Na contramão do movimento encabeçado por líderes evangélicos locais que pedem a reabertura das igrejas, há pastores que se colocam contra a flexibilização em obediência às recomendações sanitárias para evitar a proliferação do novo coronavírus.
Um deles é Cid Mauro de Oliveira, da Igreja Evangélica Congregacional do bairro Manoel Julião. Pastor há 37 anos, o também professor informou que este ainda não é o momento para os fieis deixarem suas casas e se reunirem nos templos.
Ele afirma que sua posição tem o apoio da maioria da congregação, que se reuniu para definir o fechamento da igreja pouco após a covid-19 se espalhar sem controle pelo estado.
“Nossa igreja tem um regime denominado congregacional. Isso significa que todos tomam decisão conjunta. E, por enquanto, nossa decisão é permanecer com os cultos e estudos bíblicos somente via Facebook e Instagram”, disse o cristão.
Oliveira ressalta que, se houver flexibilização, é “uma boa ideia” definir um número de fieis para comparecimento nos cultos. Porém, ainda assim sua igreja não reabriria neste momento. “Particularmente, nossa decisão será sempre seguir as orientações das autoridades do governo. Esta é uma orientação bíblica”.
Com o avanço da covid-19, o governo se viu obrigado a tomar medidas duras, porém essenciais, para evitar aglomerações e impedir a rápida disseminação do vírus no estado. Uma delas foi o fechamento de estabelecimentos não essenciais por meio de decreto. As igrejas de todas as denominações religiosas entraram na lista e tiveram de fechar suas portas.
Trinta por cento
Em reunião por videoconferência na semana passada com o governador Gladson Cameli (Progressistas), o presidente da Associação dos Ministros Evangélicos do Acre (Ameacre), Paulo Machado, defendeu publicamente a flexibilização do decreto para o retorno dos fieis ao templo, com limitação de acesso de 30% mais medidas básicas de higiene.
Embora seja contra a volta dos cultos tradicionais, o diretor-executivo da entidade, pastor Reginaldo Ferreira da Silva, defende que as igrejas retornem com número reduzido de fieis apenas para tocar trabalhos sociais junto às comunidades carentes.
O movimento conta com reforço indireto até mesmo de políticos locais. O antigo nome mais cotado para disputar a prefeitura de Rio Branco pelo Progressistas, Thiago Caetano, que é ex-secretário de governo, também defendeu a reabertura dos templos e chegou a dizer que o melhor remédio para o coronavírus é Jesus.
“Se unam e apresentem uma proposta ao governo para reabrir as igrejas, nos mesmos moldes que estão funcionando os comércios”, instigou o evangélico nas suas redes sociais.
Nesta semana, o governador do Acre sinalizou que pode determinar a reabertura dos templos com o limite de 30% de ocupação dos assentos já na semana que vem, conforme sugerido pela Ameacre. Porém, a execução dependeria do comportamento da pandemia no estado nos próximos dias.
Com quatro recordes no número de novos casos em apenas cinco dias, totalizando mais de 650 infectados, com 24 mortes, Cameli deve voltar atrás no que disse.
“Totalmente contra”
Pastor há mais de 35 anos, um dos líderes da Igreja Quadrangular do bairro Quinze, Afonso Geber, é contra a cota de 30% de ocupação dos templos. Segundo ele, a medida não oferece a segurança que vem sendo vendida por alguns colegas.
“No momento, a maior de todas as precauções é ficar em casa. Não tem essa de 30%. Com a igreja aberta, fica difícil controlar o acesso, pois não são apenas os fieis que entram”, critica.
Ele justifica sua posição citando que no Acre não há número suficiente de hospitais, leitos de UTI, remédios e profissionais de saúde para atender a demanda caso a quantidade de infectados suba vertiginosamente.
“Entendo os pastores que defendem a reabertura, mas enquanto os casos continuarem a crescer eu serei totalmente contra a volta dos cultos. Acho prudente reabrirmos apenas quando a curva de contaminação começar a cair. No Acre, temos tudo para vencer essa pandemia, mas precisamos todos fazer nossa parte”.