Tão Acre!
A quinta-feira (2) terminou como mais uma dessas noites em que o jornalismo no Acre fica com cara de futrica, e os protagonistas dos fatos veem na imprensa um incômodo a ser evitado.
Fábrica de boatos
Digo isso a propósito do novo boato que circulou nos grupos de WhatsApp sobre a tendência do coronel Ulysses Araújo – pré-candidato (ou não mais) ao governo do estado pelo PSL – de ‘desistir da desistência’, voltando então a se perfilar na raia eleitoral. Mas foi apenas outra das muitas fake news que meus colegas e eu precisamos enfrentar no dia a dia deste ofício marcado por opulentas demandas e parcas ofertas.
Mais do mesmo
Já com a noite pelo meio, Ulysses admitiu, afinal, o que todos já sabiam através de fontes extraoficiais: ele fora procurado pelo também pré-candidato ao governo estadual, Gladson Cameli, para compor sua chapa na oposição.
Confirmação
E conforme apurado e publicado em primeira mão pela ContilNet, o coronel afirmou aguardar um parecer da executiva nacional do seu partido sobre a aliança com Cameli – uma vez que nesta está, entre outros, o PSDB, um dos dez partidos com os quais o presidente em exercício do PSL, Gustavo Bibiano, proibiu, por meio de uma resolução, as coligações estaduais.
Elementar
Ora, ao admitir ter sido procurado por Gladson para a composição, e destacar que o assunto já havia sido levado à executiva nacional, Ulysses apenas confirmou a tendência de que o PSL em breve vai desembarcar no palanque do Progressistas.
A importância e suas consequências
E o porquê de tantas idas e vindas em um assunto que para a maioria dos leitores pode soar como mais um fato qualquer na quermesse política local pode ser explicado pelas consequências eleitorais que sua consumação certamente acarretará na disputa ao governo.
Caráter plebiscitário
Um dos desdobramentos consiste no seguinte: a ausência de Ulysses Araújo da disputa haverá de implicar no confronto direto entre as forças petistas, representada por Marcus Alexandre, de um lado, e da oposição no Acre, com Gladson Cameli, do outro. A eleição, portanto, ganharia contornos de plebiscito.
Juiz rigoroso
E com o PT a amargar seu pior momento desde a fundação, com sua estrela maior trancafiada na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, e o governo do Acre entregue às moscas, o julgamento do eleitorado não poderia ser tão rigoroso quanto agora.
O futuro é logo ali
E quando digo agora, me refiro também a outubro, já que considero inexequível qualquer esforço do governo para reverter o desgaste de Tião Viana e a insatisfação do eleitor em relação ao grupo que está no poder há quase 20 anos.
O poste e o elefante branco
E se o ex-prefeito da Capital ainda se mantém de pé no confronto é por não ser um poste – pois já se foi o tempo em que os companheiros elegiam postes –, e também, claro, graças à força da máquina pública estatal, que no Acre abastece, só com os cargos comissionados, mais de 2 mil e 100 despensas na Capital e no interior.
Momento inédito
Ninguém deve cantar vitória antes do tempo, como fez o governador Tião Viana ao afirmar que o PT há de vencer a eleição deste ano no primeiro turno, mas o certo é que a oposição nunca esteve tão próxima de tomar as chaves da Casa Rosada das mãos dos adversários.
Nisso nós concordamos
Mas se há uma coisa em que preciso concordar com Tião é que teremos uma eleição de um turno só. Pior para o PT, creio eu.
Tarda, mas não falha
Esta coluna pode até se atrasar em comentar alguns assuntos, mas não costuma falhar. E hoje o tema do qual vou tirar o atraso é a entrevista do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) no programa Roda Viva, da TV Cultura.
Preâmbulo
Antes, porém, preciso dizer que alguns colegas de profissão no Acre, que nem sequer votarão no Bolsonaro, mas que como ele cultivam enorme desapreço pelas esquerdas, reclamaram do desempenho dos jornalistas convidados do Roda Vida.
Ladainha
Fui conferir o programa e me irritei com tantas perguntas que remetiam à ditadura militar, um tema que as esquerdas no Brasil costumam edulcorar com façanhas inexistentes e heróis fajutos – como o petista Lula, que ficou alguns meses preso e depois de sair tratou de reivindicar, à nossa custa, uma aposentadoria de mais de 8 mil reais.
Queixa
A propósito, o jornalista Augusto Nunes, da revista Veja, que deixou de apresentar o Roda Viva por pressão de dois conselheiros da emissora estatal, já havia falado das pressões lá existentes para que se aumentasse o número de convites a entrevistados e entrevistadores alinhados com as ideologias esquerdistas.
Foi o que faltou
Disse o jornalista o seguinte sobre sua passagem pelo programa: “Se alguém estava falando demais do passado, eu, a cada pergunta que fazia, tratava do presente”. Ao Roda Viva com Jair Bolsonaro faltou tão-somente um âncora capaz de recolocar o bonde da História nos trilhos da atualidade.
Convenção partidária
O PRTB de Lira Xapuri realizou ontem (2) convenção para apresentar seus pré-candidatos a deputado estadual e federal, entre os quais estão o próprio Lira. O mesmo fez o PDT do ex-deputado estadual Luiz Tchê.
Dois pesos e duas medidas
Ainda sobre o PRTB, Lira Xapuri desistiu de sua pré-candidatura ao governo e nem por isso o céu lhe caiu sobre as costas. O mesmo não se pode dizer do coronel Ulysses Araújo, do PSL, com quem resolveu implicar não apenas o jornalismo amestrado, como também alguns colegas que se gabam de poder atuar com independência.
Guardadas as proporções
É claro que Lira Xapuri – sem qualquer intenção de menoscabá-lo – não pode ser, do ponto de vista político, comparado ao coronel da PM do Acre.
Pergunta que não quer calar
Ainda assim, convém refletir por que o dirigente do PRTB se alia ao petista Marcus Alexandre sem que sua decisão descambe para as ofensas morais, ao passo que Ulysses, por ter colocado o pé na canoa de Gladson, é acusado, inclusive, de ser um vendilhão.
Apenas uma questão de perspectiva
Tal questão seria simples de se responder não fosse o detalhe de que até mesmo jornalistas que gostam de arrotar sua ‘independência’ não estivessem também a contribuir com o linchamento moral do coronel, ainda que de forma menos contundente que outros.
Ponto de vista
Eis que tudo, porém, é apenas uma questão de perspectiva. E não há nada mais mutável que as perspectivas de alguns diante de uma mudança no governo.