Quem tenta calar a Globo dá ainda mais poder ao canal; superexposição de Crivella gera ataques

Tentar atrapalhar ou censurar a imprensa é um mau negócio. A ineficácia dessa estratégia está mais do que provada. Ainda assim, há pessoas equivocadas que incorrem no mesmo erro. E pagam caro pela parvoíce. É o caso do prefeito do Rio Marcelo Crivella.

Na segunda-feira (31), matéria de 10 minutos do repórter Paulo Renato Soares, exibida no telejornal local RJ2 e no Jornal Nacional, denunciou esquema com funcionários públicos da administração carioca para impedir o trabalho de equipes da Globo em gravações e entradas ao vivo (os links) diante de hospitais da cidade. “GloboLixoNeles”, escreveu em um grupo de mensagens um dos participantes do sistema.

A repercussão foi instantânea e estrondosa. O JN chegou ao ranking dos assuntos mais comentados no Twitter. O tema gerou críticas e debates em outras redes sociais. Todos os grandes portais de notícias comentaram a tática ilegal para tentar impedir que a verdade chegasse ao telespectador do Rio e do resto do Brasil.

O tiro saiu pela culatra. Crivella conseguiu piorar ainda mais a sua já negativa imagem. O que ele queria tanto esconder — o caos na saúde pública e o desrespeito ao cidadão em busca do direito de receber atendimento médico satisfatório — ganhou publicidade gigantesca no telejornal de maior audiência do país e viralizou na internet. Mais do que um vexame em rede social, o político pode ser responsabilizado pela conduta infame de seus subordinados.

O Ministério Público do Rio (MPRJ) acionou a Subprocuradoria-Geral de Justiça de Assuntos Criminais e de Direitos Humanos e o Grupo de Atribuição Originária Criminal da Procuradoria-Geral de Justiça para investigar a ação do grupo antiGlobo da prefeitura carioca. Os envolvidos poderão ser denunciados por associação criminosa.

A tentativa de prejudicar a Globo apenas deu mais status ao canal. A força da mais influente emissora de TV do Brasil é muitas vezes maior do que a de um político e sua horda. Por ser de direita, evangélico (ligado ao tio, bispo Edir Macedo, da RecordTV e Igreja Universal) e bolsonarista, Marcello Crivella já teve vários atritos com o jornalismo global.

Em dezembro de 2019, em reação a uma série de reportagens a respeito das péssimas condições do sistema de saúde sob sua gestão, ele chamou os profissionais da Globo de “canalhas”, mesma ofensa disparada pelo presidente Jair Bolsonaro algumas semanas antes, em ataque de fúria por conta de uma matéria no JN que o irritou.

Qualquer pessoa, anônima ou famosa, do povo ou da elite, tem o direito de criticar, contestar e cobrar a imprensa. Jornalistas também erram. Mas nada justifica impedir ou coagir a função de reportar. De um jeito ou do outro, cedo ou tarde, a verdade aparece — e sempre se volta de maneira impiedosa contra aqueles que tentaram escondê-la.

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