Um caso de racismo cometido por um estrangeiro revoltou funcionários do Museu de Arte do Rio, na Praça Mauá. De acordo com relatos de testemunhas e de uma das vítimas, o turista procurou a recepção por volta das 10h desta quarta-feira, querendo informações. Contudo, ao ser recebido por funcionários negros, se negou a conversar.
— Em inglês, eu perguntei se precisava de ajuda. Ele movimentou o corpo, ignorando a minha presença. Virou de costas para mim e falou: “Não quero negros” — contou o estudante Elian Almeida, que trabalha como educador no museu e foi uma das vítimas. — Eu fiquei chocado, perguntei novamente, e ele repetiu: “Não, negros”. Então eu disse que ia chamar a polícia e ele saiu do museu.
Almeida correu até uma base da Guarda Municipal, que fica em frente ao museu, que recomendou ao jovem procurar uma equipe de policiais do Centro Presente, também baseada na região. Feito isso, o jovem retornou ao museu acompanhado de um policial, e conseguiu localizar o estrangeiro nos arredores. Os envolvidos foram encaminhados para a 4ª DP, onde o caso foi registrado.
Rafael Martins, que trabalha na monitoria do museu e testemunhou o crime, contou que antes de se negar a conversar com Almeida, o turista já havia se negado a ser atendido por uma outra funcionária, Sanny Lopes, que faz a monitoria das artes externas do MAR.
— A minha reação foi de indignação total, mas não consegui fazer nada. O Elian correu para chamar a autoridade mais próxima, e a reação da Sanny foi chorar — relatou Martins, sobre o episódio.
A funcionária, que trabalha há apenas um mês no museu, está em seu primeiro emprego e nunca imaginou que poderia passar por uma situação como essa.
— Hoje, no século XXI, passar por isso é algo que me machuca mas que, ao mesmo tempo, me dá força para seguir e ver o que eu tenho que fazer. O meu choro foi de muita raiva, mas me motiva a continuar. A gente não vai parar aqui não — disse Sanny.
Turista ainda se negou a falar com policiais negros
Mesmo na delegacia, na frente dos policiais, o turista continuou com suas falas racistas. Fábio Lisboa, policial militar há 4 anos, contou que o estrangeiro estava sem documentos e continuou dizendo que não queria ser abordado por pessoas negras.
— Quando a gente foi levá-lo para a cela, um colega que é pardo, com a pele mais clara, fez a revista. Quando fui falar com ele, ele repetiu: “no black people” — disse o policial. — Eu nunca passei por uma situação como essa.
Por estar sem documento, o turista foi identificado apenas como Anthony, dos EUA, e aparenta ter 35 anos. Ele estava hospedado no Hotel Barão de Tefé. O consulado americano já foi informado sobre o caso.