Xuxa fala abertamente sobre abusos sofridos e do apoio da mãe para não se deslumbrar

Xuxa começava sua carreira como modelo, saindo de trem do subúrbio carioca para fazer fotos e desfiles, quando seu destino seria traçado para sempre numa conversa em família, no apartamento onde moravam em Bento Ribeiro, reunindo suas irmãs, um dos cunhados e principalmente sua mãe. Diante da resistência de que ela seguisse uma carreira, não muito bem vista para a filha de um capitão reformado do exército, Dona Alda foi taxativa:

“Escutem bem, se minha filha engravidar, eu vou cuidar do filho dela. Se ela se prostituir, eu ficarei do lado dela. Se ela se drogar, eu cuidarei dela… Mas eu sei que nada disso vai acontecer, eu conheço a filha que tenho”. Pronto, estava ali decidido o futuro daquela que viraria uma das maiores estrela do país.

A apresentadora relembra o decisivo momento logo no início de seu livro de memórias, que será lançado na próxima segunda-feira pela Globo Livros, e com um dos personagens principais de sua trajetória: Aldinha, como a loira chamava carinhosamente a mãe. Foi ela quem esteve sempre ao lado dela no início da carreira não só como modelo, mas também na televisão.

“Nunca fui preparada para falar o que os adultos queriam que eu falasse. No início, eu era uma modelo brincando com crianças, sem preparo nenhum, mas com uma base de valores muito boa. Nunca fumei, nunca bebi nem me droguei… Não porque eu trabalhava pra criança, mas porque eu nunca achei certo e não queria decepcionar a minha mãe”, afirma Xuxa ao EXTRA.

Xuxa com a mãe, Alda

Xuxa com a mãe, Alda. Foto: divulgação

Estrela eu?

E foi por causa da educação e do apoio dados pela mãe que aquela que se transformaria na Rainha dos Baixinhos acredita nunca ter se deslumbrado. Xuquinhas no cabelo, botas até o joelho e os pés sempre firmes no chão: “Minha mãe sempre disse: ‘Ninguém é melhor que você, mas você também não é melhor do que ninguém’. Cresci com isso na minha cabeça e é assim que eu levo meu dia-a-dia, seja andando de primeira classe ou a pé. Eu nunca me vi como uma estrela, mas fico muito lisonjeada em receber o carinho e respeito das pessoas”.

Mas antes de virar a estrela que virou, sem deslumbres, Xuxa não teve um caminho fácil. A começar pelos xingamentos dos quais era alvo na infância e adolescência. “Riam da minha magreza, dos meus cabelos, das minhas sardas, dos dentões… Cantavam músicas para me ridicularizar, e eu me sentia cada vez mais estranha e feia. Perdi as contas das vezes que chorei, muitas delas na frente do espelho, pois, quando me olhava, só conseguia enxergar os defeitos que eles apontavam — que, na verdade, não eram defeitos”, relata ela num dos capítulos iniciais.

Xuxa com a mãe, Alda, quando passou para o vestibular para Biologia em 1982

Xuxa com a mãe, Alda, quando passou para o vestibular para Biologia em 1982 Foto: Wilson Alves / Agência O Globo

Abusos sexuais na infância

A apresentadora fala abertamente também sobre os abusos sexuais na infância, o primeiro deles com 5 anos. “Num desses soninhos no edredom, me lembro de um cheiro de álcool de alguém, que não consegui identificar, uma barba que machucou o meu rosto e algo que foi colocado na minha boca. Acordei dizendo que alguém tinha feito xixi na minha boca e meus irmãos disseram que eu havia sonhado”, conta, como uma alerta, Xuxa, que relata ainda os abusos praticados por um professor (episódio que a fez mudar de escola), o namorado da avó e um amigo do pai.

Mesmo com tantas traumas, a apresentadora seguiu em frente. Se hoje escrever seu livro de memórias foi uma espécie de terapia nesta quarentena, como ela mesmo conta, antes ela só tinha recorrido à ajuda de um terapeuta uma única vez, mas sem muito sucesso. “Já tentei, por dois meses, quando meus pais se separaram, mas não deu certo”, revela.

Xuxa no colo de Dona Alda

Xuxa no colo de Dona Alda. Foto: arquivo pessoal

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