Criado ainda na gestão do então governador José Augusto de Araújo, o Deracre (Departamento de Estradas de Rodagens do Acre), ao longo da história acreana, já foi a maior autarquia de que se tinha notícias neste Estado. Era tão forte que, além de orçamento próprio, tinha a própria tesouraria da qual saíam os pagamentos de seus prestadores de serviços, sempre na casa dos milhões.
Mas, nos últimos 20 anos, período que coincide com os governos da chamada era petista, virou uma sucata. Seus bens, máquinas, tratores, veículos utilitários e até carros de luxo que transportavam seus diretores desapareceram. Uma das missões da atual gestão é localizar o que desapareceu, segundo determinação do governador Gladson Cameli.
Além desta missão espinhosa, os atuais diretores, Ítalo Medeiros, presidente, e Flávio Silva, diretor administrativo e financeiro, vêm se esforçando para recuperar a credibilidade da autarquia, principalmente em relação aos seus prestadores de serviços, empresários que locam máquinas e tratores e os caçambeiros que alugam seus bens. “Esforçamo-nos para que não haja aquelas ações de impedir a entrada e saída dos diretores em piquetes”, disse o diretor da entidade, Ítalo César Soares de Medeiros, de 44 anos.
Filho dos ex-deputados Maria das Vitórias e João Tota (já falecido), ele é engenheiro civil formado pela Universidade de Uberaba (Uniube), pós-graduado em Pavimentação, curso que aconteceu nas dependências do Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DEER/MG), que é a maior referência do país quando o assunto é rodovias estaduais. Também é pós-graduado em Gestão Pública com ênfase em Controle Externo.
De volta ao Acre em 2.000, ingressou no quadro funcional do Estado, mas trabalhou na Empresa Municipal do Urbanismo de Rio Branco (Emurb), Superintendência de Trânsito de Rio Branco (RBtrans), no Departamento de Trânsito do Acre (Detran) e na Agência Reguladora de Serviços Públicos do Acre (Ageac).
Sereno, competente e dedicado, Italo Medeiros é a imagem e semelhança de sua mãe, numa clara demonstração de que, como diz o ditado popular, “o fruto não cai longe da árvore”. A seguir, os principais trechos de uma entrevista exclusiva ao portal ContilNet em que ele fala de suas atividades para tentar recuperar a autarquia:
ContilNet – Como o senhor encontrou essa autarquia que já foi considerada a mais estratégica do governo?
Ítalo Medeiros – Quando o governador me convidou, a primeira coisa que ele me pediu foi para resolver a pendência dos recursos dos ramais, aqueles R$ 94 milhões que iriam voltar para a União, caso a gente não fizesse alguns procedimentos. Aqui existiam e existem muitos problemas, principalmente dívidas, inclusive eu não entrei no primeiro dia de trabalho porque tinha protesto de caçambeiros. Também encontramos o maquinário sucateado. Em todos os locais desse estado, não existia uma única máquina funcionando. Fizemos uma força-tarefa e recuperamos cerca de 70 máquinas, que já estão trabalhando nos ramais. Só em Rio Branco já beneficiamos mais de 350 quilômetros. Estamos trabalhando como esses equipamentos apenas em Rio Branco e Cruzeiro do Sul. Nos demais municípios, o governador preferiu firmar parcerias por meio do programa Ramais do Acre.
Qual é a avaliação que o senhor faz desses 11 meses de gestão?
Eu não esperava chegar aonde chegarmos este ano. Estou muito satisfeito. Tínhamos um cenário de R$ 27 milhões de dívidas e 10 milhões de orçamento. No próximo ano, esse orçamento será triplicado. Esses R$ 10 que a gente tinha corresponde a 14% do pior orçamento dos últimos 20 anos. Estamos organizando um leilão para nos desfazermos das máquinas inservíveis e estamos licitando R$ 50 milhões em novos equipamentos. O governador resgatou a missão de fazer a pavimentação urbana e estamos nos estruturando para isso. Contratamos a Emurb para fazer tapa-buraco e iremos reativar as nossas quatro usinas de asfalto. Tenho, ainda, muito orgulho em te informar que 70% dos servidores do quadro efetivo ocupam cargos de chefia.
O senhor pode explicar a história desses R$ 94 milhões para recuperação de ramais?
Esse recurso é oriundo de uma emenda de 2017. Ele já nasceu com problemas, sendo o principal essa história de ratear com as prefeituras. É um recurso do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) destinado para ser gasto nas cadeias produtivas, com destaque para a produção leiteira. Incluímos os suínos e inicialmente a farinha. Esta tipologia produtiva não se enquadrou nas exigências. Quanto à efetiva liberação, já ultrapassamos algumas barreiras e, antes do dia 14 de novembro, estaremos com esse recurso totalmente disponível.
Fale-me sobre o programa Ramais do Acre
Só este ano, abrimos mais três mil quilômetros. Também, neste ano, já rateamos cerca de R$ seis milhões com os municípios, pois, como sabemos, os ramais são responsabilidade desses entes. O governo foi eleito com o discurso de abrir o estado para o agronegócio. Quando se usar esse termo, lembramo-nos logo de abertura de ramais. Nesse programa, cerca de 30% dos recursos são utilizados para recuperar o maquinário das prefeituras.
Como está se dando a parceria com a Sepa que é a Pasta responsável em alavancar o agronegócio?
A gente trabalha de forma afinada. A Sepa tinha uma estrutura de tratores e passou para nós. Quem indicou os ramais da cadeia produtiva foi essa secretaria. Temos que ouvir quem sabe dos problemas e aponta as soluções. Ao todo, a nossa malha viária de ramais no Acre corresponde a dezoito mil quilômetros.
É possível o governo recuperar todos esses ramais em quatro anos?
Ítalo Medeiros – Jogando limpo, dificilmente. Nós fizemos essa conta e dá cerca de R$ 6 bilhões, valor que corresponde à arrecadação do estado durante um ano. Volto a lembrar, os ramais são de competência dos municípios. Ah, sim, esqueci de acrescentar que as estradas ligando um município a outro são de nossa responsabilidade.
Qual o trabalho que o Deracre está fazendo nos municípios isolados?
Ítalo Medeiros – Em Porto Walter, particularmente, trabalhamos esse ano na ligação terrestre desse município com Rodrigues Alves. Se depender da gente, a ligação vai acontecer. Nossa equipe ficou dez dias na mata fazendo o inventário de supressão (catalogação da fauna), que é uma exigência ambiental. Também ligamos por estrada Feijó com o município amazonense de Envira. Também começando a fazer a ligação de Jordão com Marechal Thaumaturgo. Em todos os isolados, estamos fazendo um trabalho de recuperação das pistas de pouso, que serão ampliadas e os terminais revitalizados.