De origem humilde, jovem sai da periferia de Sena para ser advogado na Capital

Apesar da pouca idade – mal completados 23 anos de idade, o acreano Maycon Moreira da Silva bem que poderia servir de exemplos para muita gente, principalmente para os jovens de sua geração e de sua origem, que estão sendo recrutados, aos milhares, para as facções criminosas.  Nascido e criado num bairro periférico de Sena Madureira, mesmo sem os carinhos ou cuidados de pai e mãe, ele fez o caminho de inverso de muitos jovens de sua geração e acaba de ser aprovado no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) antes mesmo de concluir o curso de Direito e seu exemplo é de que pobres e vindos do interior, sem amigos ou parentes importantes, como canta o imortal poeta Belchior, também podem vencer.

Aliás, Maycon Moreira veio para capital ainda com 18 anos, há cinco anos atrás. Sem posses ou dinheiro, trazia apenas uma mala pequena, com poucas roupas. O único par de sapatos, de tão usado, parecia pedir socorro. Não obstante, aquele rapaz trazia na bagagem da mudança de vida um caminhão de sonhos. Uma mudança que começa a se concretizar com sua aprovação pela OAB antes mesmo da conclusão do curso financiado 100 por cento pelo Fies – o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior, programa do Ministério da Educação criado em 1999, destinado a financiar a graduação na educação superior de estudantes matriculados em instituições não gratuitas, o caso de Maycon, que só vai concluir o curso em janeiro de 2020.

Paralelo a isso, o futuro advogado também foi aprovado em recente concurso público para soldados combatentes da Polícia Militar do Acre (PMAC). Para Maycon, estudar nunca foi problema: nos primeiros meses da chegada a Rio Branco, ele conseguiu emprego na loja de Móveis Gazin, na condição de menor aprendiz, e à noite estudava cursos profissionalizantes no Pronatec – o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, também do Governo Federal, criado com o objetivo conceder bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de grau técnico e de formação inicial e continuada, em instituições privadas e públicas de ensino técnico. Mas logo em seguida veio a aprovação no vestibular para o curso de Direito e o senamadureirense deu mais um passo decisivo em sua vida.

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Maycon formou na Uninorte/Foto: Arquivo pessoal

No entanto, para chegar até aqui, apesar de todas as dificuldades, ainda que morasse sozinho em Rio Branco, ele sempre teve uma espécie de companhia espiritual, a lhe inspirar e a lhe ditar o melhor caminho a seguir: dona Adelina Gomes, então funcionária do hospital “João Câncio Fernandes’, lá em Sena Madureira, onde ela trabalhava na lavanderia, lavando roupas. Era dali, entre panos e lençóis rotos, muitos sujos de sangue dos pacientes, que dona Adelina Gomes tirava o pão de cada dia de Maycon e, veja só, de pelo menos outros 10 netos, que ela criava como fossem seus filhos, incluindo duas irmãs biológicas do nosso personagem principal. “Devo reconhecer que minha mãe e pai foi minha avó. Nunca tive e nem conheci meu pai biológico”, disse Maycon, cuja mãe biológica só estudou até a quarta série do primário e nunca pôde cuidar dele nem de suas irmãs, razão pela qual entregou os filhos para a avó.

“A vida sempre foi difícil pra mim e minhas irmãs e primos, que acabaram virando irmãos também. Contudo, graças a Deus, nunca faltou o pão de cada dia na nossa mesa, assim como o material escolar para estudar minha mãe (avó) fazia questão de nós irmos pra escola”, revelou o advogado. Dona Adelina morreu no ano passado, sem poder assistir o primeiro triunfo de seu neto e protegido. “Mas, de onde ela estiver, ela está vendo”, disse Maycon.

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“A vida só é dura para quem é mole, meus amigos”, filosofa/Foto: Arquivo Pessoal

 O advogado também reconhece outro personagem importante em sua vida: o então empresário Osmar Serafim de Andrade, o atual prefeito de Sena Madureira Mazinho Serafim (MDB).  “Um dia ele olhou para mim, vendo meu esforço, e disse: vou te ajudar e foi importante no início dessa tragédia em meio à tantas dificuldades”, contou. Maycon também cita uma amiga, Annayra Figueiredo, como outra pessoa importante nesta sua caminhada.

“A vida só é dura para quem é mole, meus amigos”, filosofa, ao se referir aos jovens com sua mesma origem e que em grande parte vêm sendo aliciados como soldados do crime, tanto na Capital como no interior. “A situação desses jovens é delicada, mas aqueles que querem de verdade vencer na vida, precisam ter fé em Deus, acreditar no seu potencial e sempre que puder buscar o conhecimento, porque saber é poder e quem conhece os dois lados da história nunca vai optar pelo mundo do crime”, disse.

Como advogado, Maycon Moreira não gosta da área criminal. “Costumo brincar com meus amigos e dizer que só faço criminal para os amigos que infelizmente cometeram o primeiro ato delitivo. Áreas que gosto e pretendo atuar são previdenciário, civil, trabalhista e eleitoral me identifico e já tenho um razoável conhecimento nessas áreas”.

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