O mais duro ataque ao discurso do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Geral da OUN (Organização das Nações Unidas) na manhã desta terça-feira (24), em Nova Iorque (EUA), foi feito pela acreana Marina Silva. A ex-presidenciável e ativista da causa ambiental, com grande inserção no exterior, disse que o presidente brasileiro se comportou na ONU como um garoto-propaganda que tentou vender uma realidade no país que não condiz com seu governo.
“O presidente Bolsonaro fez um enorme esforço para tentar negar a realidade dos fatos em seu discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU”, apontou Marina Silva em suas redes sociais. Segundo ela, Bolsonaro não defendeu os interesses do país, “apenas os do seu governo, como estivesse discursando para seus apoiadores”.
Para Marina Silva, Bolsonaro insistiu, em seu discurso, reiteradamente, na estratégia de ataques a governos anteriores, governos estrangeiros, mídia nacional e internacional, ambientalistas, indigenistas, povos indígenas. “Disse que a imagem negativa do país no exterior é resultado de uma ‘guerra informacional’ produzida pelo sensacionalismo da mídia nacional e internacional, como se pudesse existir democracia sem uma imprensa livre”, disse a ex-senadora pelo Acre. “Atacou os povos indígenas ao contestar a liderança do Cacique Raoni como se fosse peça de manobra de governos estrangeiros, e sugeriu o absurdo de que as queimadas na Amazônia podem ter sido causadas por uma prática cultural dos índios e das populações tradicionais”, acrescentou.
Marina Silva disse ainda que o presidente afirmou estar ali na ONU para “repor a verdade”, mas teria feito um discurso recheado de meias verdades, ao dizer que a economia do país está reagindo e o desemprego diminuindo. “Disse que seu governo tem compromisso solene com a preservação do meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável, e com os mais altos padrões de direitos humanos e em defesa da democracia. Um disfarce de boas intenções, para usar suas próprias palavras, que não se sustenta no minuto seguinte da sua própria fala”, afirmou.
De acordo com a ex-ministra do meio ambiente do governo do ex-presidente Lula, quando o presidente disse que “somos um dos países que mais protege o meio ambiente”, celebrou, sem nem perceber, o que foi feito em gestões anteriores. “Mas em uma clara tentativa de ocultar o desmonte que seu governo promove sistematicamente. Obviamente, a grave climática que estamos vivendo só apareceu em uma menção pífia e telegráfica. Um silenciamento típico do obscurantismo que toma conta de seu governo”, escreveu Marina Silva
Ela também disse que a soberania do país, de fato e de direito, é imperativa e não pode ser relativizada, “mas não pode ser usada como uma licença irresponsável do governo para deixar de proteger nosso patrimônio natural, os povos indígenas e a maior floresta tropical do mundo. Estamos diante de uma emergência climática e o país gigante pela própria natureza precisa estar à altura desse tempo”.
A acreana concluiu suas críticas a Bolsonaro afirmando que o presidente repetiu tragicamente uma velha fórmula. “Tentou negar o que acontece no Brasil, como se a comunidade internacional não tivesse acesso à verdade. Não deu certo na década de 70, quando os militares tentaram esconder a tortura. O mundo nem era tão hiperconectado, imagine agora…”, disse. “Um discurso recheado de algumas meias verdades e da negação de verdades inteiras, sendo proferido direto da ONU, tem um potencial enorme de produzir um efeito ainda mais nefasto para a imagem do país no exterior: uma vergonha generalizada.