O Comitê Chico Mendes está buscando recursos, por meio de uma vaquinha online, para realização da Semana Chico Mendes deste ano, em Rio Branco e Xapuri, no Acre, entre 15 e 22 de dezembro. Acesse http://vakinha.com.br/vaquinha/semana-chico-mendes. A meta é alcançar R$ 20 mil e, assim, garantir diversas atividades que debatem e trazem reflexões sobre o legado do líder seringueiro para o mundo.
A Semana é organizada pelo Comitê desde 1993 e já se tornou uma data tradicional no Acre, que reúne importantes personagens da história ambiental e da agricultura familiar, tanto do Brasil quando de outros países. A abertura ocorre sempre com a entrega do Prêmio Chico Mendes, que tem o caráter de reconhecimento a pessoas e instituições que sempre contribuíram com suas ações para o bem estar da floresta e seus povos.
Este anos as atividades aconteceram parte na Universidade Federal do Acre e parte em Xapuri, cidade do líder sindical Chico Mendes. “É assim, juntos, que mantemos a memória de Chico viva, compartilhado histórias e encabeçando suas lutas e sonhos por um mundo justo”, afirma Angela Mendes, filha do líder seringueiro e presidente do Comitê Chico Mendes.
Para Angela, a Semana Chico Mendes é também um momento para fortalecer a luta social e ambiental. “A gente precisa estar unido e mostrar para o mundo que não estamos mais lá na década de 70 e 80, em que se matava trabalhador a torta e a direita. A gente avançou no tempo e se fortaleceu, temos que garantir as conquistas socioambientais e lutar por um Estado que apoia trabalhador e trabalhadora rural nesse país”, declara.
Luta pelos Povos da Floresta
Passaram-se 30 anos da morte de um dos símbolos da cultura acreana. Em 1988, o seringueiro Chico Mendes foi assassinado por lutar junto de companheiros e familiares pelo sonho de viver bem na floresta amazônica. Sua história é a própria imagem da construção social do Acre, com a chegada traumática de brasileiros às florestas amazônicas, conflitos com os povos originários e luta de uma gente pela vida, pela terra e pela formação de um território com identidade própria.
Uma das mensagens de Chico era a união dos povos, mostrando que nordestinos e índios eram vítimas da mesma força do capital, dos mesmos patrões e a inexistência de um governo que lhes desse atenção. “Por mais de 100 anos, o seringueiro nunca teve o direito de ir a uma escola. O nosso ABC, com nove anos de idade, era pegar numa lâmina e aprender a cortar a seringueira para ajudar nossos pais e a produção de borracha do patrão”, afirmava o sindicalista. A partir de uma de suas últimas palestras, proferida em 1988 na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP), é possível ter um retrato de sua luta naquele momento, que já vinha sendo traçada há anos.
Ao ganhar o prêmio da Organização das Nações Unidas (ONU), Papel de Honra Global 500, entre 1987 e 1988, Chico mostrou para o mundo o conflito que ocorria no Acre até aquele momento, com a expulsão de milhares de seringueiros de suas terras, de suas casas onde viviam há mais de 50 anos, por vezes. Até aquele momento, o sindicalista Wilson Pinheiro já havia sido assassinado em Brasileia, também por estar à frente da luta dos trabalhadores rurais.
Chico seria o próximo a ter o sangue derramado, mas em sua fala o medo não tinha vez, apenas a esperança de que seus ideais dessem uma vitória para os moradores da floresta. “Nós não tememos a morte, porque se matam um de nós, temos cem, duzentas, trezentas lideranças para tocar o trabalho para a frente. Hoje tem milhares de Chico Mendes e outros companheiros”, afirmou.
O objetivo de sua mensagem ao mundo era que cada um que ouvisse sensibilizasse outras pessoas “nesta grande causa que nós defendemos. Pois a Amazônia é uma questão que interessa a todo segmento da sociedade brasileira”. Ao pontuar, de forma objetiva, a visão de sua gente para a vivência nas matas, Chico Mendes explicava o conceito de criação das Reservas Extrativistas, modelo de gestão territorial criado naquela época por diversos companheiros da sociedade que conheceram a luta dos seringueiros.
“Nós não queremos transformar a Amazônia em um santuário, o que não queremos é ela devastada. Por isso, além da luta pela defesa da floresta, começamos a apresentar uma proposta alternativa para conservação da Amazônia”, dizia.