Desagravo
Como previsto, o governador Tião Viana saiu em defesa do correligionário e amigo Luiz Inácio Lula da Silva, citado no depoimento dado por seu ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci ao juiz Sérgio Moro.
Antecedentes
Antes das considerações, um fato: Lula é um sujeito condenado a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Confetes
Pois bem, em uma nota curta, o governador do PT do Acre reafirmou sua plena confiança “na dignidade e na inocência” de Lula, “o presidente da República mais honrado, íntegro e digno que esse país já teve”.
Lula e Tião Viana/Foto: Reprodução
Metáfora sobre o tempo
Insinuando a parcialidade nos julgamentos feitos pelo juiz Moro, prossegue o governador dizendo esperar “que a justiça sem partidarismo siga os princípios dos direitos romano e alemão, estando preservada e viva após essa tempestade”.
Entrelinhas
Tião Viana é um homem culto. E por sê-lo, não mencionaria o direito Alemão se não soubesse que seu aprimoramento se deve ao escândalo envolvendo o maior político pós-Segunda Guerra do país, cuja impunidade obrigou a medidas, digamos, profiláticas.
Celebridade suspeita
Tal escândalo de corrupção teve como protagonista o ex-chanceler federal Helmut Kohl, uma sumidade diversa indicada ao Prêmio Nobel da Paz. Os fatos nunca foram esclarecidos porque ele se recusou a revelar a origem dos milhões de marcos que enchiam clandestinamente o caixa do seu partido, a União Democrata Cristã. Pra efeito de comparação, Lula é uma versão terceiro-mundista de Kohl.
Livre, leve e solto
Helmut Kohl nunca foi preso. Fechou um acordo com a promotoria de Bonn – antiga capital alemã – que previa o arquivamento do caso mediante o pagamento de multa equivalente a 350 mil euros.
Esperteza
Eis o direito alemão a que se refere o governador do Acre, tomando-o como exemplo para um país demolido pelos sucessivos escândalos patrocinados pelos governos do PT e cujos habitantes se quedam enojados com o despudor dos que se esmeram na defesa do indefensável.
O inconsciente fala
A conclusão óbvia decorrente da exaltação de Tião Viana ao direito alemão é que ele, no fundo, deseja que Lula – a despeito de todas culpas que lhe são imputadas e diante da hipótese de que as confesse uma a uma –, receba o mesmo tratamento dado a Helmut Kohl.
Esqueceram de mim
Há outro detalhe interessante na nota divulgada pelo governador e assinada, também, por sua vice, Nazaré Araújo: o texto não reserva uma única palavra sequer à ex-presidente Dilma, também citada nas graves denúncias feitas por seu ex-ministro da Casa Civil.
Economizando munição
Não se trata de lapso de memória, mas de puro oportunismo. Tendo Dilma caído em desgraça – e estando longe de ser uma estrela do partido como Lula –, o melhor a fazer, como diz o caboclo sabido, é não gastar munição com capivara morta.
Buraco mais embaixo
Some-se a tudo isso o fato de que Tião não dedicou tempo a rascunhar também um desagravo ao prefeito Marcus Alexandre, quando da notificação que o obriga a ressarcir os cofres públicos por lambanças cometidas nas obras BR-364, e teremos diante dos olhos o tamanho do buraco no qual o PT se meteu. Pena que todos nós tenhamos sido levados juntos…
Sem “encheção”
E como o feriadão tratou de minar os assuntos políticos, a coluna não vai recorrer ao expediente de “encher linguiça” (como se diz no jargão jornalístico em referência à obrigação de se produzir matéria mesmo quando não há assunto), e menos ainda a paciência do leitor. Bom feriado a todos.
