Filha de vítima da Covid faz alerta: ‘Não esperem para acreditar só quando número virar nome de algum familiar’

A professora Elza Maria Martins dos Reis, de 65 anos, é uma das mais de 4 mil vítimas da Covid-19 no Rio de Janeiro. Após 20 dias internada, ela morreu com uma parada cardiorrespiratória em um hospital no Centro.

Para a filha e administradora de empresas Fátima Martins, de 30 anos, um dos momentos mais dolorosos da doença foi não poder vestir a mãe para o próprio enterro. Elza deixou três filhos.

“Não tivemos a chance de vesti-la. Esse momento foi muito difícil para nós. Essa doença não nos deixou visitar minha mãe no hospital e falar que ia ficar tudo bem. Ficamos preocupados de ela achar que tínhamos a abandonado por não nos deixarem entrar para vê-la”, lamentou a administradora de empresas.

A professora foi internada no dia 13 de abril, quando os filhos a encontraram desmaiada em casa. Ela havia sofrido um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico.

“Todo cuidado é pouco. Essa doença foi silenciosa na minha mãe, foi do nada que tudo se perdeu. Não é só a morte em si, é o sofrimento que ela traz para o paciente e para a família. Não esperem para acreditar só quando o número virar nome de algum familiar, porque é a pior dor do mundo perder sua mãe para uma doença dessas”, afirmou a filha.

Ao G1, Fátima contou que, segundo os médicos, o AVC foi decorrente da Covid-19. Com parte do pulmão comprometido devido ao novo coronavírus, a professora precisou ser entubada e, no dia 3 de maio, ela não resistiu.

“Ela estava bem e não tinha sintomas. Da noite para o dia, ela amanheceu desmaiada na cama, e meus irmãos correram com ela para o hospital. Minha mãe se preocupava com o vírus. Assim como toda a família, se protegia e não estava mais saindo de casa. Eu e meus irmãos ligávamos todos os dias para saber se ela estava em casa quietinha. Meu irmão fazia as compras e levava na casa dela”, disse a filha.

A professora morreu com uma parada cardiorrespiratória em um hospital no Centro do Rio. — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

A professora morreu com uma parada cardiorrespiratória em um hospital no Centro do Rio. — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Apesar do risco da doença, a professora se preocupou com a comemoração da Páscoa e saiu escondida de casa para comprar presentes.

“Ela foi teimosa e saiu escondida para comprar presentes de Páscoa para a família. Descobrimos isso após sua morte. Mexendo nas coisas dela encontramos os presentes. Foi triste demais, choramos”, lembrou a filha.

A lembrança que fica para os filhos é de uma mãe animada, torcedora do Botafogo, fã dos desfiles na Sapucaí e da Portela e protetora dos animais. Elza fazia festas de aniversário para os cachorros e ainda chamava convidados.

“Como gostava de viver. Dona Elza era a mãe de todo mundo, cheia de saúde, alegria, felicidade e uma pitada de loucura. Ela adorava enviar vídeos de gatinhos de madrugada para todo mundo. Fazia festa para os seus cachorros e ai de quem não fosse para casa dela cantar parabéns”, destacou a filha.

O enterro de Elza foi transmitido para os irmãos que não puderam ir até o Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul.

“Minhas tias e tios queriam muito estar conosco, mas não foi possível devido à idade deles. Só foi a parte jovem da família ao enterro. Fizemos uma chamada de vídeo para que eles pudessem participar de alguma forma de sua despedida”, explicou Fátima.

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