A caminho do Flamengo, Isla virou ídolo após abandono do pai

O Brasil tem mais de 5,5 milhões de crianças sem o nome do pai na certidão de nascimento, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O principal motivo é o abandono paterno de recém-nascidos. Pessoas que não querem assumir os filhos. Este fato não acontece apenas por aqui. No Chile, situação semelhante impactou a vida de Mauricio Isla, que está próximo de ser anunciado como reforço do Flamengo.

Antes do sucesso na Europa e da idolatria na seleção chilena, o lateral-direito viu a mãe, Maria Isla, encarar este drama familiar. Adolescente, engravidou aos 16 anos e viu o pai fugir — e não assumir a criança.

Solteira, enfrentou sozinha as dificuldades da maternidade e teve Mauricio, que quase faleceu devido a uma gravidez prematura.

— Ele [Isla] ficou hospitalizado nos primeiros meses de vida devido a bronquite. Finalmente, com um ano de vida, teve alta definitiva e nunca mais ficou doente — contou Maria, que batizou Mauricio em homenagem ao filho falecido de um casal de amigos, ao jornal chileno ‘La Tercera’.

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Isla cresceu nas ruas de Buin, uma comunidade pertencente a província de Maipo, ao sul da capital Santiago. Morava em uma casa simples ao lado de um campo de futebol de terra batida. Lá, rapidamente descobriu a paixão pelo esporte e se mostrou talentoso. Aos 11 anos, foi indicado pelo professor de Educação Física, Enrique Carrasco, para fazer um teste nas categorias de base da Universidad Católica.

— Para mim ele é um filho verdadeiro. Ele me chama de pai. Eu não sou biologicamente, mas nos ajudamos e nos respeitamos muito. Então é como se ele fosse. Tenho orgulho de ter estado junto e ver tudo que ele está conquistando — explicou o professor, que apadrinhou Isla durante toda a sua formação.

Ele cresceu, evoluiu e virou uma promessa. Em 2007, após um belo desempenho no Mundial Sub-20, foi contratado pela Udinese e não estreou profissionalmente no Chile. Sem consequências da bronquite prematura, se tornou um jogador de grande imposição física que deixou o país muito cedo. Porém, não esqueceu de suas raízes.

Mauricio Isla (camisa 4) ao lado de Valdívia na seleção do Chile

Mauricio Isla (camisa 4) ao lado de Valdívia na seleção do Chile Foto: HENRY ROMERO / REUTERS

Todo Natal, o lateral-direito retorna ao Chile e vai às ruas de Buin para distribuir presentes às crianças. Ao lado de Claudio Bravo, ex-goleiro do Barcelona e do Manchester City, também ajuda financeiramente com bolsas de estudo aos jovens que desejam entrar em colégios da região.

Isla e Bravo cativaram um carinho tão grande no bairro que duas das ruas foram batizadas com o nome dos atletas.

— Isla, Bravo e jogadores como Arturo Vidal, Alexis Sanchez e Gary Medel estão entre os maiores ídolos do Chile. Eles fizeram parte de uma mudança de geração, que se tornou a mais vitoriosa da história da Roja [seleção chilena] — conta o jornalista Francisco Contreras, que acompanha a carreira de Isla.

O lateral-direito foi eternizado pelo gol marcado contra o Uruguai, na semifinal da Copa América de 2015. Decisivo, levou o clube à decisão do que seria o primeiro título profissional da história do país. Isla é o quinto jogador com mais partidas na história da Roja, com 115, também ergueu a Copa América em 2016 e disputou duas Copas do Mundo.

O Flamengo acertou os últimos detalhes para a contratação de Isla para a vaga deixada por Rafinha. O vice de futebol Marcos Braz e o diretor Bruno Spindel chegaram à Espanha e acertaram o acordo de dois anos e meio – até o fim de 2022 – com o agente do atleta, Arturo Jimenez.

Isla organiza a viagem para o Brasil com a família, ao mesmo tempo em que será submetido a exames médicos. Mas a bateria de avaliações também vai acontecer na chegada ao Ninho do Urubu. A expectativa é desembarcar no Rio ainda esta semana para se integrar ao elenco do técnico Domènec Torrent.

 

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