O que o Setembro Amarelo tem a ver com seu estudo para concursos?

Imagina a seguinte situação: você passa meses (ou até anos) estudando para passar no concurso dos sonhos. Abdica de tempo com amigos e familiares, limita as horas de lazer e há tempos não sabe o que é ter férias. E, quando chega o grande dia da prova, branco total!

Passar por essa experiência é mais comum do que se imagina. E essa é apenas uma das inúmeras situações que podem acontecer com o candidato que já atingiu níveis elevados de ansiedade.

Até o ano passado, a ansiedade patológica já afetava cerca de 18,6 milhões de brasileiros, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Em casos mais graves, o transtorno pode evoluir para um quadro de depressão.

No mês de setembro, as discussões em torno das doenças psicológicas, que são fatores de riscos para o suicídio, ganham destaque com a campanha #SetembroAmarelo. O intuito dessa iniciativa é, justamente, identificar sinais de alerta e incentivar a prevenção ao suicídio.

Mas o que a campanha #SetembroAmarelo tem a ver com a sua preparação para concursos públicos? Folha Dirigida conversou com o médico psiquiatra e neurocientista Pablo Vinícius, que falou um pouco sobre o assunto e deu dicas para quem quer melhorar a saúde mental. Confira!

Candidato estudando
Problemas de rendimentos nos estudos podem estar
relacionados à ansiedade (Foto: Divulgação)

Candidatos têm alto risco de sofrer transtornos de ansiedade

De acordo com o neurocientista, a saúde mental e a preparação para concursos são assuntos intimamente relacionados, considerando o nível de estresse diário ao qual os candidatos estão submetidos.

“A pressão psicológica é muito grande. Os alunos estão mais próximos e com risco maior de ter transtornos depressivos, ansiedade, insônia e de usar algum tipo de medicamento. Setembro é um mês que nós trazemos para o centro do debate a importância da ajuda profissional e do diagnóstico e como isso auxilia no rendimento das pessoas”, destacou.

Um dos primeiro cuidados que o candidato deve ter quando está estudando para um concurso é em relação ao ambiente familiar. Muitas pessoas costumam sofrer pressões durante o período de preparação. A dica para não se deixar abalar muito com as opiniões alheias é usar a técnica do isolamento emocional.

“As palavras não podem te ferir tanto, te machucar tanto, te perturbar e te desestabilizar. Você precisa ter foco. E uma das principais formas de focar é esquecer as pessoas que estão ao seu redor. Isso não significa ser frio ou calculista, isso significa controlar as suas emoções: sentir tristeza quando tiver que sentir, sentir alegria quando tiver que sentir”, explicou.

Momentos de lazer são importantes para o rendimento

Também é comum ver os candidatos abdicando de momentos de lazer e momentos em família para estudar. Mas, na opinião do doutor Pablo, isso é um grande erro.

Isso porque essa atitude pode impactar diretamente na saúde emocional do futuro servidor. “Nós precisamos de equilíbrio na vida”, alertou.

O psiquiatra explicou que ao investir na saúde mental, o candidato está aumentando seu rendimento cognitivo, daí a importância das atividades de lazer. Segundo Pablo, o esforço deve ser aliado à eficiência para o atingimento do sucesso.

“O que adianta estudar quatro, cinco horas e absorver uma ou duas? Eu chamo isso de esforço de tolo. Pessoas que se esforçam, mas não obtém resultados porque, na verdade, não têm rendimento. Não só estude, tenha equilíbrio na sua vida.”

Como frear os impactos da ansiedade no seu rendimento nos estudos?

Não há dúvidas de que o nível excessivo de ansiedade é capaz de prejudicar o candidato em seu desempenho. Normalmente, a ansiedade em níveis patológicos apresenta sintomas, como palpitação, tremores, dificuldade em relaxar, irritação, insônia e até distúrbios alimentares.

“Esses sintomas caracterizam a ansiedade como sendo patológica e que precisa de ajuda e tratamento. Nesse nível de ansiedade, as pessoas começam a ter seríssimos prejuízos cognitivos, na inteligência e na absorção do conhecimento.”

E o que pode ser feito para frear os impactos da ansiedade excessiva no seu rendimento? O neurocientista listou cinco dicas que os candidatos podem incluir desde já no seu dia a dia para lidar com essa ansiedade:

  1. Atividade física: essa é a forma mais prática de aliviar a tensão e diminuir os níveis de ansiedade;
  2. Sono: segundo o neurocientista, cada hora de sono é importante para o controle das emoções e para o aprendizado;
  3. Meditação: diversos estudos científicos já comprovam os efeitos da meditação para a ansiedade. “Não faça de qualquer jeito, estude, aprenda, invista nisso. Você estará investindo na sua inteligência e na sua capacidade de aprendizado.”;
  4. Psicoterapia: é importante ter um profissional que o ajude a tirar de dentro de você seus medos, suas angústia, seus receios e inseguranças;
  5. Alimentação: existem alimentos que aumentam a ansiedade, desde o café em excesso, a psicoestimulantes (energéticos). É importante equilibrar o consumo desses alimentos na dieta.

Quando procurar ajuda profissional?

As mudanças na rotina podem ser suficientes para ajudar boa parte das pessoas a equilibrarem os níveis de ansiedade. No entanto, em alguns casos será necessário requisitar a ajuda profissional. Mas, como identificar isso?

Em primeiro lugar, a pessoa que está se sentindo triste e ansiosa deve comparar o que ela está sentindo com o que está vivendo e analisar a chamada proporcionalidade. Para isso, pode-se fazer a seguinte pergunta:

► Uma pessoa que está vivendo o que você está vivendo poderia sentir o que você está sentindo?

“Um sentimento é normal se ele é proporcional ao que está causando ele. Por exemplo, se seu filho está na UTI entre a vida e a morte, você vai ter um grau de tristeza compatível com isso. Que é diferente da tristeza quando seu filho cai de uma bicicleta e quebra o pé, que é diferente de uma tristeza quando você recebe uma resposta negativa no trabalho. A intensidade dos sentimentos são diferentes e proporcionais aos estímulos.”

O psiquiatra destacou que a doença caminha em direção à desproporção: sua tristeza é constante; você não se alegra mais com nada, até com aquelas coisas que te deixavam felizes. Isso é característico da depressão.

Já a ansiedade patológica pode ser percebida quando a pessoa não consegue mais relaxar e permanece nesse estado ansioso durante todo o dia.

“Você pode ficar o dia inteiro sentado no sofá, mas parece que você está pilhado, você não descansa mais. Esses são sintomas típicos de uma ansiedade patológica. Isso já não está dentro de um contexto adequado para o dia a dia de uma pessoa.”

Outro sinal de alerta é quando o que você está sentindo já está interferindo na sua produtividade. Isso pode ser observado, por exemplo, quando seu rendimento já caiu muito, você não consegue mais ir para a aula ou trabalhar, você já está deixando de comparecer no seu círculo social para encontrar os amigos.

“Esse comprometimento da sua produtividade e funções também é indicativo de que algo esteja errado. Então é o momento de procurar ajuda. Não tenha medo de procurar ajuda para sua saúde mental, nós estamos aqui para isso. Se perceba, analise suas emoções. O normal é sentir as coisas certas, no tempo certo e na intensidade certa. A patologia é quando isso está fora de lugar”, alertou.

Como manter os níveis de ansiedade normais durante a pandemia?

Com a pandemia do novo Coronavírus, quando o distanciamento social virou regra numa tentativa de conter o avanço do contágio por Covid-19, os índices de ansiedade aumentaram. Muitas pessoas que estão se preparando para concursos públicos sofreram esse impacto e viram seu rendimento diminuir.

O doutor Pablo ressaltou que essa situação é absolutamente entendível. A pandemia alterou a rotina de todo mundo, o que já é suficiente para seu cérebro não funcionar como antes.

“É um momento de muita calma. Não cobre mais do que o seu cérebro pode te dar. É o momento de diminuir essa pressão sobre si mesmo. Nós não estamos vivendo nossas rotinas habituais e saudáveis. Nós estamos fora de contexto.”

Uma dica para enfrentar esse momento é estabelecer uma rotina dentro dessa nova realidade, com horários de dormir e acordar, horário para se alimentar, para trabalhar e estudar. Também é importante reservar um ambiente adequado para estudar, além de cuidar da alimentação, tentando mantê-la mais próxima da que se tinha antes.

Afinal, como manter uma boa saúde mental?

Por fim, Pablo Vinícius orientou sobre como manter uma boa saúde mental.

“Em primeiro lugar, eu queria orientar que você não vai encontrar uma boa saúde mental em uma fórmula pronta, que serve para todo mundo. Ela não é uma receita de bolo, um passo a passo. Saúde mental é estilo de vida saudável.”

O neurocientista reforçou tópicos já abordados. A saúde mental, de acordo com o especialista, está no dia a dia, com a prática de bons hábitos, como se exercitar, ter uma boa alimentação, cuidar do sono, meditar, fazer terapia e nutrir bons laços sociais e familiares.

“Por isso que nós estamos vivendo uma pandemia de doenças mentais, porque as pessoas estão vivendo mal. Elas estão sedentárias, estão se alimentando mal, estão dormindo cada vez menos e o pouco que dormem a qualidade é ruim, as pessoas estão muito estressadas e com dificuldade de gerenciar seus problemas diários, elas estão sobrecarregadas e por isso estão adoecendo.”

Pablo ressaltou que o principal estímulo para uma pessoa viver bem é ter um estilo de vida saudável.

“Isso é algo que todo mundo pode ter. Está nas suas mãos escolher isso todos os dias. Precisa de disciplina e foco, mas os resultados são belíssimos e você vai se sentir muito bem.”

PUBLICIDADE