Pai de vítima sobre acordo do Flamengo: ‘Queria ver meu filho feliz’

Alvo de reclamações da maioria das famílias dos 10 jovens mortos no incêndio no Ninho do Urubu, há um ano, o Flamengo conseguiu costurar um acordo com três famílias, além do pai de um dos meninos. Se grande parte está indignada com a postura flamenguista, há, por outro lado, quem isente o clube de culpa e aceitou o que foi proposto.

É o caso de José Lopes Viana, pai de Rykelmo, que morreu aos 16 anos e faria 18 no próximo dia 26. “Queria ver meu filho feliz. Queria resolver esse problema logo. Então, aceitei fazer o acordo. Fiz o que era bom para mim e não ligo para o que falam”, justificou o cabeleireiro, que mora em Limeira, no interior de São Paulo.

Até agora, além do pai de Rykelmo, o Flamengo pagou indenizações para os parentes de Athila Paixão, Gedson Santos e Vitor Isaias. Há uma cláusula de confidenciabilidade que protege a divulgação dos valores pagos.

José Lopes Viana é divorciado da mãe do garoto, Rosana Souza, que foi a primeira a entrar na Justiça contra o clube. Ela pede, além da indenização, a anulação do acordo feito com o ex-marido. Ele, por sua vez, entende que há pessoas que estão interessadas apenas no dinheiro. “Acho que tem gente querendo levar vantagem nessa situação. Tem pessoas que querem enriquecer às custas do Flamengo”.

Logo após o incêndio, o Flamengo passou a pagar R$ 5 mil por mês para cada família. Em dezembro, a Justiça do Rio determinou que o clube desembolse a quantia mensal de R$ 10 mil a cada família por sua perda e que inclua na sua folha de pagamento três outros jovens que ficaram feridos na tragédia. O pagamento deverá ser feito até que sejam definidas as indenizações definitivas. A decisão foi concedida liminarmente a pedido da Defensoria Pública e do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, em processo que está correndo na Vara Cível da Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio.

Por enquanto, Josete Valda Adão foi a última a dizer sim à proposta de indenização do Flamengo. O entendimento entre as partes se deu em outubro do ano passado. Ela é avó do atacante Vitor Isaías, mas tinha a guarda do menino e o tratava como filho, já que o criou desde os oito meses de idade.

“Fiz o que tinha que fazer. Comprei minha casa e o meu carro, que eram sonhos dele (Vitor)”, argumentou Josete. “Se disser que estou bem é mentira. Vivi um tratamento de saúde, sinto muita falta do meu filho, mas já determinei que não vou dizer que sou infeliz porque ele não queria me ver mal”, acrescentou.

Josete entende que o fogo que consumiu o container onde dormiam os dez garotos foi uma fatalidade e que o Flamengo não tem responsabilidade pelo incêndio.”Para mim foi uma fatalidade. Vou continuar minha vida. Quem sabe nossa hora é Deus”, disse. “Não me arrependo de fazer o acordo. Estou consciente de tudo o que fiz. Não tem nada que pague (a vida do meu filho), mas não adianta eu chegar lá e pedir milhões e milhões”.

Um dos motivos para ela ter aceitado a oferta do clube foi o desejo de não ir à Justiça. Ela é traumatizada com a lentidão no processo do inventário do marido, que ainda não foi concluído. “Tudo que eu não queria era ir para a justiça, ficar esperando anos por uma decisão”.

O Flamengo não entrou em acordo com os familiares de Arthur Vinícius, Bernardo Pisetta, Christian Esmério, Jorge Eduardo, Pablo Herique, e Samuel Rosa. Com a proximidade da conclusão do inquérito policial que apura a responsabilidade pelo incêndio, a tendência é de que mais famílias acionem judicialmente o clube.

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