Ocorrências de picadas de cobras venenosas aumentam na região do Iaco

Mais que dobrou o número de acidentes com picadas de cobras na região do Iaco, principalmente na zona rural do entorno do município de Sena Madureira. A informação foi dada, na manhã desta segunda-feira (18), pelo diretor do hospital João Câncio, Jairo Cassiano, ao revelar que dados da casa de saúde revelam um aumento médio de cinco para dez ou mais acidentes por mês.

A preocupação do hospital com os acidentes é para não permitir a falta de soro antidiofídico no hospital. “Temos feito todos os sacrifícios para não deixar falta este produto exatamente porque percebemos o aumento no número de casos em nosso município”, revelou Cassiano.

O último acidente ocorrido na cidade deu-se no sábado (16). No dia seguinte, o colono Auricélio Leão de Araújo, de 39 anos, deu entrada no hospital regional de Sena Madureira, após ser picado por uma cobra venenosa, na colônia Monte Belo, situada no rio Caeté. Ele foi levado ao hospital graça são trabalho de uma equipe do Corpo de Bombeiros do 6° Batalhão.

Colono picado por cobra no interior /Foto: reprodução

Auricélio Leão mora na zona rural, cerca de  7 horas de viagem de barco pequeno, pelo rio Caeté. A cobra que o picou seria da espécie Jararaca (de nome científico Bothrops), também conhecida como jararaca-da-mata, uma serpente que cresce até 1,6 m, encontrada no Brasil e em regiões adjacentes no Paraguai e Argentina, de veneno letal. Auricélio foi picado por volta a das 19h de sábado (16), quando se dirigia a um igarapé para tomar banho, em sua colônia. Ele foi picado no pé esquerdo, que corria o risco de infeccionar não fosse a pronta intervenção dos Bombeiros.

Jair Cassiano disse que o aumento de acidentes com picadas de cobra na região do Iaco, de acordo com relatos feitos por seus assessores, estão relacionados à época do ano, de  começo de muitas chuvas, quando as cobras costumam circular por áreas maiores em busca de alimentos. Outra causa é que, também neste período do ano, quem mora na zona rural costuma sair com mais frequência para caçar e pescar. “Além disso, a região do Iaco é cortada por quatro grandes rios, e de termos mais de dois mil quilômetros de ramais, todos habitados. À medida que a população rural cresce e avança sobre a floresta, está indo ao encontro do habitat natural dessas serpentes”, disse Cassiano.

No último ano, serpentes causaram 129 mortes por ano no país, informou o pesquisador Paulo Sérgio Bernarde, doutor em zoologia e que leciona na Universidade Federal do Acre (Ufac), em Cruzeiro do Sul.  Suas pesquisas e livros publicados apontam que no Brasil existem 380 espécies de cobras, das quais 61 são peçonhentas, praticamente todas com ocorrência na Amazônia. Em todo o Brasil, são notificados em torno de 29 mil casos por ano de acidentes envolvendo serpentes, com uma média de 129 óbitos. Os dados, do Ministério da Saúde (MS).

Em relação aos acidentes ofídicos, o professor esclarece sobre os cuidados que se deve ter com as vítimas. Primeiro, segundo ele, é necessário  tranquilizar a vítima e não fazer garrote ou torniquete no membro afetado.”Não se deve fazer sucção porque só piora a situação, também não se deve colocar substâncias, nem deve ingerir bebidas alcoólicas, até em cidades grandes, chegam pessoas intoxicadas porque beberam querosene. Limpar com água e sabão ajuda, se isso não for atrapalhar a pessoa a chegar no hospital”, explica.

O professor desmistifica ainda a questão da vítima poder ou não beber água, antes do atendimento. “No caminho ao hospital, é importante ir bebendo água. Existe uma crendice que temos no Acre, Rondônia e Amazônia que quem foi picado por cobra não deve beber água. Pelo contrário, tem que beber água, porque uma das coisas que a pessoa pode morrer é insuficiência renal”, acrescenta.

Bernarde falou também da necessidade de, se for possível, levar o animal que causou o acidente, ou uma imagem dele, para que seja identificado com mais velocidade o melhor tratamento para a vítima.

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