Betty Faria recusou remake de ‘Roque Santeiro’ por ódio à Porcina

O ódio à viúva Porcina foi a explicação da atriz Betty Faria para ter recusado participar da segunda versão da novela “Roque Santeiro”, levada ao ar pela Globo entre junho de 1985 e fevereiro de 1986.

“Eu achava ela de quinta. Era uma pessoa detestável. Ela hoje estaria naquele grupo que fica na frente do Palácio do Alvorada, de bandeira. Detestava ela. Tinha implicância com ela”, afirmou Faria em entrevista na madrugada desta quarta-feira (15), no programa Conversa com Bial (Globo).

A atriz interpretou Porcina na primeira versão da novela, que teve 30 capítulos gravados mas foi censurada pela ditadura militar. Na segunda versão, depois da recusa de Betty, a viúva foi interpretada por Regina Duarte, ex-secretária de Cultura do governo Bolsonaro.

Além do desprezo à personagem criada pelo escritor Dias Gomes, Faria disse que quando gravou as cenas da primeira versão precisava deixar o filho, ainda bebê, em casa. E isso deixou lembranças tristes em sua memória.

Segundo a atriz, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ex-diretor da Globo, ficou “louco” por causa dessa decisão e chegou a cortar relações com ela. “Ele puxava minhas orelhas, mas tinha razão. Eu era rebelde, contestava”, recordou.

Betty Faria lembrou também de sua ótima relação com Janete Clair, que deu a ela várias protagonistas de novelas. “Me achavam muito rebelde, muito diferente. E ela acreditou em mim, deu mocinhas para eu fazer”, disse.

Consagrada como a intérprete de Tieta, personagem libertária de Jorge Amado que foi para a televisão também em forma de novela, a atriz afirmou estar feliz com o sucesso que a obra faz na Globoplay. Para ela, Tieta simboliza a liberdade e a esperança.

Além das recordações, a entrevista de Betty Faria teve um tom político, com críticas à situação do país. “Desconheço o Brasil atual. Espero que tudo isso passe logo e as pessoas voltem a se respeitar, sem essa paranoia: é comunista, é direita…”, disse. Ela também criticou a quantidade de armas que circulam pelo país e prestou solidariedade às mães que perdem seus filhos por balas perdidas.

Falou ainda sobre a falta de recursos para o cinema. Em sua longa experiência representando o cinema brasileiro em festivais internacionais, ela afirmou ter presenciado os filmes nacionais serem bem recebidos

“E aqui no Brasil estão empacados há dois anos”, criticou. “É importantíssimo que o público entenda que o cinema não pega dinheiro do povo. Não é mamata”, ela disse, ao explicar sobre os recursos que são do audiovisual por direito e ao lembrar sobre os empregos gerados por essa indústria.

Betty Faria, artista que começou a carreira como bailarina, contou que cresceu no Rio sentindo orgulho do país. “Quero voltar a ser orgulhosa.”

PUBLICIDADE