Substância usada no perfume Chanel nº5 vem da Amazônia

Ao lado da Rodovia Zeferino Vaz, uma das entradas da cidade de Campinas, uma área verde chama a atenção. São os jardins do centenário Instituto Agronômico de Campinas, o IAC. Ali dentro, pesquisas muito importantes para o País são feitas todos os dias. Melhoramentos de espécies para que o cultivo seja cada vez melhor.

Agora o que pouca gente imagina é que ali também é possível mergulhar num mundo de aromas e sensações inesquecíveis. O IAC possuiu uma coleção de plantas medicinais e aromáticas, uma das mais antigas e importantes do País. Trezentas espécies perfumam um jardim sensorial. O lugar é apresentado para a equipe do Terra da Gente pela pesquisadora Eliane Gomes Fabri.

Na coleção se encontra de tudo: remédios, corantes, perfumes e muitos sabores. E apesar de tantas pesquisas, muitas dessas plantas ainda têm substâncias desconhecidas até mesmo pelos pesquisadores.

Um exemplo são os óleos que podem ser extraído delas. São os chamados óleos essenciais, retirados por meio de um destilador, ou os óleos lipídicos, resultado do esmagamento da semente.

Os óleos essenciais e lipídicos já não são usados apenas na medicina alternativa e em receitas caseiras. Em grandes laboratórios são matéria-prima de medicamentos e de produtos como cremes e maquiagem.

Óleos essenciais são extraídos de plantas medicinais e aromáticas/Foto: Thiago Arruda

O IAC desenvolve várias pesquisas com os óleos para a indústria de perfumaria e cosmética. Uma delas envolve o linalol natural, presente na fórmula de perfumes como o Chanel nº 5, que ganhou fama como o preferido da atriz Marilyn Monroe. O linalol é um componente do óleo extraído de uma espécie da flora amazônica, o pau-rosa.

Na década de 1960, o grande interesse pelo linalol elevou o preço do componente, o que motivou o surgimento de produtos similares, sintéticos. Mas a perfumaria fina continuou atrás do linalol autêntico. Tanto que na década de 90 o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) proibiu o corte e a extração do pau-rosa. Algumas empresas conseguiram na Justiça o direito de manter a exploração desta árvore e até hoje perfumistas do mundo inteiro usam a matéria-prima que vem da Amazônia.

Como o pau-rosa está na lista de espécies em extinção, várias são as tentativas de encontrar outras opções para a produção do linalol. Uma das pesquisas descobriu que a substância também está presente no manjericão, por exemplo.

Alquimia da natureza

Num dos laboratórios do IAC está guardado o tesouro: um armário com cerca de 500 vidrinhos com a “poção mágica”. São óleos – muitos raros – das mais variadas plantas que se pode imaginar.

“Os perfumistas enlouquecem quando veem isso”, diverte-se a pesquisadora Eliane. Algumas fontes da “magia” estão bem perto, do lado de fora do prédio, como o único exemplar de ylang ylang, cujo óleo também é uma das matérias primas do Chanel nº 5, um dos perfumes mais vendidos do mundo. Ylang ylang, originário das Filipinas, quer dizer “flor das flores” e é uma espécie de difícil germinação, explica Eliane.

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