“A indústria pode ajudar o governo no seu projeto de desenvolvimento”, diz diretor da Fieac

A indústria acreana tem muito a colaborar com o Governo do estado e está buscando, o mais rápido possível, uma aproximação com o governador Gladson Cameli, para o estabelecimento de parcerias e troca de informações em busca do sonhado desenvolvimento do Estado. A informação é do presidente da Federação das Indústrias do Acre (Fieac), José Adriano, ao admitir que a organização, enquanto instituição, ainda não se sente contemplada como parceira do governo e que continua buscando este caminho.

A seguir, os principais trechos de uma entrevista de José Adriano sobre o assunto:

Presidente, o senhor acaba de se filiar ao PMDB – ou MDB – mas carrega ainda uma pecha de petista em relação às boas relações que o senhor teve com os governos dessa sigla. Como é que o senhor se sente em relação ao novo governo?

José Adriano – Sinto-me à vontade. Não tenho vergonha de dizer que tive uma boa relação com o governo anterior e, já que, até 2018, o povo elegeu o PT como comandante da Frente Popular que governava o Estado. Então, qual o empresário que vem hoje dizer na minha cara que não se relacionou com o PT? Agora, eu nunca fui filiado ao PT. O que tenho é amigos ao PP ao PSDB. No momento em que as verdades forem aparecendo, as pessoas vão ver que isso foi colocado apenas para me afastar – ou uma tentativa disso –do governo Gladson Canmeli. Mas eu acredito que isso passa, é só uma questão de tempo.

E como é que está sua relação com o governo e com o atual governador?

Contra o governador Gladson Cameli, a pessoa dele, eu não tenho nada contra, nunca tive e acho que ele também não tem nada contra minha pessoa e sempre nos respeitamos. Mas as pessoas insistem em fazer essa separação da pessoa física da instituição, mas institucionalmente eu tenho buscado essa aproximação com o governo e com ele. Já estivemos marcados três vezes para conversarmos mas não houve oportunidade porque ele desmarcou, por um motivo ou outro. Mas eu estou tentando. Eu acho que do ponto de vista institucional isso tem que ser feito e mantido. Eu tenho muito interesse em contribuir com o desenvolvimento do Estado e acho que a indústria do Acre está num momento importante, sobretudo para olhar para os próximos 20 anos, já que não dar para a gente trabalhar com perspectivas de curto prazo. Então, temos uma experiência importante e vamos continuar fazendo o nosso trabalho e vamos continuar buscando nossa aproximação com o governo porque é pela melhoria do Estado.

O senhor acha que a indústria pode contribuir com o Estado e em que sentido?

Primeiro que, nos últimos 30 anhos, ganhamos maturidade suficiente para sabermos muito mais sobre indústria do que qualquer político, com ou sem mandato. Quando o empresário vai para um discurso, ele vai porque conhece do que vai falar. Afinal, quem atrai o investidor para o Estado não é governo. Quem atrai empresário é outro empresário. Se um empresário estiver aqui se dando bem, o outro que está lá fora vai saber e vai querer vir. Empresário é quem nem garimpeiro e conclui que se estiver dando ouro ali ele vai para lá. A gente precisa ter a reconstrução dessa garantia da relação com o governo, sobretudo no que diz respeito à segurança jurídica dos contratos. Os empresários precisam voltar a acreditar que o governo é confiável do ponto de vista dos seus compromissos, em quitar suas obrigações com fornecedores. Tem que ir por esse caminho. A indústria pode e deve ajudar todos os governos. Então estamos buscando fazer isso, cumprir nosso papel institucional. Não conseguimos ainda um caminho, mas estou certo de que vamos avançar e muito ainda, se Deus quiser.

Como é que a indústria recebe essa decisão do governo de levar o Acre para o agronegócio?

Esta é uma polêmica que carece de um debate e de fundamentação. Há pessoas que defendem o aumento da atividade agrícola, mas o agronegócio, para mim, ele se divide em agro e indústria. Entendo que se não tiver indústria dentro do agro não há negócio, Isso tem que ficar bem claro.

Me dê um exemplo disso

É assim: se você vai para fomentar a indústria do agronegócio aqui vamos pensar na cadeia produtiva do leite. Não adianta você ficar na ideia de só produzir leite. Você tem que colocar tecnologia lá no campo e da matéria prima sair com a derivação de todos os subprodutos do leite. Para isso tem que ter tecnologia. Então isso é agronegócio. Se não, seria só agricultura. Nós temos uma bagagem muito grande para discutir, até porque trabalhamos nos últimos três anos, em coletar as informações necessárias para subsidiar a política pública do governo na área de agronegócio. Já temos estudos da parte bovina, do gado de corte e estamos iniciando agora um debate com lideranças e com as instituições sobre essa parte do agronegócio para subsidiar ao governo. Na hora em que ele precisar, estaremos prontos para dizer: – governador, essa área aqui não tem aptidão para essa parte do agronegócio.

Em que o Acre não teria aptidão na área de agronegócio segundo esses levantamentos de vocês?

Não é que não tenha aptidão. Acho que o Acre tem aptidão para tudo, mas isso tem que ser visto com escala industrial. Se nós estamos falando de fazer investimentos a médio e a longo prazo, você não pode olhar para Rondônia e para o Mato Grosso e achar que amanhã a gente vai ter toda aquela produtividade que eles têm, porque aquilo lá é coisa que vem de 30 anos, no caso de Rondônia, dos últimos 20 anos, isso acontecendo dentro das peculiaridades de cada Estado. No Mato Grosso, por exemplo, há muita planície – então a soja, um produto que pode e foi bem trabalhado lá. O nosso Estado tem também lá suas peculiaridades. Nós temos uma bacia sedimentar e um relevo muito inconsistente. Então, trabalhar aqui a soja com a consciência de que você não tem planície…

Então, na sua avaliação, a soja não é bom caminho para o Acre?

Não é não se trate de um bom caminho. É que ela não pode ser o único negócio do agronegócio.

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