A ideia da coleta de tampinhas plásticas de água mineral, de refrigerantes ou de sorvetes para posteriormente trocá-las por cadeiras de rodas, que contagiou o Rio de Janeiro, onde a proposta foi iniciada no começo deste ano, e se espalhou pelo Brasil, acaba de chegar ao Acre. Por isso, se o leitor estiver numa mesa qualquer e alguém o abordar pedindo as tampinhas destinadas ao lixo, não se irrite e atenda a pessoa, quase sempre um voluntário do projeto “Rodando com Tapinhas”, porque é para uma boa causa.
No Acre, a ideia é levada a cabo pela professora aposentada e advogada Anice Batista Brito, maranhense de São Luís de 58 anos de idade e há pelo menos 30 morando em Rio Branco, que, com outros voluntários de todo o pais, seus amigos e familiares, os quais também aderiram ao movimento, já juntaram tampas suficientes para obterem pelo 70 cadeiras de rodas para quem precisa. “É uma ação de mão dupla: a gente ajuda o meio ambiente, porque as tampinhas não vão para o lixo, entupir bueiros e causarem outros danos à natureza, e a gente acaba ajudando pessoas carentes que precisam e não podem comprar cadeiras de rodas”, disse.
As garrafas plásticas não são aproveitadas porque a ONG (Organização Não Governamental) “Rodando com Tampinhas” ainda não tem estrutura para recebê-las. O projeto começou no dia 1° de janeiro deste ano, quando Márcia Dabhas, de 57 anos, fundadora da ONG no Rio, conseguiu unir seu desejo de fazer algo pelo meio ambiente à vontade de ajudar os pacientes da Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR), que fica no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio de Janeiro, nas proximidades de onde ela mora.
A proposta é bem simples: juntar tampinhas para vender o plástico e, com o dinheiro, comprar cadeiras de rodas a serem doadas a quem precisa. A meta era ousada: são necessários 400kg de plástico, o que equivale a cerca de 195 mil tampas, para uma cadeira. Mas a meta foi batida em 11 semanas. Tem mais: nas duas semanas seguinte o grupo, que só cresce a cada dia, já juntou mais tampinhas para comprar a segunda cadeira de rodas e a terceira está bem próxima porque o movimento está tomando conta do Brasil.
A tampinha é um resíduo pronto, não precisa ser limpa e nem requer equipamentos para prensar ou empilhar. Além disso, qualquer pessoa é capaz de participar deste movimento de solidariedade, já que não é preciso ter dinheiro para comprar nada ou fazer doações. “Basta se abaixar e pegar uma tampinha na rua”, diz Anice Batista. “Ou ir a uma mesa e pedir às pessoas”, acrescenta.
Mas ela aconselha que as tampas sejam lavadas, enxugadas e separadas por cores, para facilitara vida dos receptores do produto lá no Rio. Anice Batista teve contato com o projeto através de uma cunhada cuja filha faz tratamento no Rio de uma filha cadeirante e não teve duvidas em entrar no projeto. A cada viagem de sua cunhada pelo rio, ela leva, além da bagagem, uma mala com pelo menos 40 quilos de tampinhas.
Entretanto, para a ONG não existe competição para ver quem junta a maior quantidade de tampinhas para obter a cadeira de rodas. Basta que a pessoa dê o nome de quem precisa e as cadeiras vão sendo distribuídas, em todo o Brasil, de acordo com a ordem de inscrição, informou Anice Batista.
As tampinhas são vendidas a uma fabrica de cadeiras de rodas, cujo dinheiro é utilizado para aquisição do equipamento. Mas a fábrica não aceita qualquer tampa. É que, para efeito de reciclagem, toda tampa tem um triângulo com a numeração do produto para efeito de reciclagem, que vai de 1 a 5. No caso, a fábrica de cadeira recebe apenas as tampas com a numeração 2 e 5. As tampas de sorvete com embalagens de 2 quilos são as preferidas pelos catadores, porque elas correspondem, em peso e pelos critérios da OBG, a sete tampinhas de água e refrigerante. “Esta é uma boa causa e gostaríamos que mais pessoas se engajassem nela”, disse Anice.