O Brasil e boa parte do parte do planeta param, nesta quinta-feira (5), para celebrar o Dia da Amazônia, uma data criada com o objetivo de conscientizar as pessoas sobre a importância da maior floresta tropical do mundo e de sua biodiversidade para o planeta. O dia escolhido é uma referência ao dia 5 de setembro de 1850, quando o Príncipe D. Pedro II decretou a criação da Província do Amazonas, onde está o atual do Estado do Amazonas.
O que pouca gente no Brasil sabe é que este dia foi instituído no país por ação do então governador do Acre Jorge Kalume, através da lei estadual de número 243, aprovada pela Assembleia Legislativa e sancionada no dia 4 de dezembro de 1968. O bioma mais ameaçado do mundo, a floresta amazônica teve seu dia criado há 51 anos atrás porque já naquela época estava ameaçado pelos constantes desmatamentos ilegais, o que afetava diretamente a fauna e a flora da região, causando desequilíbrios e crises ambientais em nível global.
O surpreendente é que quem toma esta iniciativa é um político apontado como conservador, ligado aos militares que haviam tomado conta do país com o golpe de 1964 e que defendiam a tese de que era necessário ocupar a Amazônia para não entregá-la ao imperialismo internacional. “Amazônia: ocupar para não entregar”, defendia, por exemplo, textos publicitários do então jornalista Amaral Neto, que ficaria famoso ao ponto de se eleger por sete mandatos como deputado federal pelo Rio de Janeiro. Era defensor da pena de morte. Seus adversários diziam que ele também gostaria de ver a Amazônia lajotada.
Amaral Neto e Jorge Kalume eram do mesmo partido, a Arena (Aliança Renovadora Nacional), que dava sustentação à ditadura militar. Mas tinham estilos diferentes. Kalume era um amazonida, um homem da floresta. “Na verdade, o Kalume nunca foi um apologista da destruição da Amazônia. Muito pelo contrário, era um homem de cultura, que sabia ouvir e entendia que a preservação do meio ambiente era fundamental para o desenvolvimento da humanidade”, diz o deputado estadual José Bestene (Progressista), seguidor do velho político. “Ele era mais ligado ao meu irmão Félix. Com o falecimento do meu irmão, parece ter transferido o afeto para mim, o que muito me honrou ao longo da vida’, disse Bestene, que foi secretário de administração do então prefeito de Rio Branco Jorge Kalume, eleito em 1988, cujo mandato se estendeu até 1982, quando todos o julgavam um político em fim de carreira.
Kalume era acreano, de Xapuri. Filho do imigrante sírio Abib Moizés Kalume e de Latife Zaine Kalume, formou-se em contabilidade em Belém, em 1939. Na capital paraense foi diretor financeiro do Banco da Amazônia. De volta ao Acre, fundou o Rotary Clube de Xapuri em 1948 e estreou na política ao eleger-se prefeito de Xapuri em 1955. Eleito deputado federal pelo PSD em 1962, renunciou ao mandato para assumir o governo do Acre como o primeiro mandatário ungido pelo Regime Militar de 1964, em substituição a José Pedreira de Cerqueira.
Filiado à Arena, conheceria, no entanto, as derrotas eleitorais. Perdeu a eleição para o Senado em 1974 para o médico Adalberto Sena (MDB). Em 1978, vingou-se: foi eleito senador derrotando Alberto Zaire, também do MDB. Ao ingressar no PDS liderou o partido no Estado e, em 1982 disputou o governo, sendo derrotado por Nabor Júnior (MDB).
Derrotado ao tentar a reeleição para o Senado em 1986, dois anos depois foi eleito prefeito de Rio Branco. Filiado a seguir ao PPR e ao PPB, perdeu as eleições para senador em 1994 e deputado federal em 1998, respectivamente. Faleceu em Brasília, em outubro de 2010, aos 89 anos, em decorrência de uma parada cardíaca quando se tratava de um câncer no intestino.
O dia 5 de Setembro é uma data, portanto, em que mostra um político conservador lutando para ajudar salvar não apenas alguns milhões de quilômetros de floresta, mas um continente que está presente em 8 estados brasileiros – Acre, Amapá, Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia, Tocantins e parte do Maranhão e Mato Grosso e que se estende pela América do Sul, compreendendo os seguintes países: Suriname, Bolívia, Guiana, Guiana Francesa, Venezuela, Colômbia, Peru e Equador.
O que pouca gente sabe é que, um homem culto para o seu empo, Kalume também escrevia. E se mostrava apaixonado pelas águas da Amazônia. Sabia do recorde da Amazônia em relação à sua bacia hidrográfica, composta de 7 milhões de quilômetros de extensão, onde estão os principais rios do país: Amazonas (maior do mundo em extensão), Negro, Trombetas, Japurá, Madeira, Xingu, Tapajós, Purus e Juruá (todos afluentes do Rio Amazonas).
Este dia 5 de Setembro mostra que, enquanto a Amazônia e todo o seu mundo misterioso e belo resistir, a memória do xapuriense Jorge Alume será também uma memória para o mundo. Que sobrevivam.