Caso dos 43 estudantes desaparecidos tem 24 suspeitos libertados

Às vésperas do aniversário de cinco anos daquela que ficou marcada como a tragédia de Ayotzinapa, uma decisão judicial tornou a comover o país e a afligir os familiares dos 43 estudantes desaparecidos no sul do México .

Foram libertados 24 suspeitos de envolvimento no crime, ante a justificativa de que eles haviam sido submetidos a tortura enquanto estavam sob custódia. O número soma-se a 53 outros suspeitos que já tiveram liberdade concedida pelo mesmo juiz, somando um total de 77 pessoas em liberdade.

Na noite de 26 de setembro de 2014, a polícia municipal da cidade de Iguala, no estado de Guerrero (sudoeste), desviou os ônibus em que viajavam estudantes da Escola Normal Rural de Ayotzinapa (vilarejo a 200 km dali), a maioria adolescentes.

Nove pessoas morreram no local após um tiroteio. Em seguida, os ônibus e os 43 estudantes que viajavam neles deixaram o local, guiados por policiais. A partir daí, pouco se sabe até agora. Muitas provas ou informações, depois de apresentadas, foram negadas ou relativizadas. Os únicos restos mortais encontrados por equipes forenses internacionais, meses depois, foram os de Alexander Mora Venancio e Jhosivani Guerrero de la Cruz.

De acordo com a versão oficial de 2015, os estudantes foram entregues pela polícia municipal a narcotraficantes, que os mataram na cidade de Iguala, cremaram seus corpos e jogaram as cinzas em um rio próximo.

Segundo o governo, a quadrilha matou os estudantes depois de confundi-los com membros de uma organização rival.

Em 2018, o Escritório de Direitos Humanos da ONU afirmou que as autoridades mexicanas provavelmente torturaram dezenas de pessoas que estariam envolvidas no caso.

Apesar da contestação feita pela ONU, a decisão do juiz em libertar os suspeitos tem sido criticada por subestimar provas existentes e negar prazos razoáveis aos promotores para que corrijam as investigações. “Esta resolução é uma afronta às vítimas, aos pais e à Justiça em nosso país. Ela mostra a miséria e a podridão em que o sistema judiciário está”, afirmou Alejandro Encinas, chefe da comissão da verdade criada para o caso.

Encinas, que também é subsecretário de Direitos Humanos no governo de Andrés Manuel López Obrador, alertou que poderá haver mais liberações nos próximos dias. “O juiz interpreta a lei com muita cautela, mas não promove justiça e causa sérios danos à busca da verdade”, disse.

Entre os que foram libertados até agora estão supostos membros de grupos criminosos, bem como alguns dos policiais que teriam participado da conspiração.

No domingo (15), uma autoridade do governo confirmou que foi aberta uma investigação contra o ex-procurador-geral do México, Jesús Murillo Karam, e seus principais assessores envolvidos no caso por suposta condução indevida.

Na época, o desaparecimento dos estudantes atingiu duramente a reputação do então presidente Enrique Peña Nieto, o que ajudou a minar a confiança no governo, nas investigações e a abrir o caminho para a vitória esmagadora de López Obrador no ano passado.

Em abril centenas de manifestantes tomaram as ruas da cidade para protestar contra os 55 meses sem resposta e sem justiça dos crimes.

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