Biden evita questão sobre a Suprema Corte e ataca Trump sobre ações na pandemia

Ao invés do segundo embate contra Donald Trump, o candidato democrata à Presidência, Joe Biden, teve diante de si nesta quinta-feira um estúdio com eleitores indecisos, o apresentador da ABC, George Stephanopoulos — e muitas perguntas sobre seus planos para o país. O duelo foi cancelado por conta da infecção de Donald Trump pelo novo coronavírus, que também não aceitou um embate virtual. Além dos ataques ao republicano, Biden fugiu de uma questão sobre uma eventual expansão da Suprema Corte, tema que circula entre o meio político desde o anúncio de que Trump iria indicar um nome para o tribunal antes da eleição.

Talvez no momento mais tenso do programa de uma hora e meia de duração, seguiu o roteiro das últimas semanas e evitou responder se levaria adiante um plano para aumentar o número de juízes. Reconhecendo temer retrocessos sociais com a indicação da juíza conservadora Amy Coney Barrett ao tribunal, disse que há grande preocupação na sociedade como um todo — para ele, o próprio processo de sucessão é “incoerente com a Constituição” por ocorrer em meio a uma eleição, quando muitos americanos já votaram.

Por isso, disse que não era exatamente um fã da expansão, mas sugeriu que o modelo atual deve ser reavaliado “diante do que acontecer agora”. Mesmo assim, prometeu uma posição definitiva sobre o tema “até o dia da eleição”.

Coronavírus

Sem correr grandes riscos nas respostas, como era esperado de um candidato com folgada vantagem nas pesquisas nacionais e estaduais, o ex-vice de Barack Obama foi confrontado com uma questão que surgiu no primeiro debate e que faz parte de quase todas entrevistas das quais participou: o que faria se fosse o presidente nesse período de pandemia?

Criticando a demora de Trump para agir, mesmo sabendo da gravidade da doença no começo do ano, Biden reconheceu que só passou a defender medidas mais incisivas, como o distanciamento social, em março, diante das recomendações de cientistas. Para ele, foi um erro a maneira como a Casa Branca delegou aos estados a estratégia da linha de frente do combate à covid-19, enquanto ele, segundo o democrata, adotava uma linha negacionista e até isolacionista.

— Não me lembro de um presidente que, em um momento de crise, não tenha ligado para as lideranças do Congresso, dos dois partidos, em busca de um acordo — afirmou, lembrando do grande número de mortos pela doença nos EUA.

Biden recebeu ainda a mesma pergunta que sua companheira de chapa, a senadora Kamala Harris, ouviu no debate dos candidatos a vice, na semana passada: você tomaria uma vacina recomendada pelo presidente Donald Trump?

Tal qual como a senadora, disse que os cientistas derem o sinal verde, seria imunizado sem problemas, mas que o presidente diz “muitas coisas loucas” sobre a vacina, e que provavelmente ela não estará disponível até o começo do ano que vem.

Sem defender a vacinação obrigatória, afirmou ser necessário trabalhar em um plano para distribuir as imunizações e, enquanto isso não ocorrer, defender o uso de máscaras — algo que não é feito pelo republicano.

— As palavras de um presidente importam. Se um presidente não usa uma máscara, as pessoas podem achar que não é tão importante. —afirmou. — Importa muito o que nós dizemos.

Economia

Uma das maiores preocupações dos eleitores nos EUA é com a recuperação econômica pós-Covid, e Biden defendeu a eliminação dos benefícios fiscais à parcela mais rica da população, com o dinheiro sendo usado para ações voltadas à sociedade como um todo. O democrata voltou a defender seu plano fiscal, apresentado há algumas semanas, que tem como foco manter as empresas americanas dentro dos EUA, gerando empregos de forma local. Mas ressaltou que é necessário dialogar com o Congresso antes de qualquer ação do gênero.

— Algumas coisas você faz através de consenso, não através de ordens executivas. Não somos uma ditadura.

Justiça social

Um dos temas centrais do debate político nos EUA em 2020, Biden defendeu que a melhor forma de melhorar a vida da população negra nos EUA passa pelo aumento de oportunidades educacionais, de trabalho e mesmo pelo acesso ao sistema financeiro. Biden citou uma política chamada de “redlining”, que sistematicamente evita que boa parte dos americanos de baixa renda tenham uma conta bancária ou crédito.

Sobre segurança pública, afirmou ser contra cortar a verba para as forças policiais, mas diss e ser necessária uma mudança de estratégia, com a polícia mais integrada à sociedade, ao invés de forças de repressão. Sinalizou ainda que seu apoio a ações para descriminalizar o uso de drogas.

— Não acredito que as pessoas tenham que ser presas por uso de drogas, mas sim que sejam mandadas para um tratamento obrigatório — declarou, dizendo ser necessário mudar o sistema, passando da punição para a reabilitação.

Meio-ambiente

Em um estado onde a exploração de combustíveis fósseis tem uma participação na economia, Biden evitou defender o fim do fracking, uma atividade vista como nociva ao meio-ambiente. Ao mesmo tempo, apresentou propostas para elevar o investimento em energias limpas, como a solar, um dos pontos centrais de seu plano de governo. Voltou a citar a Amazônia, dizendo que ela absorve mais carbono em um ano do que os EUA emitem no mesmo período, e afirmou que isso mostra como o país deve se mover na direção da energia limpa, especialmente veículos menos poluentes.

Política externa

Nos momentos finais, Biden foi questionado se Trump merecia algum elogio pela sua atuação na política externa. Para ele, os EUA estão “mais isolados que nunca” e que a política de “EUA em primeiro lugar” significam “EUA sozinhos” no mundo. Apesar de sugerir que o recente acordo envolvendo Israel, Emirados Árabes Unidos e Bahrein foi benéfico, afirmou que o país está sem credibilidade no exterior, citando algumas crises internacionais nas quais, segundo ele, Washington se absteve.

O próximo debate presidencial está previsto para o dia 22, e o ex-vice-presidente se disse disposto a participar e a seguir as regras determinadas pela comissão organizadora — incluindo com a realização de testes para a covid-19. [Foto de capa: Tom Brenner/Reuters]

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