Ele passou a maior parte de sua vida subindo e descendo os rios da região do Purus, principalmente o Macauã, onde, há 60 anos, na fase da “sobrevida” da borracha, a família desse simpático senhor se fixou.
O pai, Alcides Alves dos Reis foi vereador, professor e funcionário do Tribunal de Justiça do Acre. “Mas o que dava dinheiro mesmo era a borracha. Fui seringueiro por muitos anos e depois me tonei regatão, essa profissão tão antiga quanto o povoamento desses rios”, disse Agesislau Ferreira Reis, de 69 anos, mais conhecido por Zeca do Alcides, contemplando a paisagem bucólica.
Zeca, que nasceu no dia 11 de junho de 1948 no seringal Riozinho, colocação Macapá, no rio Macauã, casou com Francisca Oliveira Magalhães, 69 anos, depois de dois anos de namoro. “Nos conhecemos na comunidade Lua Nova, assim que minha família veio morar em Sena. Ela é o amor da minha vida”, revela.
Do casamento que já dura mais de 40 anos, eles tiveram sete filhos: Agesildo, Del, Airton, Gesse, Alcileide, Aldineide e Aldicelia. Todos moram em uma vila povoada pela família às margens do Rio Iaco, que fica a três quilômetros da cidade.
Esse generoso comerciante do rio, que ajuda muita gente, principalmente os mais necessitados, é um apaixonado pela região e as pessoas que o cercam. “Não gosto de morar na cidade. Lá tem muitos aperreios e os desmantelos são grandes”, assim resume Zeca.
As expressões do “homem das águas” deixam a entender que ele se refere à violência, principalmente em Sena Madureira. “Não tem mais jeito. As autoridades perderam o controle”, assim concebe ele, atribuindo às desocupações dos seringais à principal causa do desemprego e da violência.
No meu tempo de juventude, a gente estudava, trabalhava, pescava, caçava, dançava e namorava muito. “Essa juventude está perdida, muitos não querem saber de estudar e também não têm perspectiva de trabalho”, opina Zeca, para quem os governos deveriam criar programas de incentivo à cultura, ao esporte e ao primeiro emprego para os jovens.
Morando há 45 anos numa propriedade de 18 hectares, que foi repartida com os filhos, ele se dedica à família, principalmente os 15 netos e dois bisnetos que possui. “Aqui é meu refúgio. Sou um homem realizado porque tenho tudo que preciso”, declarou o regatão.
O olhar distante dele são as lembranças da grande circulação de dinheiro, advindas do “ouro negro”. “Eu cheguei a cortar quase uma tonelada de borracha por ano. Seringueiros, patrões, comerciantes todos ganhavam dinheiro”, recordou o homem, com uma expressão feliz e nostálgica.
“Meu pai é um guerreiro, um homem que lutou a vida inteira para dar o melhor aos seus filhos. Como pai é muito companheiro. Hoje moramos todos juntos em um paraíso construído por ele. Somos uma família de sete irmãos e muito unida”, diz o jovem cinegrafista Airton Magalhães, filho caçula de Zeca.
No dia 11 de junho, Zeca reuniu os amigos e parentes para comemorar 69 anos de idade. A publicitária Charlene Lima e a jornalista Wania Pinheiro participaram do animado evento ocorrido na casa do ex-seringueiro, situada à margem esquerda do majestoso Rio Iaco.
“Estou emocionada com o convite feito pelo Zeca para participar de um momento tão lindo e tão importante na vida dele, da sua família e de todos os seus amigos. O Zeca é história viva, um homem que conhece os rios de Sena como poucas pessoas”, destaca Charlene.
Para a jornalista Wania Pinheiro, histórias de homens como Zeca do Alcides precisam ser registradas: “as futuras gerações precisam conhecer as pessoas que ajudaram a desbravar e desenvolver nosso estado. o Zeca é o homem das águas, que navega há mais de 50 anos pelos nossos rios, sendo um profundo conhecedor da história dos ribeirinhos”.