Rocha acolhe Gladson, mas critica Socorro Neri e avisa que Minoru é candidato

Embora tenha trocado o PSDB pelo PSL há um mês, o vice-governador Wherles Rocha não cortou o cordão umbilical com o partido que lhe abrigou por 12 anos e lhe deu mandatos de deputado estadual e federal, sendo uma espécie de tucano honoris causa.

Prova disso é que sua ida para o PSL – “um sonho antigo” – colocou o partido sob a órbita do PSDB em Rio Branco e fortaleceu a pré-candidatura do tucano Minoru Kinpara para a prefeitura, nome do qual o ex-militar é um grande entusiasta.

Porém, nos últimos dias, não só Rocha como todo o meio político do Acre foram surpreendidos com a notícia de que Gladson Cameli estaria pousando no ninho tucano, sob as bênçãos da diretoria nacional do partido e dos três governadores, entre eles João Dória, de São Paulo.

O governador chega ao PSDB trazendo na cabeça a ideia de costurar uma aliança entre Socorro Neri (PSB) e Kinpara, tendo o ex-reitor da Universidade Federal do Acre (Ufac) como vice. Gladson tem o aval da nacional para mexer os pauzinhos no PSDB à sua maneira. Porém, já avisou que não vai ditar nada e quer dialogar muito.

E conversa é o que não vai poder faltar nesse processo. Minoru e Socorro lideram todas as pesquisas de intenções de votos realizadas até o momento e, por isso, são adversários naturais na pré-campanha.

Gladson agora é do ex-partido de Rocha/Foto: Everton Damasceno

Além disso, a pré-candidatura de Minoru está bem consolidada no PSDB e vai ser preciso muita engenharia política para mexer no time aos 45 do segundo tempo. O próprio Rocha já avisou, em entrevista exclusiva ao ContilNet nesta sexta-feira (31), que não há possibilidade de a candidatura de Minoru ser retirada.

“A candidatura continua sólida, não tem possibilidade jurídica de ser retirada. Pode até haver uma intervenção, mas essa intervenção cairá judicialmente”, avisou.

Na conversa com a reportagem, o vice-governador deixou claro, no entanto, que ficou feliz com a ida de Gladson para seu antigo partido e avaliou a conjuntura pré-eleitoral local. Além disso, informou que botou panos frios na reação da irmã, a deputada federal Mara Rocha, que mandou carta nada amigável para Cameli mostrando quem é que manda no partido.

Confira trechos da conversa:

Ida do Gladson para o PSDB

“Ao contrário de uma meia dúzia dentro do PSDB, eu acho que a vinda do Gladson é muito boa, porque fortalece o partido. Questão de disputa de eleição isso aí a gente vai discutir mais na frente. Ninguém rejeita um governador vindo para um partido. A vinda dele é muito boa, eu já convidei ele a um tempo atrás até mesmo para o PSL e não era brincadeira, era verdade.

Gladson é “bem-vindo” ao PSDB. Será mesmo? / Foto: Arquivo

“Eu já acalmei o pessoal do PSDB todo. Até a Mara Rocha, que estava relutante. Eu entendo a Mara também, é uma construção que veio de cima para baixo. Mas tranquilizei ela. Tranquilizei o PSDB. Eu acho assim que nessa hora a melhor coisa a fazer é baixar as armas todo mundo e comemorar a vinda dele para o partido”.

“É hora de distensionar. Se o Gladson saiu do PP, é porque ele estava vivendo um caos lá dentro, um inferno. Eu não queria que esse inferno viesse para o PSDB com a vinda dele. Eu queria distensionar para que ele tivesse um momento de paz dentro do PSDB”.

Minoru Kinpara

“A candidatura do Minoru não tá no pacote. Ela é fruto de uma decisão da Executiva Municipal de Rio Branco, apoiada pela Executiva Estadual, que são eleitas e que nem nos melhores tempos do Aécio ele conseguiu intervir nelas, muito menos o Dória. Não adianta tentar aproveitar o momento para desconstruir uma candidatura que está muito bem colocada. O Minoru é candidato e isso depende da Executiva Municipal. Não depende da Nacional. E o PSL está fechado nesse projeto”.

Minoru Kinpara em ato de filiação ao PSDB / Foto: Arquivo

“Nossa conversa com o Minoru é bem antiga, vem da eleição anterior. Ele queria ser candidato a senador [pelo PSDB]. Eu também queria e a Mara queria, mas nós abrimos mão de tudo isso para derrotar o PT. Nós renunciamos esse desejo em nome de derrotar o PT e graças a Deus deu certo. Não fosse isso, talvez Jorge Viana fosse senador. E com apoio da Socorro Neri. Eu não votei no Minoru. Voltei no Márcio Bittar e no Petecão, entendeu?”

Apoio de Gladson a Socorro Neri

“Eu particularmente já disse minha opinião: ele tem o direito de apoiar quem ele quiser. Isso não muda ele estando filiado no PSDB. Eu já disse isso pra ele, que ele está filiado a um partido e esse partido tem um grupo político. Ele não vai apoiar ninguém desse grupo político para apoiar alguém que tava em outro projeto?”

“Agora nós precisamos distensionar porque acho que o Gladson precisa nesse momento de paz, porque ele vive um desgaste muito grande. Acho que muito maior do que aquela escolha de vice dele que se arrastou por um bocado de tempo e que ele sofreu muito com aquilo”.

Socorro Neri

“A Socorro está em um partido que é oposição ao Gladson na Assembleia Legislativa. A Socorro estava em uma chapa que era oposição a gente na eleição. O Minoru não tinha candidato a governador. Já a Socorro estava na chapa que tinha candidato a governador, disputando contra a gente, batendo na gente”.

Governador e prefeita: sintonia / Foto: Arquivo

“Eu gosto muito dela como pessoa, tenho o maior carinho por ela. É uma pessoa extremamente amável. Mas politicamente ela desfez tudo que ela construiu. Ela tinha um discurso anti-petista e do dia para noite ela virou petista 100%, aí depois desvirou de novo. Então ela vai muito ao sabor da conveniência dela. Eu sempre tive lado. E nunca fiquei em cima do muro. Se o Marcos Alexandre tivesse ganhado a eleição, a Socorro não teria abandonado PT. Não tenha dúvidas disso”.

Relação com Gladson

“Essas especulações sobre quem vai chegar mandando e quem não vai chegar mandando são ruins para todo mundo. Essa coisa de dizer quem manda mais, se eu vou ficar mandando, não vou ficar mandando, vai acabar com alguém desmoralizado. Esse não é o momento de esticar a corda, de ver quem tem mais força ou menos força”.

“Eu acho que esse tensionamento vai gerar desgaste para todo mundo, principalmente para o Gladson. Porque ele tá no olho do furacão de novo. Do PSDB eu segurei, já consegui contornar, mesmo não sendo mais do partido. Mas não me interessa desgastar o Gladson, não tenho nenhum interesse em desgastar ele. Eu acho que a gente tem que ajudar a construir um clima de paz, que é o que ele precisa nesse momento. Ele tá com uma série de situações aí.”

“O espírito é abraçar, acolher, estar próximo. Depois vamos discutir essa coisa de eleição, porque o partido tem um projeto sólido. Eu disse no grupo do PSDB: calma, não fui pro PSL para ver ele menor, fui para fortalecer. E eu acho que esse é o propósito também do governador”.

Rocha muito à vontade em seu novo partido / Foto: Arquivo

Sobre o PSDB

“O PSDB é um partido que eu conheço bem. Passei 12 anos nele. É um partido que tem um estatuto forte. Vocês acompanharam quando o Aécio Neves me tirou da presidência e em duas semanas eu estava de volta. Por que o partido tem situações muito claras de intervenção. O PSDB é um partido grande, organizado, que tem rumo, que tem uma candidata sólida, que tem tudo. Que não vai desfazer a candidatura dele por conta do Gladson”.

Relação com Márcio Bittar

“Lembram que eu não tinha uma boa relação com o Márcio? Hoje minha relação com ele é muito boa, graças a Deus. Nós colocamos um fim em tudo. O Márcio tá fazendo um grande trabalho. Dos senadores nossos, é o que ajuda mais o nosso governo e ajuda muito nessa pauta da integração. Ele comprou a ideia. Hoje a pauta é mais dele do que do governo”.

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