Os testes da vacina, chamada de NVX-CoV2373, em humanos devem começar em meados de maio na Austrália. O produto final, no entanto, deve demorar pelo menos um ano para chegar às prateleiras. Mas a iniciativa da Novavax é apenas uma entre as várias já encaminhadas para a testagem em organismos humanos.
Vacinas experimentais também estão sendo desenvolvidas por pesquisadores na Universidade de Pittsburgh e na Baylor College of Medicine (ambas nos EUA). Os dois estudos aguardam aprovação da Food and Drug Administration, agência reguladora americana, para iniciar testes em humanos.
— Nós todos estamos tentando fazer algo que praticamente não tem precedentes: acelerar uma vacina no meio de uma pandemia — afirma Peter Hotez, co-diretor do Centro Hospitalar para o Desenvolvimento de Vacinas do hospital infantil da Baylor.
Até o momento não há tratamento ou vacina com eficácia comprovada para a Covid-19. A imunização seria a melhor forma para frear a disseminação do coronavírus, uma vez que fortaleceria o sistema imunológico da população mundial. Há, no entanto, dificuldades: muitas empresas estão encontrando obstáculos na busca por parcerias que viabilizem a produção em larga escala.
— Se houvesse uma vacina, poderíamos sair pela porta de nossas casas confiantes de que não contrairíamos a doença — pontua Gregory Glenn, presidente do setor de pesquisa e desenvolvimento da Novavax. — Por conta disso, todos estão bem motivados e trabalhando para agilizar a imunização.
A equipe da companhia está familiarizada com os esforços envolvendo a criação de uma vacina. A Novavax trabalhou em imunizações experimentais para a Síndrome Aguda Respiratória Grave (Sars) e a Síndrome Respiratória do Ensino Médio (Mers), causadas por outras cepas da família coronavírus. A empresa também tem no seu espólio vacinas contra gripes e vírus respiratórios nas últimas etapas dos testes clínicos.
Riscos e apostas altas
O trabalho começou logo depois que cientistas da China compartilharam o sequenciamento genético do Sars-CoV-2, em janeiro. Os pesquisadores da Novavax usaram um baculovírus, muito usado na terapia gênica e que afeta principalmente insetos, sem se replicar em humanos, para carregar pedaços do material genético do novo coronavírus para dentro das células.
— Nós nunca usamos o vírus de verdade. Mas podemos enganar o sistema imunológico para que ele acredite que está sendo atacado —explica Glenn.
No processo de estímulo imunológico, a Novavax conseguiu atingir um alto índice de anticorpos capazes de bloquear o vírus em testes pré-clínicos. A farmacêutica espera encontrar efeitos similares nos testes em humanos, que envolverão 130 indivíduos adultos e saudáveis — cada um receberá duas doses.
Já Moderna e Inovio estão adotando uma abordagem pioneira. A primeira optou pela tecnologia RNA, enquanto a segunda escolheu a de DNA, ambas com o objetivo de identificar o código genético das proteínas do coronavírus, que facilitam sua entrada nas células. A técnica, no entanto, ainda não foi aprovada e nunca foi utilizada em vacinas até o momento.
Por isso, equipes da Baylor College of Medicine e da Johnson & Johnson apostam em testes semelhantes aos da Novavax, em especial porque essa linha de estudos foi bem sucedida na criação de outras vacinas no passado, inclusive uma fórmula contra o ebola que foi registrada na Europa e utilizada na recente epidemia da doença na República Democrática do Congo.
— Não é uma opção muito chamativa, mas é uma abordagem confiável. Já sabemos como isso funciona — justifica Hotez.
Paralelamente, empresas planejam manter a testagem em animais e investir na capacidade de produção dentro e fora dos Estados Unidos. Serão necessárias milhões de novas doses para os futuros testes clínicos e uma quantidade muito maior caso uma fórmula eventualmente chegue ao mercado.
Entre os cenários de risco para as companhias estão o de fracasso de alguns produtos e a possível queda da demanda de uma determinada vacina se alguma outra se viabilizar para a distribuição ampla antecipadamente. Quem está na linha de frente dos trabalhos, no entanto, garante que estão voltados para a obtenção de resultados.
—O vírus está se dirigindo às áreas urbanas mais densamente populosas, além de favelas no caso de alguns países. Como garantir o isolamento social nessas áreas? É impossível — disse Hotez. — Estamos desenhando um mapa de como os EUA funcionarão como um país nos próximos dois ou três anos. É praticamente o período de tempo da pandemia de gripe espanhola em 1918 e, provavelmente, será o da Covid-19.