Eventos extremos provocados pelas mudanças climáticas estão afetando o padrão de mortalidade da dinâmica da floresta amazônica. Estudo que analisou dados mensais de 52 anos de monitoramento de mais de 200 espécies mostrou que a seca (menos que 100 milímetros de chuva por mês) aumenta a chance de morte das árvores, mas elas morreram mais durante o mês chuvoso de janeiro, mesmo em anos de seca extrema.
Janeiro é um mês chuvoso e de transição da estação seca (junho a novembro) para chuvosa (dezembro a maio) e possui alta precipitação e registro de tempestades de ventos. Árvores debilitadas de uma estação seca severa anterior costumam cair, quebrar, desenraizar durante o período de chuva. Aproximadamente 20% de todas as mortes de árvores aconteceram no mês de janeiro durante as cinco décadas analisadas. Em setembro, um dos meses mais secos do ano, também há uma taxa alta de mortalidade (12%), porém estatisticamente inferior a janeiro.
“Isso é uma novidade, porque todo mundo sempre fala que a morte das árvores aqui acontece na seca. Com as análises mensais e não anuais ou multianuais como os estudos costumam ser feitos, vimos que a seca é importante para determinar o momento de morte, mas as árvores não morrem imediatamente, e sim nos meses posteriores, porque ficam debilitadas e morrem com os fortes ventos que ocorrem nessa mudança de estação seca para a chuvosa”, disse Izabela Aleixo, engenheira florestal, doutoranda de Ecologia do Inpa e primeira autora do trabalho ‘Clima e características funcionais de espécies determinam a mortalidade de árvores na floresta Amazônica’ publicado na revista científica Nature Climate Change.
Segundo Aleixo, a análise dos dados de mortalidade de grandes árvores da Amazônia Central presentes na Reserva Florestal Adolpho Ducke e na Estação Experimental de Silvicultura Tropical, áreas de pesquisa do Inpa em Manaus, foi possível por conta da longa série temporal que o Instituto possui. Desde 1965, técnicos monitoram todos os meses essas árvores para avaliar as características fonológicas – como as plantas se desenvolvem no decorrer de diferentes fases – e mais recente para ver a mortalidade.
O estudo também leva a assinatura de Darren Norris (Universidade Federal do Amapá/Ufap e orientador de Izabela Aleixo), Lia Hemerik (Universidade de Wageningen/Holanda), Antenor Barbosa (pesquisador do Inpa), Eduardo Prata (Pós-doutorando pelo Inpa), Flávia Costa (Pesquisadora do Inpa), LourensPoorter (Universidade de Wageningen/Holanda).
Eventos climáticos
A pesquisa identificou que eventos climáticos extremos relacionados com o El Niño (seca) e La Niña (chuva) e variações no Atlântico Tropical Norte, sãoacontecimentos globais que afetam os padrões de mortalidade nas áreas daAmazônia Central. Isso está relacionado com eventos de seca ou de chuva extremos e de grandes ventos que são capazes de derrubar as árvores.
Para a Bacia Amazônica, as taxas de mortalidade das árvores variam de 1% a 3% ao ano. No estudo foi encontrada uma taxa de mortalidade de árvores adultas de 0,9% ao ano. Porém, em ano de El Niño como em 1982, essa taxa subiu para 2,5%, e em ano sob a influência do Atlântico, como 2005, a mortalidade alcançou 2,2%, mostrando que esses eventos globais relacionados às mudanças climáticas mais do que dobraram a taxa de mortalidade das árvores.
Os cientistas destacam que as espécies que morrem nesses eventos são espécies de determinados grupos ecológicos, como as espécies de madeira mais leve (baixa densidade da madeira), as pioneiras de rápido crescimento e menos resistentes à seca, e aquelas que permanecem com a copa completa de folhas durante todo o ano, ou seja, não tem a capacidade de perder as folhas sazonalmente durante a seca para evitar a perda de água pelas folhas.
“As mudanças climáticas estão afetando os padrões de mortalidade e a dinâmica da floresta amazônica, isso pode alterar os ciclos hidrológico e o estoque de carbono na maior floresta tropical do mundo e tem um papel importante para todo clima global”, disse Aleixo. “Então, é preciso olhar para as mudanças do clima e entender como isso afeta as nossas vidas, os produtos que vem da floresta e todo os serviços ecossistêmicos que essas florestas trazem para o mundo todo”, completou Aleixo, que participou do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE/Capes) na Universidade de Wageningen na Holanda.