Um ano após ter acusado Neymar de estupro, Najila Trindade ainda sente os efeitos de ter seu nome envolvido num escândalo com um dos mais famosos e caros jogadores do mundo. Depois de todo imbróglio judicial e de perder um dos processos contra o atacante do PSG, a modelo voltou para Ilhéus, na Bahia, para ficar mais perto da família e criar o filho longe dos holofotes e do que ela chama de julgamento social. “Na verdade, a sociedade é assim. Tiram a nossa voz, nos calam, nos culpam e nos fazem parecer loucas por não aceitar situações que nos machucam, e isso acontece há séculos”, avalia.
Não é incomum para Najila passar noites acordada. “Insônia é meu sobrenome”, admite. A rotina hoje, em meio ao isolamento social, não é novidade para ela, que buscou sair de cena quando se sentiu acuada e sozinha. Os dias são divididos entre os afazeres de casa, ioga, meditação e as lições da escola do filho, que está em homeschooling. Das redes sociais acabou fugindo. O Instagram oficial, que se apresenta como ela, é fake. “Foi desgastante e desrespeitoso não só pra mim, mas pra minha família também. Um sofrimento atroz. Cheguei na exaustão do meu físico, emocional, psicológico e principalmente espiritual. Me quebrei e me quebraram por inteiro. Queria dissipar tudo aquilo que estava sentindo e acontecendo, pois foi pesado demais. Precisava de um reset para me reencontrar. Fiquei perdida e confusa. E então, me isolei completamente”, relata ela, que, no entanto, voltou ao Twitter há poucos meses e usa o espaço para publicar salmos, memes e muitas indiretas, além de alertas ativistas sobre violência contra mulher.
O receio em ser apontada novamente está nas poucas palavras que usa para contar como vive hoje. “Vivo um dia de casa vez, reorganizando meus sonhos, minha vida, minha história, minha mente e meu coração”, diz ela, que negocia com uma revista para posar num ensaio sensual, mas sem entrar em detalhes.
Aos 27 anos, Najila diz ter encarado o inferno de frente. “Foi a fase mais difícil da minha vida, embora eu já tenha sofrido antes com abusos físicos, psicológicos e gaslighting (uma forma de abuso psicológico), esse foi, com toda certeza, um período de muita brutalidade e escrutínio público, que me coagiu e aprisionou a sentimentos e emoções extremamente sombrios e negativos”, enumera.
Não à toa, Najila teve que recorrer a antidepressivos e terapia. O tempo livre que teve para refletir e questionar tudo o que viveu serviu para que criasse uma certa casca e uma consciência maior sobre o feminino e o feminismo: “Hoje entendo o porque milhares de mulheres se calam e se submetem a determinadas situações. É um sentimento de impotência perante todo um sistema. É preciso muita força e coragem — e até mesmo uma dose de loucura — para enfrentar tudo isso. E, infelizmente, nem todas têm ou conseguem”.
Na semana passada, o humorista Mauricio Meirelles disparou contra Najila, cogitada a participar de um reality, dando a entender que a modelo se promoveu quando alegou ser vítima de abuso por parte de Neymar. Algo que é direcionado à ela diariamente por pessoas que ela nunca viu. “É como diz aquele velho ditado, ‘o que não te mata, te fortalece’. Me sinto mais fortalecida depois de tudo que enfrentei e superei, embora ainda esteja machucada”, diz.
Sobre Neymar, Najila não fala. Tudo o que deseja no futuro é ter sua identidade de volta e que as pessoas esqueçam seu passado: “Sempre fui honesta com as minhas emoções, tenho o espírito livre e assim ele permanecerá. Enfim, a luta é diária e eu não tenho medo de lutar.E só para não esquecer: meu corpo, minhas regras. Isso ninguém vai mudar”.