Uma bebê 2 meses foi atendida de forma improvisada em uma caixa de papelão em um pronto-socorro de Santa Bárbara d’Oeste (SP), cidade de 180 mil habitantes que não possui na rede pública leitos de Unidade de Terapia Intensiva para crianças. A imagem da recém-nascida dentro do caixote gerou indignação nas redes sociais, mas, segundo a Secretaria de Saúde, na falta da UTI, a manobra da equipe de médicos e enfermeiros foi o que salvou a vida da criança.
De acordo com a família, a criança chegou ao pronto-socorro com dificuldades para respirar, e os enfermeiros e médicos improvisaram a estrutura para reproduzir o funcionamento de um equipamento de oxigenação. Após o atendimento, a bebê foi encaminhada para a UTI da cidade vizinha Sumaré (SP), onde permanece internada.
Segundo a mãe da criança, Ariany Duarte da Fonseca, de 26 anos, o caso aconteceu na manhã de quarta-feira (27). A bebê Alice Emanuele foi levada ao Pronto-Socorro Afonso Ramos para fazer inalação por recomendação médica. “Aí a enfermeira viu que ela estava forçando muito para respirar e que os sinais vitais dela estavam baixos”, conta.
O pronto-socorro onde Alice estava não tinha UTI Neonatal, e com o quadro de saúde da menina, a equipe de enfermagem resolveu fazer o atendimento emergencial improvisando a tenda usada na UTI para oxigenação.
“Como não tinha lá [a tenda], precisava colocar o dreno. O dreno tinha, mas só de adulto. Eles tentaram cortar e colocar, só que ela estava muito agitada e batia, e ficava saindo”, conta Ariany. “Aí improvisaram tipo uma tenda, que é a caixinha [de papelão], colocaram a mangueira do oxigênio dentro pra ela ficar ali um pouco, pra ela ficar mais calma e ser transportada.”
A mãe conta que ela ficou cerca de meia hora na caixa até conseguir a vaga na UTI pediátrica do Hospital Estadual de Sumaré (SP), e logo depois ela foi transferida para a instituição. A foto da bebê na caixa de papelão foi postada por uma prima de Ariany no Facebook, agradecendo a equipe de enfermagem por ter salvado a vida da criança. Segundo a família, a equipe de enfermeiros fez o que era possível com a falta de estrutura na unidade.
Problemas de saúde
Ariany explica que Alice começou a ter problemas de saúde com 14 dias de vida, quando ao ser atendida pelo médico, foi diagnosticada com rinite alérgica. “Aí ela começou a tossir, a ficar rouca, levava no hospital, falavam que era gripe e fazia inalação. Aí ela começou a piorar e foi quando o médico tirou o raio-X e falou que ela estava com bronquiolite.”
A mãe afirma que, por causa do problema de saúde, ao arrotar depois de mamar, Alice acabou aspirando de volta possivelmente o catarro. A situação causou um quadro de pneumonia no pulmão direito da bebê, segundo Ariany, que fez com que ela tivesse dificuldades para respirar.
Como erro, a mãe culpa a demora para fazer o raio-X e descobrir o problema para ter o atendimento correto. “Quando ela veio a primeira vez [no hospital], a médica disse pra mim que era preciso cinco dias de gripe pra tirar o raio-X. Com cinco dias de gripe ela forçava muito pra respirar. Esperaram ela ficar bem ruim pra poder [ter esse atendimento].”
Alice é a quarta filha de Ariany e faz um mês e vinte dias de vida nesta sexta-feira (29). A bebê continua internada na UTI do hospital em Sumaré, e segundo a mãe, a instituição informou que ela está sendo medicada e precisa aguardar uns dias para a bebê respirar melhor e ter alguma posição sobre o estado de saúde de Alice.
Atendimento no pronto-socorro
Por nota, a Secretaria da Saúde de Santa Bárbara d’Oeste informou que, “diante do quadro e vendo a necessidade de oxigenação limitada da paciente, montou-se um sistema de Tenda de Oxigênio, que prestou pleno atendimento à bebê, suprindo sua necessidade e permitindo sua sobrevida até que a vaga no hospital de referência fosse liberada”.
Sobre a falta de vaga na UTI, a Saúde disse que por se tratar de um pronto-socorro, a unidade não possui UTI Neonatal, e que quando há necessidade deste tipo de atendimento, a vaga é solicitada junto à Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde (CROSS) do Estado, que liberou a vaga em Sumaré.
“Dessa forma, como no PS não há UTI, o atendimento de urgência e emergência foi devidamente prestado. Não se trata de mero improviso, mas sim, da realização de uma manobra técnica necessária para a preservação da vida do bebê, num caso fortuito e sem precedentes no município e que, graças ao empenho da equipe, atingiu êxito”, diz a nota.
Quanto ao quadro clínico da bebê, a Saúde disse que ela “chegou ao Pronto Socorro com sérios problemas respiratórios e o diagnóstico inicial foi de Bronquiolite – diagnóstico este que foi também a primeira hipótese da intensivista do Hospital Estadual de Sumaré.”