“Pais desperdiçam os melhores anos da vida preocupando-se com besteiras”, diz especialista

Agora que sou avô (sim, eu sabia que ter filho, um dia, serviria para alguma coisa), acredito que tenho o direito de dizer a vocês, os que não são mais do que pais… que sinto pena. Dá pena ver como desperdiçam os melhores anos de suas vidas, preocupando-se com besteiras.

Alguns poucos têm, eu sei, verdadeiros motivos para se preocupar. Me perdoe se o seu filho tem leucemia, se precisa operar o coração ou sofre de algum outro problema grave. Mas e os demais, por que se preocupam tanto? Por que vão tanto ao médico e, às vezes, a vários médicos seguidos?

Sobre quais questões se sentem pressionados a buscar tantas informações nos livros, na internet e em revistas como esta? Se o bebê chupa muito as mãos, se o nariz está escorrendo, se o catarro é mais líquido ou mais duro, mais verde ou mais amarelo que o da semana passada, se a cabeça está suando, se acorda à noite, se ele vai se acostumar ou nunca dormirá sozinho.

Se come a verdura, se ainda não nasceu nenhum dente, se ainda não anda, se entorta um pouco o pé ao caminhar, se anda na ponta dos pés, se grita muito, se não quer andar, se faz xixi na cama, se tem uma bolinha aqui na coxa, se tem falta de cálcio.

Se não guarda os brinquedos, não obedece, se rói as unhas, se põe os cotovelos em cima da mesa, se briga, se não come nada, se fala palavrões (uns palavrões que não se sabe de onde tirou porque ninguém em casa fala assim).

E para solucionar esses “problemas” consultam especialistas, fazem cursos e oficinas, usam métodos educativos, compram discos de Mozart para estimular a inteligência, dão à criança ervas ou vitaminas “naturais”, ou gritam com ela, repreendem-na e a colocam no cantinho do pensamento.

Vocês passam aqueles que deveriam ser (ou que estão sendo, mas, às vezes, nem se dão conta disso) os melhores anos de suas vidas preocupados com bobagens sem importância.

Bobagens que, dentro de cinco anos, serão somente piadas, e que dentro de 30 anos serão, se é que alguém ainda vai se lembrar, suas lembranças mais bonitas.

Por favor, não façam isso. As crianças crescem. Todos crescem, crescem sempre, faça você o que fizer. Crescem muito mais rápido do que você esperava. Não crescem porque os esticamos, mas porque o tempo passa. Aproveitem agora que podem. Com mais abraços e menos preocupações com o futuro. Porque o futuro chegará de todos os modos – e, com sorte, trará netos.

Carlos González, pediatra (Foto: Divulgação)

*CARLOS GONZÁLEZ TEM TRÊS FILHOS, É UM DOS PEDIATRAS MAIS FAMOSOS NA ESPANHA E AUTOR DE LIVROS COMO BÉSAME MUCHO E MEU FILHO NÃO COME!

PUBLICIDADE