmo ponto. Tanto que o Corpo de Bombeiros ampliou as escavações para até 100 metros lateralizados e não encontrou mais nada”, conta Allan.

Presença do Comando Vermelho

Lucas do Rio Verde é uma das dezenas de cidades de Mato Grosso com presença de facções criminosas. Há uma certa predominância e domínio do Comando Vermelho, mas o estudo Cartografias da Violência na Amazônia, divulgado no final de 2024 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, colocou o município entre os que enfrentam a guerra entre CV e Primeiro Comando da Capital (PCC).

O delegado do município diz desconhecer o contexto de disputa, apontando, apenas, o domínio do CV. Os motivos que levaram aos assassinatos, segundo ele, variam entre vingança, venda de drogas sem autorização da facção, suspeita de participação em outras facções, gestos com a mão relacionados a grupos rivais, dentre outros.

Após a descoberta do cemitério clandestino, a investigação segue na identificação de cada um dos cadáveres para que seja possível fazer a devida vinculação criminosa e individualização dos casos. Allan Vitor diz que já existem alguns suspeitos identificados. Os mandantes, segundo ele, são líderes do CV que vivem em outras cidades, mas que acompanham e ordenam tudo por chamadas de vídeo.

PUBLICIDADE