Amazônia Real lança documentário sobre o assassinato de Chico Mendes

No dia 22 de dezembro de 1988, Chico Mendes, então com 44 anos, foi assassinado ao sair de sua casa, em uma emboscada na sua cidade natal, Xapuri, no Estado do Acre. O seringueiro havia ganhado importantes prêmios internacionais, e se tornara conhecido em todo o planeta, por defender a Floresta Amazônica, com a apresentação de uma proposta inédita de reforma agrária e preservação ambiental por meio da criação de reservas extrativistas. Paralelas ao seu reconhecimento internacional, as ameaças de morte contra o ambientalista cresciam.

Mas o documentário Genésio – um pássaro sem rumo enfoca outro personagem dessa trama. Trata-se de Genésio Ferreira da Silva, escritor, hoje com 43 anos, quase a mesma idade que tinha Chico Mendes ao ser assassinado. Genésio foi a única testemunha do crime, que completa trinta anos, no dia 22 de dezembro de 2018. Nesta data, a agência de jornalismo independente Amazônia Real lançará o documentário no auditório do Palacete Provincial, em Manaus. O documentário foi dirigido pela jornalista Maria Fernanda Ribeiro, que assina o roteiro com Carlos Eduardo Magalhães, e tem imagens de Bruno Kelly.

Após a exibição do filme, haverá um bate-papo com as participações do fotógrafo Bruno Kelly; dos jornalistas Vandré Fonseca e Elaíze Farias; e do ambientalista Carlos Durigan.

Genésio Ferreira da Silva foi a única testemunha do assassinato de Chico Mendes/Foto: Reprodução

Para a produção do documentário, foram entrevistados, além de Genésio, o escritor Elson Martins, o jornalista Zuenir Ventura, os trabalhadores rurais Eurenir Neiva Gomes (Dona Nina) e Sebastião Mendes (Tião), o ex-seringueiro Antonio Santos Mendes (Totonho), e os familiares e amigos da testemunha: Ana Maria Pereira da Silva, Edivam Campos da Silva e Julia Feitoza.

“Quando eu respiro o ar, Chico Mendes está vivo”. Com essas palavras, Genésio coloca, de maneira poética, o tempo presente em contato com as violências do passado, ao recontar a sua própria história. Aos 13 anos de idade, o adolescente Genésio foi a única testemunha das reuniões secretas de Darly Alves – seu patrão e proprietário da fazenda em que morava – com os membros da União Democrática Ruralista (UDR). As reuniões tinham como objetivo formular planos para assassinar Chico Mendes. A UDR é uma entidade de cunho conservador que representa o interesse da política de proprietários rurais, contrários à reforma agrária. É acusada de disseminar a violência no campo. Atualmente, é presidida por Luiz Antonio Nabhan Garcia, agropecuarista, com tem forte influência sobre o presidente eleito Jair Bolsonaro. Garcia deverá ser o titular da Secretaria Especial de Assuntos Fundiários no futuro governo de Bolsonaro.

Entrada do Sindicato dos Trabalhadores Rurais em Xapuri, no Acre/Foto Bruno Kelly/Amazônia Real

No documentário, o jovem Genésio decide contar ao delegado responsável pela investigação do caso tudo o que sabe sobre o assassinato. Com isso, torna-se a principal testemunha da acusação para a condenação inédita dos criminosos: Darly Alves e seu filho Darcy Alves Ferreira. Ambos foram condenados a 19 anos de prisão.

O documentário acompanha detalhes da vida de Genésio, após o seu testemunho decisivo para desvendar um dos assassinatos de maior repercussão no final do século 20. O jornalista e escritor Zuenir Ventura, autor do livro Crime e Castigo, que reúne reportagens sobre Chico Mendes, conta sobre a sofrida ida de Genésio ao Rio de Janeiro, para onde o jovem escapa, para fugir das ameaças decorrentes de seu testemunho.

Para Genésio, a sua ida para uma cidade grande foi fonte de muito sofrimento e cerceamento da liberdade: “eu quero minha vida, eu quero minha liberdade (…) não vou ficar cumprindo regra minha vida inteira não” (…) vocês estão me torturando!”

Para Elson Martins, escritor e amigo de Genésio, na ocasião ele “parecia um pássaro assustado”. De certa forma, também Genésio pagava pelo crime que havia denunciado.

Por fim, o documentário aborda, também, o livro de tom autobiográfico Genésio – um pássaro sem rumo, que dá o título ao documentário, e que foi publicado, graças ao esforço de muitas das pessoas que aparecem no filme. Segundo o Instituto Vladimir Herzog, um dos responsáveis pela publicação, a obra “narra suas esperanças e seus desesperos em uma Amazônia que continua ameaçada pelo poder econômico, como nos tempos de Chico Mendes”.

Para Zuenir Ventura, “o mártir foi o Chico Mendes; Genésio foi a testemunha”. Testemunha essa que ganha protagonismo, como uma das vozes, entre tantas outras, que conta a violenta história recente da Amazônia, que o filme nos convida a escutar. Melhor dizendo, como cinema, nos convida a ver e a escutar.

O documentário Genésio – um pássaro sem rumo: a única testemunha do assassinato de Chico Mendes faz parte do projeto “Olhando por dentro da Floresta Amazônica”, da Amazônia Real. Esse projeto está voltado para a produção de reportagens especiais e conteúdo audiovisual sobre a realidade dos povos da Amazônia, sobretudo as populações indígenas, quilombolas, extrativistas, ribeirinhas, defensores do meio ambiente, defensores dos direitos humanos, impactos ambientais dos megaempreendimentos na região Amazônica. O projeto é financiado pela organização Aliança pelo Clima e Uso da Terra (CLUA), e também recebe apoio da Fundação Ford e conta com a parceria da plataforma InfoAmazônia. A exibição do documentário no Palacete Provincial tem o apoio da Secretaria de Estado de Cultura do Amazonas (SEC).

O que é?

Lançamento do documentário Genésio – um pássaro sem rumo: a única testemunha do assassinato do ambientalista Chico Mendes

Onde: Auditório do Palacete Provincial

Praça Heliodoro Balbi, S/N – Centro de Manaus

Horário: 9h30 às 12h

Entrada: gratuita

Informações: (Cel/whats) 9 8201 1262 – Elaíze Farias

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