A professora Ana Paola Silveira, de 36 anos, faz uso da cloroquina contra artrite reumatoide há mais de uma década e, em todo esse tempo, nunca voltou da farmácia sem o remédio. Porém, tudo mudou há quase três semanas, quando o presidente Jair Bolsonaro informou os brasileiros, mesmo sem estudos conclusivos, de que a substância tem potencial para curar a Covid-19, doença causada pelo coronavírus.
Assim que viu o pronunciamento da maior autoridade do Brasil, o marido da educadora a alertou para a possibilidade de o medicamento se esgotar das prateleiras das drogarias de Rio Branco. Dito e feito. Ao ir até uma farmácia perto de casa, a mulher foi informada que o sulfato de hidroxicloroquina havia acabado.
Silveira então correu para outra drogaria mais próxima, porém, novamente, não encontrou a substância que a impede de sentir fortes dores nas articulações. A professora de Língua Portuguesa não desistiu e foi a outras farmácias, mas sem sucesso.
Dias depois, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para evitar a falta da cloroquina nos estoques, enquadrou o remédio no rol dos controlados. A educadora consultou sua médica para adquirir a receita e garantir a droga, mas já era tarde demais. Não havia mais o medicamento em nenhuma farmácia da capital.
“Visitei aproximadamente 10 drogarias, entre convencionais e manipuladas, e não encontrei o remédio em nenhuma delas. O único local onde achei a medicação foi em Porto Velho. Isso nunca aconteceu comigo em mais de 11 anos de tratamento”, lamenta a paciente.
No momento em que a entrevista com a educadora foi feita, ela só tinha remédio para uma semana. Silveira teme que até o final desse período não encontre a substância no estoque e volte a sentir dores intensas. Sem a cloroquina, atividades comuns, como andar, pentear o cabelo e vestir roupas se tornam difíceis de serem feitas.
Os estudos sobre a eficácia do sulfato de hidroxicloroquina para tratamento da Covid-19 ainda são preliminares. Pesquisadores e profissionais da saúde não recomendam, até o presente momento, a ingestão da substância para prevenir ou tratar a nova enfermidade, contrariando o que disse o presidente da República. O motivo é que a droga possui efeitos colaterais danosos à saúde.