A Viradouro é a grande campeã do carnaval 2020 do Rio de Janeiro, após 23 anos de jejum. União da Ilha e Estácio de Sá foram rebaixadas.
O G1 acompanhou ao vivo a apuração das notas, que aconteceu na tarde desta quarta-feira (26), diretamente da Sapucaí.
O enredo “Viradouro de alma lavada” falou sobre o grupo das Ganhadeiras de Itaupã, quinta geração de mulheres que lavavam roupa na Lagoa do Abaeté e faziam outros serviços em Salvador em busca da compra de sua alforria.
“[Os carnavalescos] Marcos e Tarcísio corresponderam, conseguiram nos trazer o enredo, dentro de algumas opções. Quando a gente viu esse enredo, a gente se apaixonou, uma história representativa, uma história muito bonita, que nos honrou muito fazer. Tenho certeza que está em festa Itapoã, a Bahia está em festa,” disse o presidente da Viradouro, Marcelo Calil, que também chamou atenção para a renovação dentro da escola desde 2016.
O segundo título da Viradouro no Grupo Especial das Escolas de Samba do Rio de Janeiro foi o primeiro dos carnavalescos Marcus Ferreira e Tarcísio Zanon trabalhando juntos. Eles são casados há quatro anos e assumiram a escola substituindo Paulo Barros, que levou o vice-campeonato para a escola em 2019.
“Me lembro de quando era criança e o primeiro desfile que me apaixonei foi o de 97, com a Explosão do Universo. Poder estar na Viradouro junto com o meu companheiro e trazer o título para Niterói é um sonho realizado. Eu ainda nem estou acreditando, mas estou muito feliz e de alma lavada como diz o enredo”, disse Tarcísio Zanon ao lado do marido Marcus.
A Viradouro contou com apoio de R$ 2,5 milhões da Prefeitura de Niterói. Em nota, o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, comemorou o título e disse que o investimento nas agremiações da cidade gera emprego, renda e movimenta a economia.
Musa da escola, Lore Improta cancelou seu voo de volta para a Bahia para curtir a vitória na quadra junto ao público.
“Eu ia voltar para a Bahia hoje, mas tive que cancelar o voo. Fiz questão de ficar e vim pra cá. Era o mínimo que eu podia fazer por essa comunidade que me abraçou, eu tenho que retribuir. A causa é nobre, somos campeões”, disse.
Quesito a quesito
A Grande Rio liderou a disputa até o 7º quesito, de Mestre-sala e Porta-Bandeira. A partir deste momento, a Viradouro assumiu o primeiro lugar e levou o troféu.
Trajetória no carnaval
Este é o segundo título da Viradouro. A escola de Niterói foi campeã do Grupo Especial do Rio em 1997. Ela ficou anos na Série A. No ano passado, ela foi vice-campeã com um enredo sobre histórias encantadas.
Já a Mangueira, campeã de 2019, ficou na 6º colocação no carnaval deste ano.
Ranking de títulos no carnaval
Com a vitória neste ano, a Viradouro chegou ao seu 2º título no carnaval do Rio de Janeiro, empatando com Unidos da Capela. A Portela é a maior vencedora, com 22 títulos.
Destaques do desfile
O samba tinha influência de afoxé, ritmo baiano, nos batuques e na melodia.
Na comissão de frente, a atleta da seleção brasileira de nado sincronizado Anna Giulia, vestida de sereia, dava mergulhos de até um minuto em um aquário com 7 mil litros de água mineral, representando a Lagoa do Abaeté.
Teve até cocada para o público. Os doces foram distribuídos ao lado das baianas, que representaram as quituteiras. As saias eram bordadas com figuras de abará, tapioca e acarajé.
O desfile mostrou as atividades que as Ganhadeiras exerciam: lavar roupa, carregar e vender água, cozinhar e vender alimentos, costurar, vender bugigangas etc.
Essas mulheres foram exaltadas no desfile como as “primeiras feministas do Brasil”, pela força que tiveram para ir atrás da liberdade e pela importância para a cultura da Bahia.
Foi o primeiro desfile do casal carnavalescos Marcus Ferreira e Tarcisio Zanon juntos na Viradouro.
A cantora Margareth Menezes desfilou como destaque do carro que lembrou as cirandas de roda à beira do mar aberto, uma contribuição das Ganhadeiras à música baiana.
A rainha de bateria, Raissa Machado, pelo sétimo ano na Viradouro, vestiu uma fantasia em homenagem à rainha dos Malês, Luiza Mahin, uma das lideranças da revolta pela libertação dos escravos em Salvador.
O grupo de encerramento se chamava “Lute como uma mulher!”, e levou mulheres negras ligadas à pauta feminista para a avenida.